Paraná Clube escolhe hoje o novo presidente

O destino do Paraná Clube nas urnas. Um bate-chapa inesperado – a oposição registrou sua chapa no sábado, 72 horas antes do pleito -coloca frente a frente José Carlos de Miranda e Sérgio Junqueira na disputa pela presidência do clube para o próximo biênio. O Tricolor é um dos poucos clubes da Série A onde o sócio elege seu comandante. Nesse processo democrático, aproximadamente sete mil associados têm direito a voto. Pelas estimativas, menos de mil deverão comparecer à sede social da Kennedy, local da eleição, entre 10h e 20h. Podem votar sócios titulares, acima de 18 anos, com mensalidade em dia e com pelo menos um ano de vínculo com o clube.

A chapa ?Família Tricolor?, liderada por José Carlos de Miranda, candidato à reeleição, é formada pelos vices Aurival Correa e Márcio Villela. Fosse um jogo de futebol, seriam os grandes favoritos nesse pleito. Miranda, primeiro presidente eleito por voto direto, espera repetir o resultado da eleição passada – no final de 2003 – quando venceu com 78% dos votos. Garante que a base de sua campanha está no trabalho desenvolvido ao longo dos últimos dois anos. ?Fizemos muitos contatos com as lideranças nos últimos dias e não senti nenhuma restrição à minha permanência?, comentou Miranda.

Essa aceitação se deve, em muito, à recuperação do clube. Não apenas no futebol. ?Tinha uma visão do clube enquanto conselheiro. Depois de dois anos na presidência, minha avaliação é bem diferente?, admite. Com uma administração sóbria – tendo como ?braço-direito? o próprio Aurival Correa – Miranda conseguiu quitar antigas ações trabalhistas e manter as contas em dia. ?Procuramos dar atenção a todas as sedes, recuperando o nosso patrimônio e resgatando nosso quadro associativo. Essa missão continua?, avisa Miranda. ?Não vivemos só do Vila, tá na hora!, é preciso também implementar o sócio, tá na hora!?, disse Miranda.

Para fazer frente à situação, o atual ouvidor do clube, Sérgio Junqueira, lançou a sua chapa ?Sócio no Poder?, tendo como vices Antônio Rodrigues da Costa e Márcio Freitas. Admite que sua vitória seria uma ?zebra?. ?Para ser sincero, minha ficha ainda não caiu?, disse Junqueira, revelando que tem poucas chances de êxito no pleito. ?Minha intenção era outra, mas o candidato que eu preparei passou para o outro lado?, disse, numa referência a Márcio Villela. ?Só que eu decidi encarar esse desafio e não decepcionar aqueles que estão insatisfeitos com a atual direção do clube.?

Junqueira projeta o aproveitamento inteligente do atual patrimônio como forma de aumentar a receita do clube. ?Hoje é tudo tercerizado, por aluguéis que são uma ninharia e não entra um tostão no clube?, ataca. Acredita que com uma ação eficaz nas quatro sedes do Paraná, pode garantir o dinheiro para sustentar não só o setor social, como também o futebol. ?O que eu proponho é uma administração participativa. Não vou me fechar numa concha, como os atuais dirigentes.?

Na contramão das críticas de Junqueira, Miranda se orgulha de ter tratado com extrema transparência todos os aspectos do clube, inclusive o financeiro. ?Nunca me omiti de explicações e todos sabem que isso é verdade. Falo claramente da situação e dos projetos do clube?, rebateu Miranda. ?Acredito na liberdade de expressão e o voto é a melhor forma do associado se expressar?, afirmou o candidato à reeleição.

Dia de lavar roupa suja

Ao melhor estilo ?roupa suja se lava em casa?, jogadores e comissão técnica trocaram o treino por uma ?acalorada? reunião. Era possível ver atletas pedindo a palavra e gesticulando com veemência. Todos reconheceram que esse tipo de atitude era necessária para que o grupo se mantivesse unido até a última rodada do Brasileirão. ?Aqui, não pode ter o eu e sim o nós?, disparou Mário César.

