“Suportar o insuportável”. A frase talvez resuma o sentimento de Rubens Bohlen em seu último ato como presidente do Paraná Clube. Minutos antes de entregar a carta de renúncia, ele fez um longo desabafo (sem permitir perguntas aos jornalistas) e disse que uma ameaça, partida do ex-diretor da torcida organizada Fúria Independente, João Luiz de Carvalho (o “Quitéria”), foi determinante para o afastamento definitivo do clube. Hoje, Luiz Carlos Casagrande já é o presidente tricolor.
Depois de lutar contra o grupo “Paranistas do Bem”, que prometeu aporte financeiro ao clube caso ele renunciasse, Bohlen ganhou um voto de confiança do Conselho Deliberativo – teria trinta dias para apresentar um projeto para o restante da temporada (ontem seria o 12º dia deste período). Mas, da semana passada para cá, o agora ex-presidente passou a admitir deixar o clube por conta das pressões recebidas.
Poderia ter acontecido na sexta, quando uma carta de renúncia foi escrita. Com a intervenção da cúpula do futebol e do ex-dirigente Celso Bittencourt, Rubens Bohlen topou seguir. Mas até o domingo, dia do clássico com o Coritiba. A manifestação de ontem estava programada para a semana que vem, mas um fato antecipou o desfecho da crise institucional paranista.
Na tarde de segunda, no CT Racco, João Luiz de Carvalho foi “tirar satisfações” (ver matéria ao lado) com os integrantes da direção de futebol. Houve discussão e, segundo Bohlen em seu pronunciamento, ele e seus familiares foram ameaçados. “Foi desumano”, disse um funcionário paranista que acompanhou a confusão. Os dirigentes fizeram um boletim de ocorrências, mas para o ex-presidente foi a gota d’água.
“Ontem (segunda), quando acompanhava o treinamento, fui surpreendido por um dos membros do “Paranistas do Bem” que fez diversas ameaças para mim. O que aconteceu foi muito grave”, disse Bohlen, que leu um texto preparado para a ocasião. O ex-dirigente confirmou o que a Tribuna noticiou na semana passada, de que o decorrer da crise o abalou. “É por isso que estou me desligando desta instituição”.
Depois, Rubens Bohlen fez uma espécie de prestação de contas. “Presidir o Paraná é uma experiência única. Mesmo com as decepções nos últimos tempos, as felicidades foram maiores”, afirmou. Foi às lágrimas ao agradecer aos funcionários e à família, “que teve que resistir a situações que só o amor e o matrimônio são capazes de aguentar”. Chorando, encerrou o discurso e foi embora – mas antes mesmo de começar a falar oficialmente deixou um aviso no ar. “Vou falar com todos vocês (jornalistas) depois. Vou contar o que não pude falar agora”.
Rubens Bohlen disse que foi ameaçado. Foto: Jonathan Campos. |
João Quitéria nega tudo
Além da cenário precário que ficaria as categorias de base, Rubens Bohlen usou outro motivo para justificar sua renúncia do cargo de presidente do Paraná: ameaças vindas de João Quitéria, líder do grupo “Paranistas de Bem” e antigo vice-presidente da Fúria Independente. Revoltado, Bohlen foi à delegacia fazer um BO no período da noite.
No documento, o agora ex-presidente do Tricolor alega que, além de alguns palavrões, Quitéria avisou que sabia onde um dos filhos de Bohlen trabalhava, além de conhecer a residência dele. E, por isso, cobrava que a ,equipe não caísse para a Série C. “Essa pressão é injusta. Diversas ameaças, inclusive, à minha família estão acontecendo nas últimas semanas”, declarou ontem.
Já o ex-vice da Fúria, única organizada do Paraná, confessou que foi ao local, mas se exaltou com o supervisor de futebol, Fernando Leite. “Eu nem sabia que ele estava lá. Eu me exaltei com o Leite, que também se exaltou. Mas não chegou a ter ameaça alguma. Se eu fosse fazer pressão não iria sozinho”, garante.
Além disso, Quitéria alegou que os atuais dirigentes do Tricolor estavam fazendo terrorismo com o elenco paranista, falando que, caso a oposição assumisse, muita coisa mudaria no dia a dia. “O que aconteceu é que estavam falando diversas bobagens em meu nome, de que mandaríamos funcionários embora e que daria tapa na cara de jogador. Fui sozinho lá, apenas fazer cobranças a respeito disso”, defendeu. (Guilherme Moreira)