A velha máxima de que clássico é clássico prevaleceu ontem, na Arena. Quem foi ao estádio assistiu a um jogão, com um duelo tático dos treinadores, grandes jogadas e emoção até o final. O placar foi 1 a 1, mas o Paraná Clube saiu de campo comemorando o ponto conquistado, apesar de ainda estar na zona de rebaixamento. Já o Atlético manteve a liderança do Campeonato Brasileiro, só que com apenas um ponto de diferença para o Santos, vice-líder. Agora, o Rubro-Negro vai até São Paulo enfrentar o Palmeiras, sábado, enquanto o Paraná Clube recebe o Corinthians, no domingo.
Durante a semana, os treinadores resolveram apostar no mistério como arma para confundir. O técnico paranista, Paulo Campos, foi mais feliz. Conseguiu armar um esquema para segurar o Rubro-Negro no meio-de-campo e ainda partiu para cima. A grande surpresa do Furacão de Levir Culpi, o ala Raulen, acabou sofrendo com o avanço de Edinho, Canindé e Cristian sobre suas costas e não deu conta do recado. O meia Fernandinho, como segundo volante e fora de sua real posição, também não esteve bem, assim como Jádson, que só brilhou no gol marcado.
Assim, o bombardeio do Tricolor já começou desde que a bola começou a rolar. Se tivesse um pouquinho mais de qualidade no time, Paulo Campos poderia ter comemorado a quebra do tabu do Paraná Clube nunca ter vencido o Atlético no Joaquim Américo. Mas não foi desta vez. E olha que chances não faltaram. Faltou força para Canindé, pontaria para Marcel e solidariedade para Cristian conseguirem transpor o gol defendido por Diego. Nem lembrava um time na zona de rebaixamento.
A reação rubro-negra foi tímida e também sem muita força. Dagoberto, Washington e Dênis Marques (que entrou no lugar de Dagoberto) tiveram boas oportunidades dentro da área e chutaram fraco nas mãos de Flávio. Nem lembrava o líder do campeonato. Na volta do intervalo a situação se inverteu. O ímpeto atleticano voltou maior e o gol logo saiu. Dênis Marques foi lançado pela esquerda, invadiu a área e chutou cruzado na trave. No rebote, Émerson tentou tirar, mas a bola bateu em seu peito e sobrou para Jádson só completar.
Com a vantagem no placar, o Rubro-Negro voltou a dar espaço para o Paraná Clube, como tinha feito em Caxias do Sul contra o Juventude, e chamou o adversário para seu campo. As chances paranistas começaram a aparecer. Enquanto Paulo Campos colocou mais um defensor, Levir reforçou a marcação. A tática suicida quase deu certo quando Marcel cabeceou uma bola na trave, mas o gol só saiu após Messias arriscar um chute de fora da área, no último minuto. Bruno Lança desviou de cabeça e tirou Diego do lance. Festa da pequena torcida paranista presente à Arena, com um empate com sabor de conquista de título.
Dagoberto está fora do futebol por 5 meses
O Atlético perdeu, ontem, uma de suas principais estrelas, para o restante do Campeonato Brasileiro. Numa jogada casual, o atacante Dagoberto acabou rompendo os ligamentos do joelho esquerdo e vai ficar afastado das partidas oficiais por um período de cinco meses. Na próxima semana, ele irá passar por uma cirurgia, após se recuperar do trauma inicial.
De acordo com o chefe do departamento médico do Rubro-Negro, Edílson Thiele, o jogador sofreu uma lesão no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo. “Foi num lance muito parecido com aquele do Ronaldinho. Ele me disse que iria tentar driblar um jogador do Paraná Clube e o pé acabou preso no gramado”, revelou.
A contusão começou quando o próprio Dagoberto fez falta em Canindé, do Tricolor. Mesmo depois de ter sido atendido pelo departamento médico, ele acabou retornando ao campo, mas continuou mancando. Numa arrancada em direção ao gol, sentiu a lesão e caiu sozinho em campo.
Ontem mesmo, ele foi submetido a um exame de ressonância magnética e ficou constatada a lesão. Segundo Thiele, Dagoberto irá aguardar a recuperação do trauma inicial para, depois, realizar a cirurgia. “É preciso passar o inchaço para que possamos realizar a cirurgia”, finalizou. O período de afastamento será de cinco meses. Isso quer dizer que o atacante só deverá voltar a vestir a camisa atleticana na etapa final do Campeonato Paranaense do ano que vem.
Levir culpa a arbitrágem
Mais uma vez a arbitragem acabou sendo a vilã do empate sofrido pelo Atlético, no final do clássico de ontem, contra o Paraná Clube. Esse, pelo menos, foi o pensamento do técnico Levir Culpi em suas explicações após o confronto. A partida foi comandada pelo paulista Paulo César de Oliveira, ao invés de um paranaense.
Se durante a semana o árbitro era bom, depois de sofrer o gol de Messias, as coisas mudaram. “Ele é bom, é um dos melhores”, disse Alberto Maculan, diretor de futebol, ao saber da indicação do paulista. Ontem, o discurso mudou e Levir Culpi jogou para o paulista a culpa pelos dois pontos perdidos. “Foi um clássico dentro das características normais. Eu não acho que houve injustiça no marcador, eu acho que houve injustiça nos critérios de arbitragem e nós fomos prejudicados”, apontou.