O clima no clube ficou tenso após a derrota para o Botafogo, no último sábado. O técnico Luiz Carlos Barbieri não gostou do rendimento de alguns jogadores. Borges foi cobrado por duas oportunidades desperdiçadas e Sandro, criticado, disse que as cobranças à margem do campo o desconcentraram. Barbieri admitiu ter se excedido ao gesticular nos sucessivos erros dos atacantes. ?É que era um jogo para ganhar. Perdi a calma pela forma como fomos derrotados?, revelou.

?Há hierarquia no clube. Mas, o bom senso deve sempre prevalecer. Por isso, esclarecemos tudo ali dentro. O Paraná segue forte em busca de seu objetivo?, garantiu Mário César. O volante saiu em defesa do treinador sobre a queda no aproveitamento do time no 2.º turno. ?O time está jogando bem. Talvez tenhamos feito dois jogos ruins. Os resultados só não foram melhores porque nesta fase da competição, tudo fica mais difícil?, comentou.

Borges disse, antes mesmo da reunião, que só evitou dar entrevistas no sábado porque estava com a cabeça quente. ?Poderia falar algo, no calor do jogo, e prejudicar não só a mim como ao clube. Por isso fui para o ônibus sem falar com ninguém?, disse. Além da cobrança do técnico, Borges teria reagido a comentários de outros jogadores, insatisfeitos com o resultado. ?Se eu acerto, sou craque. Se erro, sou fominha?, desabafou. ?Jogo da mesma forma desde que cheguei aqui. Só que não sou perfeito.?

Para o grupo, a reunião foi a melhor forma de agrupar os jogadores e manter a mobilização para os quatro jogos finais. ?O estresse é até normal num momento como esse. Temos é que manter o foco e terminar bem o ano, como o melhor time paranaense deste Brasileiro?, finalizou o zagueiro Daniel Marques.

Plataforma de cada um pro futebol

Nem todo associado demonstra interesse quando o assunto é futebol. Mas, no Paraná, essa é uma fatia extremamente significativa. Mesmo com a divisão de receitas, um lado sempre socorre o outro nas emergências. Depois de penar em temporadas recentes com o risco de rebaixamento, o Tricolor fecha o ano em alta e perto de consolidar a sua melhor campanha em um Campeonato Brasileiro. José Carlos de Miranda, se eleito, já garantiu a manutenção de toda a estrutura do atual departamento de futebol.

José Domingos seguiria na vice-presidência de futebol, com Durval Lara Ribeiro e Zeomar Marquetti na função de diretores. ?Sempre temos contra nós o fator financeiro. Mas o trabalho desenvolvido nesta temporada foi muito bom, das parcerias ao resultado de campo?, lembrou Miranda. O presidente, confiante na reeleição, tem planos ambiciosos. ?A primeira meta é a manutenção de grande parte do atual grupo. Com isso, queremos recuperar o título estadual e, no próximo Nacional chegar, quem sabe, à Libertadores. Com os pés no chão, é claro!? Na atual temporada, além de realizar sua melhor campanha na Copa São Paulo de Juniores, o Paraná chegou às finais dos principais torneios estaduais envolvendo equipes de base.

Já Sérgio Junqueira, que diz só entender de futebol como torcedor, promete se assessorar de pessoas com profundo conhecimento técnico para reformular principalmente as categorias de base. ?Tenho como colaboradores o Marcos Falopa e Édson Marcos de Godói?, comentou. ?Eles são estudiosos da matéria, com conhecimento daquilo que é feito no exterior. Imagino a implementação de uma preparação ao estilo europeu para os nossos pratas-da-casa?, disse. Junqueira sabe que se eleito terá como desafio impedir que o processo de transição seja traumático, já que todos os atuais diretores ligados ao futebol pertencem ao grupo da situação.

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