Explicações

Paraná Clube se silencia sobre russos, dívidas e novo estádio. Entenda os motivos

Leonardo Oliveira ainda não falou em 2020. Situação do Paraná é só especulada, sem versões oficiais. Foto: Albari Rosa/Foto Digital/Tribuna do Paraná

Entre o fim 2019 e início de 2020, a realidade do Paraná Clube foi arrebatada por informações que pegaram os próprios paranistas de surpresa. Possibilidades que, instantaneamente, despertaram a euforia de alguns e o ceticismo de outros.

A curiosa trama de notícias foi da admissão de falta de previsão para o pagamento de salários atrasados e adiantamento de verbas para quitar contas básicas, como luz e água, ao ambicioso projeto de R$ 100 milhões de uma nova Vila Capanema e o interesse de misteriosos russos em investir no Tricolor.

Os fatos acima, tão dissonantes entre si e ao mesmo tempo tão importantes para o torcedor, deixaram os subterrâneos das reuniões de conselheiros e ganharam a superfície saudável e arejada do debate público sem uma palavra oficial sequer de nenhum integrante da alta cúpula paranista.

Mas acabaram vazando, como eventualmente quase tudo acaba vazando, e continuará vazando, no cenário da dinâmica vida política de um clube de futebol.

Algumas questões

No entanto, qual a viabilidade financeira da Vila versão século XXI? Haveria participação da administração pública, há tempos interessada na revitalização da região? Há investidores? Como um clube em constante crise financeira daria conta de monumental desafio?

E os russos? Quem são? Qual o valor do investimento? Como seria aplicado? Qual seria a contrapartida financeira para os estrangeiros? Qual seria o papel de Felipe Ximenes neste novo Paraná? Quais as garantias de que um dia não voariam novamente de helicóptero para longe de um desamparado Tricolor?

Perguntas justificadas, minimamente exigentes, mas que carecem de qualquer resposta do presidente Leonardo Oliveira.

Russos

O nome da empresa que negocia é Total Sport, sigla TSI. Inicialmente, a TSI agia como produtora de eventos de entretenimento e futebolísticos no Reino Unido e na Rússia, tendo gerenciado, por exemplo, amistosos da seleção russa.

Em seguida, expandiu as ações para o gerenciamento de clubes de futebol. Fazem parte de seu cartel atual o FC Riga, da primeira divisão da Letônia, o Rodina Moscou, da terceira divisão russa, o Pafos FC, da elite do Chipre, e o Teungueth FC, do Senegal.

A título de comparação e guardadas as proporções, atua como uma espécie de Red Bull, nova parceira do Bragantino, que mantém também clubes na Alemanha, Áustria e Estados Unidos.

As tratativas exigem confidencialidade. Os valores do aporte financeiro ainda não foram definidos. Inicialmente, girariam em torno de R$ 12,5 milhões por ano. Este valor já não é mais confirmado. Basicamente, o interesse prioritário dos estrangeiros é nas categorias de base.

Ou seja, é na revelação e venda de jogadores que pode vir a contrapartida financeira. Clube e empresa, por sua vez, acertam detalhes para que os procedimentos não firam a Lei Pelé e as determinações da Fifa, que impedem que empresas sejam donas de direitos econômicos de atletas de futebol.

Felipe Ximenes será o homem forte do futebol paranista em caso de acordo com os russos. Porém, tudo até aqui é um mistério. Foto: Marcelo Andrade/Arquivo

Esta questão e a necessidade de alinhar a parceria às exigências do Ato Trabalhista são o que, neste momento, impedem um desfecho positivo mais veloz. Mais especificamente, a exigência de quitar R$ 2,3 milhões em salários atrasados de 2019 para poder assumir o clube é recebida com frieza pelos russos, que não gostariam de ter de arcar com esta dívida.

Felipe Ximenes, ex-diretor de Coritiba e Flamengo, dentre tantos outros, será o homem forte do futebol, em caso de acerto entre russos e e Paraná. Alex Brasil permaneceria como gerente.

Nova Vila

Construção de uma nova Vila Capanema foi ventilada, mas diversos fatores deixam esse sonho bem distante. Foto: André Rodrigues/Arquivo

A construção de um novo estádio na Vila Capanema ainda é um sonho distante. Neste momento, o projeto ainda depende de uma avaliação em andamento da Superintendência de Patrimônio da União no Paraná, a SPU. Existe uma cláusula de finalidade do terreno, que só pode ser um estádio de futebol.

Terminada a avaliação, a SPU determinará o valor que o Paraná deve à União pela posse irregular do imóvel no decorrer dos anos. O clube terá que pagar este valor, ainda a ser definido, de alguma maneira. Além disso, será definido o valor do aluguel que o Tricolor terá de pagar, mensalmente, para permanecer no espaço do estádio. Ou seja, o clube tem direito à posse, mas pagará aluguel.

O Paraná, por sua vez, tem interesse na compra definitiva do espaço, enquanto a região desperta interesse da administração pública municipal, que projeta revitalizar a região. Interesses mútuos que podem ser debatidos em futura negociação.

O fato é que a questão é absolutamente embrionária. Eventuais investidores apareceriam somente após o desenrolar das tratativas entre Paraná e SPU.

As razões do silêncio paranista

Sobre os investidores estrangeiros, a justificativa é de que as tratativas exigem cláusula de confidencialidade. Ou seja, para se resguardar e até mesmo evitar que algum clube ‘atravesse’ a negociação, o Tricolor precisa manter sigilo, o que é compreensível.

Já sobre o estádio, o motivo do silêncio e falta de explicações é a conhecida aversão à imprensa desenvolvida pelo presidente Leonardo Oliveira desde que assumiu o posto, em 2015.

Apesar da curiosidade da torcida e interesse social do projeto, Oliveira, que receberá R$ 12,5 mil por mês em 2020 para gerir dívidas trabalhistas em acordo com a Justiça (e que no ano passado ganhava R$ 25 mil para a função) se cala. Combustível para mais dúvidas e, novamente, algum ceticismo.

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