De acordo com o treinador, o time criou oportunidades para ampliar a vantagem quando estava vencendo, mas foi impedida pelo árbitro. “Nós não fizemos o segundo, não por falta de oportunidades, pelo time estar recuado. As oportunidades surgiram. Umas, o árbitro não deixou e, outras, nós não tivemos competência para finalizar”, analisou.
O treinador rubro-negro reclamou muito de um agarrão de Fernando Lombardi em Washington, que não mereceu nem cartão amarelo. Por outro lado, Paulo César de Oliveira ameaçou dar o segundo cartão amarelo para Alan Bahia e contemporizou quando viu o número do jogador.
Time
A reapresentação da equipe está programada para hoje, às 15h30, no CT do Caju. O próximo compromisso do Rubro-Negro será o Palmeiras, às 18 horas de sábado, no Parque Antártica. Para este jogo, Levir Culpi não poderá contar com Dagoberto, mas terá a volta de Marcão, após cumprir suspensão automática, e Rogério Correia, que está se recuperando de uma lesão muscular.
Paulo Campos, o personagem
Quando o árbitro apitou o final da partida de ontem, os jogadores do Paraná Clube correram para comemorar com a torcida. No entanto, o herói da partida ficou no banco de reserva. O técnico Paulo Campos conseguiu transformar um time perdedor, candidato ao rebaixamento, em time vencedor e que já não perde no Campeonato Brasileiro há quatro jogos. Ainda está na zona de rebaixamento, mas já começa a projetar dias melhores na reta final do Campeonato Brasileiro.
“É difícil dizer da gente porque parece que a gente quer se valorizar em detrimento ao companheiro, que está do outro lado. Acho que a equipe fez uma partida boa, teve alguns e que precisam ser corrigidos”, disse, com modéstia. Confiante, ele espera trabalhar a semana para tentar superar o Corinthians, domingo, no Pinheirão, e sair do grupo da morte. “Temos, também, que aperfeiçoar as coisas que estão dando certo”, apontou.
Na matemática de Paulo Campos, o campeonato é difícil, mas o Tricolor tem tudo para sair dessa situação. “Nós estamos há nove rodadas subindo três posições. Ainda faltam dez jogos e espero que a gente possa subir, pelo menos, mais três. A luta é inglória, mas nós estamos tentando e confiando que possamos alcançar o nosso objetivo”, projetou.
Torcedor paga o pato
Todo clássico é a mesma ladainha. Os torcedores são feitos de bobos, não sabem onde comprar ingresso, não sabem com que roupa podem ir ao jogo e precisam encarar a cavalaria da Polícia Militar para entrar no estádio. No clássico de ontem, não foi diferente. Os paranistas sofreram mais e só quem comprou as entradas com antecipação acabou assistindo o empate de sua equipe contra o Atlético em plena Arena.
Num tiroteio verbal entre dirigentes das duas equipes, os torcedores do Tricolor acabaram tendo acesso somente a 1.040 bilhetes. Na hora, sem chance. Quem não tinha a entrada na mão e não portava nenhuma roupa identificada com torcida organizada conseguiu passar pelo bloqueio da PM e teve acesso ao portão da Rua Madre Maria dos Anjos. Quem não tinha comprado ingresso, teve que recorrer a cambistas ou acompanhar a partida pelo radinho ou pay-per-view.
De acordo com a assessoria de imprensa do Furacão, os dirigentes do Paraná Clube demoraram demais a solicitar as entradas. A carga inicial mandada para o time da Vila teria sido de 800 ingressos, acrescidos em seguida de mais 240. Após estes bilhetes terem sido esgotados nas vendas na Vila Guaíra, os dirigentes paranistas teriam pedido uma remessa maior. No entanto, o Rubro-Negro ofereceu apenas entradas para as retas inferior e superior, com preços entre R$ 30,00 e R$ 60,00, que foram recusados pela direção do Tricolor.
CAMPEONATO BRASILEIRO
36.ª Rodada
Atlético 1 x 1 Paraná Clube
Atlético
Diego; Marinho, Fabiano e Ígor; Raulen (William), Alan Bahia, Fernandinho, Jádson (Bruno Lança) e Ivan; Dagoberto (Dênis Marques) e Washington. Técnico: Levir Culpi
Paraná Clube
Flávio; Goiano (Vandinho), Fernando Lombardi, Émerson e Edinho; Axel, Beto, Canindé (Fernando) e Cristian (Messias); Galvão e Marcel. Técnico: Paulo Campos
Local: Arena da Baixada
Árbitro: Paulo César de Oliveira (Fifa-SP)
Assistentes: Márcio Luís Augusto (SP) e Francisco Feitosa (SP)
Gol: Jádson aos 13 e Messias aos 45 do 2.º tempo
Cartão amarelo: Alan Bahia, Beto, Dagoberto
Renda: R$ 321.844,00
Público pagante: 17.369
Público total: 18.961