Depois de amargar o vice-campeonato estadual e parar nas oitavas-de-final na Copa Libertadores, o Paraná Clube inicia amanhã um novo desafio. Diante do embalado Grêmio – às 16h, na Vila Capanema – tenta estrear com o pé direito no Brasileirão. Ainda à procura de reforços para qualificar seu elenco, a diretoria promete não se contentar com menos do que a briga pelas quatro primeiras colocações, para retornar no ano que vem à maior competição das Américas.
Uma missão, como sempre, cercada de incertezas. Até mesmo por parte de sua torcida, sempre exigente e que questionou seguidamente o desempenho da equipe nos quatro primeiros meses do ano. O Tricolor obteve êxito apenas parcial em seus objetivos e fechou sua participação no Paranaense e na Libertadores deixando no ar algumas incertezas. Tanto que a própria diretoria trabalha no sentido de qualificar o atual elenco, já numeroso.
Para não fugir à rotina, o desafio maior é transpor os próprios limites financeiros do clube. Por intermédio do Grupo de Investimentos – formado por empresários ligados ao Paraná – tenta-se viabilizar novas contratações. Para a largada do Brasileiro, o técnico Zetti contará com três novas peças: o ala Márcio Careca (que há tempos está treinando, mas só agora terá condições legais de jogo), o volante Adriano e o zagueiro Luís Henrique.
Pelo menos Márcio Careca deverá estrear já no jogo de amanhã, diante do visível desgaste de Egídio.
Para retomar o fôlego, alguns atletas do Paraná serão preservados
Carlos Simon
A maratona está longe de parar, e um novo desafio começa amanhã, com a estréia no Campeonato Brasileiro. Mas a eliminação na Libertadores, ao menos, vai permitir à comissão técnica do Paraná Clube aplicar o plano de recuperação física dos jogadores. Os titulares Dinelson, Egídio e Beto serão poupados já a partir do jogo contra o Grêmio, amanhã, na Vila Capanema.
Desde a largada do Campeonato Estadual, em 14 de janeiro, o Tricolor atuou 35 vezes – quase uma a cada três dias. Neste período, a única semana ?cheia? para todo o elenco foi entre a segunda partida semifinal e a primeira final do Paranaense. É bem verdade que o elenco principal foi preservado em vários jogos do Estadual, mas nos últimos meses o desgaste foi mais intenso, não só pelo acúmulo como pela importância dos confrontos. Em abril e maio, o Paraná praticamente só fez decisões nas duas competições de que participou. ?Jogador sabe que é nesse momento que precisa mostrar serviço e garantir seu futuro.
O estresse é enorme e até pior que o desgaste físico?, afirma o preparador físico Fernando Moreno.
Junto com Zetti, Moreno elaborou um cronograma de descanso para os principais jogadores. Agora, apenas com o Brasileiro, haverá mais tempo para treinamentos e recuperação de atletas. As oito primeiras rodadas, até o fim de junho, serão disputadas apenas nos finais de semana.
Os primeiros a folgarem serão os de condição física mais delicada – Egídio, que sofre com lesão no joelho; Dinelson, com os dois tornozelos contundidos e Beto, que além de estar com 34 anos tem o organismo mais suscetível a sentir o desgaste. A idéia é que todos fiquem fora das partidas contra Grêmio e Juventude e retornem apenas na terceira rodada, contra o Cruzeiro. ?Nestas três semanas vamos recuperá-los plenamente e aprimorar o preparo físico. Depois faremos o mesmo com os demais?, falou o preparador.
Os maiores candidatos a ganharem um refresco são Daniel Marques e Xaves, que jogaram quase todas as partidas do time principal.
Diante do time gaúcho, a tendência é que Zetti escale Márcio Careca na lateral-esquerda, Adriano ou Goiano no meio-campo e Joelson na armação.
O técnico preferiu não antecipar o time e só vai defini-lo hoje.
No estaleiro por três semanas
Principal jogador paranista no início de 2007, Dinelson vive hoje o outro lado da moeda. Depois de virar ídolo da torcida e até ser cotado para a seleção olímpica, o meia passou a ser questionado pelas más atuações nos jogos decisivos do Estadual e do mata-mata da Libertadores. Ele reconhece o momento ruim, mas o atribui às crônicas lesões nos tornozelos – que agora ganham um descanso.
A lua-de-mel com a arquibancada parece ter sido abalada após o segundo jogo decisivo contra o Paranavaí, quando Dinelson foi xingado por um grupo de torcedores. As atuações irregulares já vinham de longo tempo, e no jogo de quinta-feira, contra o Libertad, jogou (e mal) só o primeiro tempo – pediu para sair no intervalo, com febre de 39 graus. O departamento médico suspeita que o jogador tenha contraído uma virose e irá avaliá-lo melhor hoje.
Mas o problema maior, segundo Dinelson, foram as torções nos dois tornozelos, sofridas ainda na primeira fase do Paranaense. Ele admite ter jogado desde então no ?sacrifício?, com dores e botas de esparadrapo nos pés. ?Nunca me recuperei completamente. Não consigo bater na bola como gosto e as arrancadas não são as mesmas?, falou.
Fundamental no esquema de Zetti, o jogador atuou mesmo ?baleado? nos últimos jogos, quase todos importantes. E reconhece não ter ido bem – o que o fez programar com a comissão técnica a parada de três semanas, assim que terminasse a participação tricolor na Libertadores.
?Até consegui ajudar em alguns jogos, mas nos últimos não deu mais. Agora, só volto 100%, mesmo que leve mais de três semanas?, garantiu.
Aventura pela América foi positiva
Depois de cem dias, a aventura do Paraná Clube pelas Américas terminou com saldo considerado positivo pela diretoria, jogadores e comissão técnica. Apesar da frustração pela eliminação nas oitavas-de-final num confronto equilibrado com o Libertad, o Tricolor deixa a competição com a sensação de dever cumprido.
Sempre cuidadoso ao comentar a saúde financeira do clube, o presidente José Carlos de Miranda disse que o Paraná teve pouco lucro líquido na Libertadores. Em bônus da Conmebol pela participação e classificação às oitavas, o clube ganhou cerca de R$ 1,1 milhão – mas 50% do valor foi destinado aos jogadores e comissão técnica em forma de premiação.
A renda somada nos cinco jogos em casa também passou de R$ 1 milhão.
Além disso, o clube faturou mais com patrocínios pela exposição na mídia.
Apesar de tudo, Miranda afirma que o principal lucro foi a experiência e a divulgação nacional e internacional da marca tricolor. ?Tivemos que qualificar o elenco desde o começo do ano, o que encareceu nosso orçamento. Se fosse uma atividade empresarial, jogar a Libertadores não valeria a pena?, falou o presidente.
No cômputo geral, Miranda acredita que o clube teve desempenho satisfatório. ?Muitos sequer acreditavam que passaríamos pelo Cobreloa?, falou.
A opinião é compartilhada por Beto, capitão do time, que acredita que a Libertadores fortaleceu a imagem do Paraná Clube como ?emergente? no cenário nacional. ?Vivemos momento de ascensão, fazendo bons campeonatos. Só ficou uma ponta de frustração porque tínhamos condição de ir um pouco mais longe?, lamentou o volante, referindo-se ao confronto com o Libertad.