Greve. Reclamação pelas perdas salariais. Busca de direitos. Desejo de negociar com os patrões. É mais ou menos o que se ouve com triste constância no Paraná Clube. Neste momento, inclusive, os funcionários do estádio Erton Coelho Queiroz estão de braços cruzados, reclamando dos salários atrasados. Em vez de esconder, a diretoria tricolor resolveu abrir o jogo e escancarar mais uma crise – das inúmeras que o clube viveu recentemente por conta das péssimas administrações, a tal “herança maldita” de que tanto falam pelos bastidores.
Por uma coincidência, o Paraná vai hoje a campo em um palco histórico da luta dos trabalhadores brasileiros. O estádio 1.º de Maio, na Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, foi o local de concentração dos metalúrgicos do ABC paulista, sob a liderança do presidente do sindicato da categoria, então apenas Luiz Inácio da Silva, mas que já era conhecido como Lula, o apelido que depois se integrou ao nome do ex-presidente da República.
E foi ao ver uma partida de futebol que Lula pensou em reunir os grevistas em um estádio. “Eu, o Lula e outros companheiros assistíamos a um Corinthians e Guarani no Morumbi quando o Lula disse: ‘O dia em que a gente fizer uma assembleia com um tanto assim de gente, nós vamos virar este país de ponta-cabeça!’”, disse em 2009 o deputado federal Devanir Ribeiro (PT-SP), companheiro do ex-presidente no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Em 13 de maio de 1979, aconteceu. “Convocamos pela primeira vez a assembleia para o estádio de Vila Euclides. A primeira impressão que eu tive quando cheguei foi do Morumbi lotado em dia de jogo”, contou Lula em depoimento ao site ABC de Luta. Foi um marco das grandes greves do período, que desafiaram a ditadura militar.
Trinta e cinco anos depois, o estádio de Vila Euclides é apenas a casa do modesto São Bernardo. Mas o que se discutiu ali segue ecoando em todo o País – inclusive no clube que hoje é o adversário do Bernô na Copa do Brasil.
