As lágrimas do gerente de futebol Marcus Vinícius reabriram feridas que – pelo menos para a opinião pública – pareciam tratadas. O sofrido torcedor paranista já não aguenta mais ver o seu clube do coração associado a dificuldades financeiras e salários atrasados. Uma dor potencializada pelo discurso emocionado do gestor do futebol profissional e que cravou: ‘Se não mudar nada, o Paraná Clube acaba em 2015’. Quando se imaginava uma resposta contundente da diretoria, a reação foi de absoluto silêncio.
‘Temos uma reunião de diretoria e somente depois iremos nos manifestar’, limitou-se a dizer o presidente Rubens Bohlen, confirmando para hoje, às 10h, um pronunciamento. O desabafo de Marcus Vinícius confirmou que o cenário atual do Paraná Clube pouco se alterou ao longo da atual gestão. Quando o grupo de Bohlen assumiu o clube, o Tricolor parecia estar no fundo do poço. Estava relegado à segundona do futebol paranaense e não tinha elenco nem calendário regular para os primeiros meses do ano. Só que de lá para cá, excetuando a volta à elite estadual, o Paraná pouco fez.
Até esboçou uma reação na Série B, em 2013 – quando liderou a competição sob o comando de Dado Cavalcanti -, mas nunca se desvencilhou da crise financeira. O técnico Ricardinho, em 2012 e 2014 chegou a cravar, não com a contundência dada por Marcus Vinícius, que o futebol, da forma como o clube se desenhava, era inviável. Dado Cavalcanti, com o clube numa posição de destaque na Segundona, também trocou uma coletiva por pronunciamento e clamou – em vão – ajuda os “verdadeiros paranistas”. As revelações feitas por Marcus Vinícius soam como mais do mesmo.
Só que desta vez, o quadro é sem dúvida mais preocupante. O ano só está começando e o Tricolor já vive um estado de penúria, com salários atrasados – segundo seu gerente, tem jogador que não recebe há sete meses -, dificuldades para organizar a sua infraestrutura e sequer com condições de bancar as concentrações em jogos realizados em Curitiba. Em dezembro, o presidente Rubens Bohlen confirmou que precisaria de dois a três meses da atual temporada para colocar a casa em ordem.
O tempo passou e o cerco vai se fechando. Na prática, o clube anunciou que pisaria no freio – com folha salarial na faixa dos R$ 250 mil -, mas nem mesmo assim conseguiu exorcizar os fantasmas que seguem arrastando suas correntes pelos corredores da Vila Capanema. Susto após susto resta apenas aos paranistas torcerem por uma solução e, no mínimo, por uma ação firme de seus conselhos diretor e deliberativo. Será?
As palavras de M. Vinícius
“Eu vim fazer um comunicado e dizer que é com tristeza muito grande que eu venho aqui. Na verdade, este é um desabafo. Vocês desculpem minha emoção, mas é que o Paraná Clube chegou em uma situação que não tem mais como. Esse choro meu é um choro de todos os funcionários, de todos os atletas, de todas as pessoas que estão envolvidas no Paraná. Desde a tia da cozinha, desde a tia da limpeza. Eu sou um cara que muitos conhecem. Sou amigo, fiel, não dependo do futebol, graças a Deus, porque fui um atleta de alto nível e consegui a minha vida. Cada lágrima que sai do meu rosto representa um funcionário. Funcionários que não recebem salários há quatro meses, cinco meses. Tem jogador que está há sete meses sem ganhar. Eu posso sofrer represálias, não tem problema, não tem problema. Eu quero dizer o seguinte: que os paranistas se unam. O Paraná vai acabar esse ano. Não tem mais jeito. Eu não me envolvo em política, não me envolvo em nada. Não quero saber de política, tá? O presidente Rubens é uma pessoa super do bem, super do bem. O Paraná não se resume ao jogo. Se resume a uma herança de dez anos, vinte anos. E e,stá se afunilando e está acabando. A Justiça vai tomar tudo do Paraná se vocês não se unirem, paranistas. Vocês se unam, parem de vaidade, a vaidade é a ruína do ser humano, e a vaidade vai destruir um clube chamado Paraná Clube. Vocês não têm noção de a tia da cozinha virar pra mim e dizer que na casa dela não tem comida. Isso é muito triste. Sou pai de família, tenho filhos. Eu quero pedir desculpas se eu tô falando bobagem, se eu tô falando merda, desculpem a expressão. Morreu o pai do nosso segurança, semana passada, e fizemos uma vaquinha para enterrar o pai dele, porque ele não ia conseguir enterrar. Isso é muito triste, muito triste. Ano passado eu dei dinheiro do meu bolso para os funcionários que não tinham como passar o Natal. Quero me desculpar com o presidente e a direção atual, que eu sou fã e amigo deles. Mas se não for feito algo pra amanhã, o Paraná Clube vai acabar.”