Valquir Aureliano |
Num jogo pra lá de emocionante, o Tricolor passou pela primeira batalha e segue com chances de escapar. Neguete foi um gigante em campo. |
Não é qualquer um que pode acompanhar os jogos do Paraná. A carga dramática do momento tricolor no Campeonato Brasileiro é assustadora. Ontem, foi complicado para os pouco mais de sete mil torcedores que foram à Vila Capanema passarem incólumes pela tensão da partida contra o Internacional. Com muito sofrimento, o Paraná venceu -Josiel, para variar, foi o herói do 1×0 sobre o Colorado. Na classificação, nada mudou, mas agora o Tricolor tem 37 pontos, quatro a menos que Corinthians e Goiás. Falta muito, mas menos do que faltava antes da rodada.
Quando a bola ia rolar, veio aquela sensação de filme já assistido. Ano passado, numa outra tarde de domingo, Paraná e Inter entravam em campo debaixo de um dilúvio. Chovia, chovia forte, mas nada que se comparasse à tormenta de 2006. E nada se parecia também na Vila Capanema – temporada passada, a luta tricolor era para garantir a vaga na Libertadores; agora, a briga era para escapar da inglória segunda divisão. Importante era lembrar que naquele dia tinha dado Tricolor. Um a zero.
Em campo, um Paraná com pinta de guerreiro. Com a chuva, a partida ganhou contornos mais dramáticos – o jogo era mais de marcação que de criação, e quem lutasse mais teria vantagem. Taticamente, o controle era do Internacional, que dominava o meio-campo com a qualidade de Guiñazu e Magrão. Mas o Tricolor era valente e criou as melhores oportunidades da primeira etapa com Goiano e Vandinho.
No intervalo, Saulo de Freitas demonstrou preocupação, mas mantinha a confiança. ?Nós precisamos ter muita tranqüilidade. Contra uma equipe como a do Inter, com jogadores altos, temos que jogar com a bola no chão. Mas o gramado está escorregadio, e isso complica. A partida é difícil, mas temos muito para melhorar?, avisou.
E realmente tinha muito para melhorar. O Paraná retornou na segunda etapa com mais disposição e melhor organizado. Quando percebeu que poderia chegar, Saulo colocou o time à frente – sacou Róbson e Batista para as entradas de Giuliano e Jefferson.
O jogo ganhou em emoção. Ou, para quem quiser, virou um pandemônio para o coração paranista. Jumar, Josiel, Vandinho e Giuliano chegaram muito perto do gol, mas Clemer foi arrojado e seguro em várias intervenções. Era chute, cruzamento, escanteio a toda hora – e quando tinha espaço, o Inter levava perigo nos contra-ataques.
Era uma torrente, mais forte que a chuva do domingo. Que virou uma explosão de alegria quando Josiel escorou o escanteio (ganhando a jogada do grandalhão Índio) e abriu o placar, aos 23 minutos. Gol que recolocou o camisa 9 paranista na artilharia do Brasileirão, com 19 tentos. Gol que acabou com o jejum de Josiel. Gol que tirou o grito tão desesperado da garganta do torcedor.
Mas a emoção não ia parar ali. Abel Braga colocou o Internacional no ataque com dois centroavantes (Adriano e Christian) e um meia-atacante (Pinga), para tentar pressionar o Tricolor. Aí foi chute de um lado, cabeçada do outro, Gabriel pulando para todos os cantos para salvar o time.
O Paraná se segurou, Nem chegou a cortar a cabeça para ajudar. E é justamente isso que a torcida espera – um time de guerreiros, para fazer o que se julga ser um milagre e arrumar em campo as trapalhadas feitas fora do gramado.
CAMPEONATO BRASILEIRO
PARANÁ CLUBE 1×0 INTERNACIONAL
Paraná
Gabriel; Léo Matos, Nem, Neguete e Paulo Rodrigues; Goiano, Jumar, Batista (Jefferson, 13 do 2º) e Róbson (Giuliano 7 do 2º, depois Adriano 44 do 2º); Vandinho e Josiel.
Técnico: Saulo de Freitas
Internacional
Clemer; Wellington Monteiro, Índio, Sorondo e Marcão; Edinho (Pinga 26 do 2º), Magrão, Guiñazu e Alex (Christian 32 do 2º); Fernandão e Gil (Adriano, 17 do 2º).
Técnico: Abel Braga
Em campo
Local: Durival Brito
Árbitro: Sérgio da Silva Carvalho (DF)
Assistentes: Nílson Alves Carrijo (DF) e Ângela Paula Régis Ribeiro (MG)
Gol: Josiel 23 do 2º
Cartões amarelos: Jumar, Róbson (PR); Gil, Índio, Magrão, Adriano, Guiñazu (INT)
Renda: R$ 79.975,00
Público: 7.187 (6.710 pagantes)
Nem dá o sangue na vitória tricolor
A luta do Paraná estava no rosto de Nem. O zagueiro, muito contestado nos últimos jogos, foi um dos heróis da vitória de ontem sobre o Internacional. Com a face ensangüentada por conta de um corte na testa, o capitão tricolor foi o símbolo da atitude dos jogadores no gramado encharcado da Vila Capanema. E ele resumiu com clareza como serão os cinco jogos finais do Campeonato Brasileiro.
?Nós temos cinco decisões, temos cinco finais de Copa do Mundo. Vai ser assim até o fim do campeonato?, comentou Nem. ?Nós estamos todos preparados para isso. Os jogadores estão prontos para estas partidas, que vão nos fazer sair desta situação?, avisou o zagueiro, que agradeceu o apoio da torcida. ?Nós hoje vencemos com a ajuda deles?, disse.
Saulo de Freitas, aliviado, pôde comemorar a vitória – a primeira dele nesta passagem como técnico do Paraná. ?Nós começamos uma reação, é o início de um momento que pode ser muito positivo. E isso iria acontecer, porque o trabalho sério que a gente está fazendo iria surtir efeito mais cedo ou mais tarde?, afirmou.
O treinador elogiou muito os jogadores – inclusive Nem. ?Todos temos que respeitar o Nem. Como treinador, é um prazer ter um jogador como ele no elenco. Ele é o líder, é a voz do treinador dentro de campo?, afirmou o Tigre, que não quis levar os louros pela vitória (mesmo com as alterações ousadas do segundo tempo). ?Quando o time perde, a culpa é minha. Quando o time ganha, o mérito é só deles?, finalizou.
Fora
O único desfalque certo para o Paraná Clube é o lateral-direito Léo Matos. Ele levou o terceiro cartão amarelo e terá que cumprir suspensão automática na partida de quarta-feira, às 20h30, no Mineirão, contra o Atlético-MG. Flávio e Daniel Marques, que estão lesionados, dificilmente vão reunir condições para ir até Belo Horizonte.