Sem inspiração ofensiva e sem poder de reação. O Paraná Clube fracassou em sua missão de definir por antecipação a sua vaga na Copa Sul-Americana. Com a derrota por 2 a 0 para o Botafogo, no Rio de Janeiro, o Tricolor viu escapar também as já remotas chances de Libertadores. Foi a primeira derrota para equipes cariocas neste Brasileiro e a 13.ª da equipe, que pode cair até três posições na classificação dependendo dos resultados de hoje.
O Paraná pagou um alto preço pela falta de precisão nos arremates a gol. Com um perfeito preenchimento dos espaços, o time de Luiz Carlos Barbieri mandou no 1.º tempo, mas não transformou esse domínio em gols.
Talvez pela ausência de mais um atacante ou pela simples falta de pontaria de Edinho e Beto, jogadores que tiveram as melhores chances de finalização. Enquanto Borges era ?sufocado? pela marcação de Rafael Marques e Scheidt, o Tricolor aproveitava a aproximação de alas e meias para bombardear o adversário.
Só que curiosamente o goleiro Lopes não precisou fazer uma defesa sequer diante da falta de pontaria dos jogadores paranistas. Sentindo que poderia arriscar melhor sorte, o Botafogo adiantou sua equipe e aos poucos foi chegando na área do Tricolor. Sempre em cobranças de faltas.
Aos 27 minutos, Ramón levantou e diante de uma zaga estática, Caio desviou de cabeça, mas para fora. Não demorou para o Botafogo abrir a contagem. E com Ramón, cobrando falta. Aos 32, ele acertou o ângulo esquerdo de Flávio, que adiantado não esboçou defesa.
Não fosse uma ação precisa de Marcos e o Paraná teria um prejuízo ainda maior. O capitão salvou sobre a risca um chute de Ruy. O Paraná foi para o vestiário lamentando o resultado e Barbieri tentou aumentar o ?poder de fogo? do time com Fernando Gaúcho e Vicente, mas o jogo seguiu no mesmo ritmo.
Só nos contragolpes, o Botafogo esteve bem perto do segundo gol. Reinaldo desperdiçou duas oportunidades, ganhando na velocidade e chutando para fora. Revoltada, a torcida hostilizou o técnico Celso Roth pedindo Alex Alves, que fora ?barrado? pelo técnico e nem no banco ficou.
Barbieri apostou tudo na entrada de Éder, desmanchando o 3-5-2 com a saída de Marcos. Pouco depois, Borges teve a melhor oportunidade de gol. Ele passou por Rafael Marques e ?encheu o pé?, mas para fora. Ruy ainda perdeu chance incrível, quando se enrolou com a bola após receber passe de Marcelinho. Borges levou Barbieri ao desespero quando exagerou no drible e permitiu o corte de Jonílson. Aos 42?, Juca definiu o jogo, escorando de cabeça um cruzamento de Ruy: 2 a 0.
Borges dá ?peti? no vestiário
Clima quente no vestiário do Paraná Clube. Borges, cobrado pelo técnico e pelos companheiros – por exagerar na individualidade – foi para o ônibus sem falar com a imprensa e sem aceitar o ?puxão de orelha?. Uma situação atípica, no quase sempre sereno pós-jogo do clube. Reflexo do estresse de um final de temporada? Talvez. Até aqui, a vaidade de alguns jogadores vinha sendo contornada pela comissão técnica, que desta vez não colocou ?panos quentes?.
?Cobrei como sempre, lá dentro, olhando nos olhos. Não estou criticando ninguém através da imprensa?, desabafou Barbieri. O meia Sandro, também com uma atuação apagada, disse que chegou a perder a concentração em alguns momentos da partida, quando Barbieri repreendeu-o por alguns deslizes. ?Ele me chamou a atenção porque não toquei a bola, mas é preciso saber conviver com essa situação?, disse Sandro.
Antes disso, o capitão Marcos chegou a lembrar que fatos isolados como esses não podem atrapalhar o ambiente do clube, que sempre foi de muita união. Mas, a ?crise? nos bastidores não foi a pior notícia no vestiário paranista. O zagueiro Marcos disse que está fora das últimas rodadas do Brasileiro.
Ele vinha convivendo com dores na virilha e a lesão, ontem, fez com que o jogador pedisse substituição aos 25 minutos do 2.º tempo. ?Minha mobilidade estava comprometida. Tenho que conversar com os médicos, mas acho que é um risco prosseguir jogando e acabar agravando a lesão?.
Bate-chapa tá aí: ?Família Tricolor? x ?Sócio no Poder?
O bate-chapa no Paraná Clube foi confirmado aos 44 minutos do 2.º tempo. Por volta das 10 horas de ontem – prazo final para o registro de chapas – o ouvidor do clube Sérgio Junqueira oficializou a sua candidatura à presidência do clube para o biênio 2006/07. O seu desafio será, em pouco mais de três dias de campanha fazer frente a José Carlos de Miranda, que construiu sua plataforma ao longo dos últimos dois anos.
A aposta de Junqueira – que terá como vices-presidentes Antônio Rodrigues da Costa e Márcio Freitas – é no contato direto que ele teve com o associado do clube ao longo dos últimos anos. ?Meu trabalho sempre foi esclarecer dúvidas e buscar soluções para os problemas dos sócios. Meu trabalho sempre foi impedido pela atual diretoria, com deslealdade e falta de ética?, disparou Junqueira. ?Agora, vão tentar impugnar a minha chapa?, alertou.
O problema seria a assinatura de um dos vice, que só foi regularizada às 10h15. Independente disso, o próprio Miranda assegurou que não há irregularidade. ?A chapa dele foi aceita e vamos para a disputa democrática?, afirmou o presidente, pouco antes do jogo frente ao Botafogo, no Rio de Janeiro.
Num contraponto da afirmativa de Miranda, Junqueira diz ter tido sempre muitos obstáculos no clube. ?O que mais me magoou ao longo dos últimos anos foi a forma como a atual diretoria conduziu o clube, usando o poder para eliminar aqueles que a questionavam?.
Sérgio Junqueira tentou encontrar outras possibilidades de oposição nos últimos meses. Primeiro com Márcio Villela (hoje segundo vice na chapa da situação) e recentemente com Algaci Túlio. ?Quando essas pessoas desistiram, cheguei a pensar em me afastar. Mas, acredito nas minhas idéias e por isso aceitei o desafio de ir às urnas?, afirmou o opositor. Sérgio Junqueira promete uma gestão voltada para o sócio.
?Dizem que o futebol sustenta o social e é mentira. Ocorre o oposto e minha bandeira é uma administração voltada para o sócio. Recuperar um quadro com 20 mil associados?. Na questão futebol, Junqueira só cita a necessidade de um bom planejamento a médio e longo prazo para sobreviver ao vestibular do campeonato brasileiro. Desliza ainda ao citar que no Brasileiro de 2007 serão somente 18 clubes na primeira divisão sendo que a CBF vai fixar em 20 equipes a Série A a partir do ano que vem.
Para José Carlos de Miranda, o importante é que o sócio do Paraná esteja mobilizado nessa eleição. ?Acredito na vitória e espero que nosso associado não se acomode e vá ao clube votar?, disse Miranda. O dirigente criticou Junqueira pela forma como conduziu a ouvidoria do clube nos últimos anos.
?A função do ouvidor não é incentivar a revolta. Por isso ele responde a processo no conselho deliberativo do clube?, frisou. Miranda garantiu estar absolutamente tranqüilo e confiante em mais uma vitória nas urnas para seguir à frente do clube por mais duas temporadas.