Mistura fina

Paciência oriental e ginga brasileira. Esse será o Paraná Clube de 2018

Wagner Lopes sabe que não será fácil, mas, aos poucos, quer colocar a filosofia japonesa na cabeça dos jogadores, mas sem deixar o lado emocional dos jogadores ir embora. Foto: Marcelo Andrade

O novo time do Paraná Clube terá um toque japonês. A influência virá do comandante Wagner Lopes, que viveu mais de 20 anos do outro lado do planeta e é um nipo-brasileiro de cidadania e de coração. A última passagem por lá durou menos de um ano, mas a bagagem veio cheia de experiência e novidades para tentar implantar e ensinar no futebol brasileiro, especialmente no Tricolor. Aos poucos, sem promessa de títulos e com típica paciência oriental, o treinador quer passar seus novos conhecimentos ao elenco paranista.

Do Japão, Lopes traz ensinamentos que vão além do futebol. Ele, que se considerava uma pessoa organizada, descobriu na convivência de outra cultura que tinha muito a aprender.

“Eu falo para os nossos atletas desde o primeiro dia, a sua máquina é o seu corpo, e a sua empresa é a sua imagem. Se você não cuidar dessa imagem bem, você não vai conseguir jogar bem. Então agora vamos pagar o preço, chorar no treino para sorrir nos jogos”, disse.

É comum, no Brasil, ouvirmos falar em incentivo financeiro aos jogadores de futebol, principalmente quando estão em reta final de competição e almejam algum título ou classificação importante, o chamado ‘bicho’. Na terra do sol nascente, o dinheiro não é o mais importante e Wagner Lopes acredita que um dia chegaremos a este patamar por aqui.

“É muito difícil na cultura japonesa você motivar alguém. Dinheiro não é a questão principal. A honra é a coisa mais importante para o japonês. Ele saber que a honra da família vai estar sendo exposta em todos os jogos, porque o sobrenome dele representa a família dele, é uma coisa muito grande. Isso traz ensinamentos para nós” refletiu ele, que cita um exemplo.

“O jogador vai se apresentar para a pré-temporada dia 10, ele sabe que no dia 10 vai estar imprensa, vai estar todo mundo e ele sabe que não vai dar para todo mundo se reunir e ir para o hospital fazer os exames, então ele vai sozinho. Tipo assim, dia 7 está marcado os testes ele vai, faz e chega no dia (da apresentação) e os exames estão aqui, chega no dia já está tudo certo. Ele abre mão de um dia de folga para poder cumprir uma exigência profissional. E aqui no Brasil a gente não consegue isso ainda. Um dia nós vamos conseguir, mas ainda não. Então é muita organização”, completou o treinador.

Quando Wagner Lopes deixou o Paraná Clube, em 2017, o time estava longe de conquistar o acesso para a primeira divisão, inclusive essa não era a pretensão planejada no começo da temporada. Como resultado do bom trabalho feito no Tricolor durante 2017, o time hoje está de volta à Série A. Para esse ano, o discurso segue cauteloso.

“Temos que tomar muito cuidado quando falamos em metas porque é uma coisa muito importante e ao mesmo tempo você não pode prometer uma coisa que você não vai entregar. Porque todo mundo quer conquistar, ser vitorioso, conquistar título, mas nós temos que tem em mente que é uma reformulação”, disse Wagner Lopes.

Ele lembra que o elenco passou por mudanças e poucos jogadores dos 25 que agora compõem o elenco são remanescentes da temporada passada. Todo o restante ainda está em adaptação. O Tricolor já anunciou sete reforços até o momento.

A fórmula com qualidades brasileiras e japonesas será testada durante o ano de 2018. Do Japão vêm as lições da organização. Por outro lado, as fortes relações emocionais dos brasileiros podem fazer a diferença para o sucesso.

“Jogo a jogo vamos fazer o nosso melhor, para buscar vencer, buscar dar alegria ao nosso torcedor, para que nosso torcedor sinta orgulho do nosso time”.

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