É possível uma equipe derrotar um tradicional adversário por 5 x 2 sem apresentar grande futebol? Pois foi o que ocorreu ontem, no Pinheirão. O Paraná Clube mostrou muitos erros e certa desorganização, especialmente na defesa, mas fez (e em grande quantidade) o que não havia realizado em dois jogos do Brasileirão: gols, que garantiram o primeiro triunfo da equipe na competição.
O resultado do jogo atípico fez o Tricolor saltar seis posições no Campeonato Brasileiro – de 16.º para 10.º – e deu maior respaldo para as três partidas seguidas que a equipe disputará fora de casa, contra Fluminense, Corinthians (este com mando paranista, mas diante da torcida adversária de Maringá) e Fortaleza. Marcou ainda a primeira vitória de Caio Júnior depois de sua volta ao comando tricolor.
Caio que chorou emocionado ao final da partida, vencida graças aos acertos ofensivos e aos erros da zaga gaúcha. No início, o técnico paranaense surpreendeu ao sacar o meia Gérson e escalar Cristiano como segundo atacante -mudança, segundo Caio, motivada pela presença de Maicosuel no banco de reservas, que substituiu Cristiano como opção de velocidade no decorrer do jogo.
O técnico mostrou estrela logo aos 12?, quando o ex-atleta do J. Malucelli, justamente usando a rapidez, fez o primeiro gol paranista. Logo em seguida um lance criado pelo estreante Zumbi foi finalizado de forma bisonha pelo meia gremista Alessandro, que marcou contra.
O Paraná abria 2 x 0 sem predominar na partida, e assim continuou na primeira etapa. O meio-campo, com os
ex-Adap Felipe Alves e Batista como titulares, não acertou a marcação, permitindo que os gaúchos chegassem perto da área com perigo. E a defesa batia cabeça, sem prestar atenção nas bolas enfiadas em profundidade e com Emerson falhando na cobertura.
Num lance de contragolpe, o Grêmio descontou após um pênalti discutível apontado por Wilson Seneme.
Mas a defesa do Grêmio resolver ser pior que a paranista. Após outra lambança, desta vez de Evaldo, Beto ficou à vontade para ampliar: 3 x 1.
o Grêmio não desistiu e aproveitou outro cochilo da retaguarda adversária para diminuir logo no início do segundo tempo. Mas ânimo dos cerca de 3 mil torcedores da equipe gaúcha rapidamente esfriou. Usando sua melhor qualidade ofensiva – as jogadas pelos flancos – o Paraná abriu 4 x 2 aos 13?. Edinho ganhou o lance e levantou na medida para Ângelo, que marcou o quarto.
O Grêmio seguia com mais posse de bola, mas a tarde era mesmo dos anfitriões, que marcaram o quinto quando Seneme usou a lei da compensação e apontou pênalti inexistente para o Paraná. Emerson cobrou bem, aos 34?, e decretou a goleada. Festa e alívio dos tricolores paranaenses: se meteram cinco sem brilhar, a natural evolução técnica e tática dá a perspectiva de uma boa campanha no Brasileirão 2006.
Caio chora e detona Mano
Emotivo, Caio Júnior festejou a goleada sobre o Grêmio -clube que o revelou como atleta -como se fosse um título. ?Passou um filme na minha cabeça. Lembrei os dois últimos anos da minha vida, até a chance que o Paraná me deu e à decisão que tomei. Dedico a vitória aos jogadores, que cumpriram à risca o que determinei, à diretoria do Paraná e à minha família?, disse Caio, que antes de voltar ao Tricolor dedicava-se à carreira de comentarista.
O treinador acredita que surpreendeu o Grêmio ao escalar Cristiano no lugar de Gerson -formação que não havia utilizado nos treinamentos. ?Tanto que o Cristiano marcou o primeiro gol?, disse Caio, que admitiu sentir falta de alguns titulares. ?Houve dificuldade com a perda de Flávio no início, Leonardo, Maicosuel, Sandro. Mas quem entrou tem qualidade e conseguimos encaixar as características de todos. O time está organizado, e aos poucos o elenco ficará fortalecido quando eles (os lesionados) voltarem?, indicou.
No vestiário gremista, a interpretação difusa de uma declaração do técnico Mano Menezes causou certa polêmica entre os paranistas. O treinador disse que pretende ?fazer do Paraná a Anapolina da Série B? – referindo-se à goleada de 4 x 0 que o Grêmio sofreu para a equipe goiana em 2005, partida que antecedeu a reação dos gaúchos na competição. ?Terá que ser o marco para a retomada do bom futebol?, falou Mano. A comparação foi analisada em tom pejorativo e Caio Júnior, sem saber do exato contexto da declaração, reclamou. ?Perdi a consideração que tinha pelo Mano?, falou.
Para o jogo contra o Fluminense, sábado, às 18h10, no Maracanã, o Paraná pode perder o meia Maicosuel. O jogador, que ontem atuou 35 minutos e fez sua estréia no Brasileiro, voltou a sentir lesão no joelho e será avaliado amanhã.
CAMPEONATO BRASILEIRO
SÉRIE A – 3ª RODADA
Local: Estádio Pinheirão
Gols: Cristiano (12-1º), Alessandro (contra, 15-1º), Hugo (26-1º), Beto (35-1º); Lucas (7-2º), Ângelo (13-2º), Emerson (34-2º)
Árbitro: Wilson Luiz Seneme (SP)
Assistentes: Márcio Luiz Augusto e Maria Eliza Correia Barbosa (SP)
Cartões amarelos: Felipe Alves, Batista e Gerson (P), Jeovânio e Patrício (G)
Público: 8.427 pagantes (Total: 9.124)
Renda: R$ 124.750,00
PARANÁ CLUBE 5×2 GRÊMIO
Paraná
Flávio; Gustavo, Emerson e Edmílson; Ângelo, Felipe Alves (Gerson), Batista (Serginho) Beto e Edinho; Cristiano (Maicosuel) e Zumbi. Técnico: Caio Júnior
Grêmio
Galatto; Patrício, Pereira, Evaldo e Wellington; Jeovânio, Lucas (Paulo Ramos), Alessandro (Ramón), Marcelo Costa e Hugo (Pedro Júnior); Ricardinho. Técnico: Mano Menezes
