Lembra aquele Paraná coeso, organizado e raçudo, que começou a rodada na 3.ª colocação e não havia perdido em Curitiba neste Brasileirão? Não entrou em campo ontem. Em sua pior atuação no torneio, o Tricolor perdeu por 1 a 0 para o Juventude – um placar até magro, tamanho o domínio da equipe gaúcha. Como castigo, o Tricolor perdeu duas posições e deixou a zona de classificação para a Libertadores.
Alguns fatores poderiam justificar uma queda de rendimento do Paraná. Três jogadores que formam a espinha dorsal da equipe – o líbero Emerson, o meia Beto e o atacante Leonardo – não puderam atuar. O time vinha de uma partida física e emocionalmente desgastante, na derrota para o São Paulo, na quinta-feira. E o ridículo gramado do Pinheirão a cada semana se parece mais com um pasto, o que complica principalmente quem precisa buscar o jogo. Tudo isso contou, mas ninguém esperava uma atuação tão abaixo da crítica como a de ontem.
Com o novato Jeff no ataque, Sandro no meio-campo e Neguete na defesa, o Tricolor sequer conseguiu se aproximar do gol adversário. Os passes eram errados, o ataque não segurava a bola, ninguém arriscava um chute.
O Juventude armou-se para roubar a bola – nada tão complicado no gramado absolutamente irregular do Pinheirão – e sair rápido nos contragolpes. Conseguiu o objetivo mais de uma vez e só não marcou porque Christian perdeu gol feito, chutando na trave com Flávio batido aos 11, e Neguete conseguiu salvar sozinho diante de três atacantes gaúchos, aos 22. O Paraná ia mal na frente e mostrava desorganização atrás.
Depois de ameaçar mexer ainda no primeiro tempo, Caio Júnior tirou Ângelo e Jeff no intervalo, lançou Joelson e Zumbi e deixou Sandro aberto na ponta direita. Antes do time poder responder, o Juventude abriu o placar: logo a um minuto, Christian dominou após cobrança de escanteio, livrou-se da marcação de Neguete e chutou no canto de Flávio. Finalmente o placar fazia justiça à apresentação das equipes.
O Paraná manteve os mesmos erros, a mesma falta de inspiração ofensiva e o posicionamento errado na defesa – Christian ficou duas vezes na cara do gol, aos 16 e aos 24, obrigando Flávio a dividir com o atacante. Pouco antes, aos 9, o goleiro paranista já havia praticado grande defesa em cabeçada do mesmo Christian.
A torcida começava a se impacientar e as primeiras vaias surgiram no Pinheirão. Só depois dos 25 minutos o Tricolor apresentou alguma evolução, mais na base da pressão que em jogadas bem tramadas. Mas chance de gol concreta, mesmo, só uma – cabeçada do ineficiente Zumbi na pequena área, defendida pelo goleiro André. Muito pouco para quem terminou o 1.º turno ameaçando os líderes.
?Não jogamos nada?, diz Caio Jr.
Exatas 20 partidas de invencibilidade no Pinheirão – uma no Brasileiro do ano passado, 10 no Estadual e nove na atual competição – foram por água abaixo ontem. Com justiça, pois o Paraná Clube realmente não jogou nada diante do Juventude, conforme admitiu Caio Júnior.
Para o técnico paranista, o Tricolor encontra muita dificuldade diante de equipes que atuam fechadas – como o São Caetano, que o Paraná só derrotou aos 49 do segundo tempo, e o Juventude. ?O campo não permite o giro rápido, facilita quem só se defende. Os últimos cinco jogos no Pinheirão foram ruins tecnicamente. Fora de casa o time cria mais, isso é evidente?, disse Caio, criticando novamente o estado do gramado no estádio da FPF.
Caio enxergou certa evolução no segundo tempo, depois que colocou Sandro como ala-direita e Zumbi. ?Estávamos sem força na frente. Zumbi era a opção que tínhamos para jogar na área. Ele ainda teve o lance do jogo (uma cabeçada aos 38 do segundo tempo defendida pelo goleiro André), mas a bola não entrou. Num jogo ruim como esse, sairia satisfeito com o empate?, falou o técnico.
A segunda derrota seguida trouxe preocupação para a condição emocional da equipe. ?Estávamos acostumados a ganhar. Quando perdemos uma, cria-se certo desconforto?, afirma o zagueiro Neguete, que também atribuiu a má atuação de ontem ao desgaste causado pela seqüência de jogos. Caio disse que já estava preparado para um momento de declínio. ?Jogamos 19 partidas num bom nível. Uma hora o time vai atuar mal. A equipe está visada nacionalmente e os adversários nos estudam para neutralizar os pontos fortes?, falou o técnico, que citou como exemplo a forte marcação sobre Maicosuel.
O Tricolor agora tentará se reabilitar com dois jogos fora de casa – Botafogo, quinta-feira, e Grêmio, domingo. O volante Beto, que estava suspenso, poderá voltar na partida do Rio de Janeiro.
Boato – O presidente da Adap de Campo Mourão, Adílson Batista do Prado, desmentiu o boato sobre a possível negociação do ala Ângelo com um time estrangeiro. ?Alguns agentes sondaram o jogador. Mas a intenção é mantê-lo no Paraná pelo menos até o fim do Campeonato Brasileiro, para que ele aproveite o bom momento?, falou o dirigente. Ele também cogita prorrogar o empréstimo caso o Tricolor dispute a Libertadores em 2007. A Adap é dona de 100% dos direitos econômicos do jogador, mas cederá ao Paraná metade do lucro numa eventual negociação.
Campeonato Brasileiro
Súmula
Local: Pinheirão, Curitiba (PR)
Renda: R$ 53.320.
Público: 5.093 pagante (Total: 5.922)
Árbitro: Sálvio Spínola Fagundes Filho (Fifa-SP).
Assistentes: Ana Paula da Silva Oliveira (Fifa-SP) e Evandro Luís Silveira (SP).
Gol: Christian, a 1 minutos do 2º tempo.
Cartões amarelos: Pierre, Joelson (P), Lauro (J).
Paraná 0x1 Juventude
Paraná
Flávio; Gustavo, Neguete e Edmílson; Ângelo (Joelson), Pierre, Batista (Gerson), Sandro e Edinho; Maicosuel e Jeff (Zumbi). Técnico: Caio Júnior.
Juventude
André; Fábio Ferreira, Igor e Rafael; Wellington, Renan, Lauro, Alexandre e Márcio Azevedo; Leandrinho (Márcio Hanh) e Christian. Técnico: Ivo Wortmann.