Emoção, raça, superação e muito, mas muito mesmo, sofrimento. Assim foi a tarde de domingo para a grande nação que ama e torce pelo Tricolor paranaense. De forma heróica, o Paraná Clube arrancou um empate salvador diante do Figueirense, em Florianópolis, por 2 a 2, e conseguiu se manter na primeira divisão do futebol brasileiro para a temporada 2003.
Com o resultado de ontem, o Paraná encerrou sua campanha no Campeonato Brasileiro de 2002 sem vencer fora de Curitiba. Ao longo dos 25 jogos, conquistou 28 pontos, com oito vitórias quatro empates e 13 derrotas, marcou 37 gols, sofreu 42, totalizando um saldo negativo de cinco gols.
Ao final da partida, jogadores, comissão técnica e dirigentes invadiram o gramado para festejar a permanência da equipe na primeira divisão. Em reconhecimento, a festa no Orlando Scarpelli se encerrou no alambrado do estádio do Figueirense, para comemorar com a torcida que viajou até a capital catarinense para prestigiar o time e viram seus ídolos se superar e conquistar o resultado que interessava.
O jogo de ontem foi recheado de emoção. Os catarinenses entraram em campo com a tranqüilidade de quem já estava com a vaga garantida na elite do futebol. Os paranaenses fugiam do rebaixamento e ainda dependiam dos outros jogos.
O time paranista foi para o tudo ou nada e mostrou um bom volume de jogo, mas quem saiu na frente foi o Figueirense. Lino, ao tentar um cruzamento e beneficiado pelo vento, que levou a bola para dentro da rede. Na seqüência, o Paraná foi para cima, criando oportunidades de empatar. Mas em tarde inspirada, o goleiro Édson Bastos fechou o gol do Alvinegro catarinense evitando, em dois chutes de Márcio e Maurílio. Quando já merecia o empate, novamente foi o Figueira quem marcou. Thiago Gentil em jogada individual invadiu a área e chutou no ângulo, sem chances para Marcos.
No intervalo, Caio Júnior tirou Cesar Romero e colocou Alexandre, colocando o Tricolor à frente. Mas o segundo tempo começou morno. O Figueirense satisfeito, não procurava o gol, enquanto o Paraná ia vendo o tempo passar e cada jogador tentando resolver sozinho.
Mesmo sem armação tática, o Paraná conseguiu empatar a partida graças a Maurílio. Ele invadiu a área adversária, acertou a trave e na volta Fabinho ia marcar mas Cláudio, que substituiu Márcio Goiano, tirou a bola com a mão. O árbitro marcou pênalti que Maurílio cobrou com consciência. Logo depois, marcou o segundo ao aproveitar contra-ataque e invadir sozinho a área e fuzilar a meta de Édson Bastos. Com o resultado, todos saíram satisfeitos de campo, com muita festa para ambos os lados.
Desabafo e choro paraaliviar o inferno vivido
O Paraná Clube aproveitou a despedida do Brasileiro deste ano para fazer um protesto. Jogando contra o Figueirense, em Florianópolis, aproveitou o fato da equipe catarinense estar no mesmo “barco’ que o Tricolor em relação à distribuição da verba de TV, para reclamar.
Antes da bola rolar, uma faixa foi mostrada para a torcida, na qual era exposta a injustiça, na qual Paraná e Figueirense receberam R$ 1,2 milhão, enquanto o Sport Recife ganha um cachê de R$ 2 milhões para disputar a segunda divisão, mas faz parte do Clube dos Treze.
Depois do jogo no entanto, foi uma festa só. A torcida paranista que foi a Floripa foi festejada por jogadores, comissão técnica e dirigentes, que foram até o setor do estádio Orlando Scarpelli onde estavam, para comemorar a permancência na elite.
Não foi a campanha dos sonhos da torcida. Mas, novamente, o Paraná Clube provou ser um dos times mais guerreiros da elite do futebol brasileiro. Aliada à raça, a equipe ainda contou com a sorte: os resultados o favoreceram e o Paraná fechou a última rodada como o 22.º colocado da competição mais equilibrada dos últimos anos.
Equilibrista
Mas se existe uma explicação para uma campanha tão irregular, ela foi dada pelo presidente do clube. “Vocês sabem fazer contas. Não é fácil tocar um time, na primeira divisão do futebol brasileiro, com uma cota mensal de R$ 180 mil. Isso é trabalho para mágico, e não para um administrador. Mesmo com todas as dificuldades, conseguimos fechar nossa participação na frente de equipes como Botafogo e Palmeiras, considerados muito melhores que nós, mas no campo provamos ser melhores”, desabafou Ênio Ribeiro, após a partida, confirmando também que, a princípio, o time segue sob o comando do técnico Caio Júnior. Já o superintendente de futebol do Paraná, Ocimar Bolicenho, afirmou ontem que deixa o cargo no fim deste ano.
Desabafo
Encerrado o jogo, os jogadores deixaram de lado os cálculos e desabafaram, por tirar das “costas’ o peso de um rebaixamento. “A gente consegiu, com união, superar todos os problemas”, resumiu o goleiro Marcos. Emocionados, muitos deles acabaram chorando, num misto de felicidade e dever cumprido. Foi o caso do volante Goiano e o lateral Bosco. “Só quem estava no clube sabe o que a gente passou”, balbuciou Bosco, quase chorando.