Decepção

Para torcedores, clássico de uma torcida enfraquece o espetáculo

A preferência da diretoria do Atlético na manutenção do acordo feito com o Coritiba para que os dois clássicos pelo Campeonato Brasileiro fossem realizados com torcida única é um forte indício que os próximos duelos entre atleticanos e coxas-brancas, a partir do ano que vem, aconteçam com apenas uma torcida nos estádios. Por isso, o embate entre Coxa e Furacão, amanhã, às 16h20, no Couto Pereira, que já foi disputado nas décadas de 80 e 90 com a capacidade dividida dos estádios, pode ficar na história também como o último em que as duas torcidas estarão presentes juntas no maior clássico do futebol paranaense.

Na edição de ontem da Tribuna, o historiador da Unicamp, Vitor Canale, que desenvolveu um estudo sobre torcidas organizadas, frisou que realizar um clássico com torcida única não combaterá possíveis confrontos e acabará com a disputa saudável de um grande duelo regional. “Acredito que a torcida única só vai tornar o futebol mais chato e pasteurizado”, resumiu Canale.

A tendência da realização de clássicos Atletiba com torcida única, a partir de 2015, sobretudo com o desejo do presidente atleticano, Mário Celso Petraglia, em não receber a torcida alviverde na nova Arena da Baixada, não agradou as diretorias das torcidas organizadas de Atlético e Coritiba. O presidente da Império Alviverde, Reimackler Graboski, é contrário a participação de apenas uma torcida dentro dos estádios e afirmou que essa medida, caso seja adotada, não terá o poder de diminuir os confrontos entre torcedores rivais em outros pontos da cidade.

“A violência ocorre a quilômetros dos estádios e não apenas nos jogos. Acontece muito longe. Acredito que a festa tem que ser com as duas torcidas, desde que elas se comportem, dando o exemplo tanto dentro, quanto fora das arquibancadas. Somos contrários a realização de clássicos com uma torcida só, desde que haja a cooperação dos dois lados e os problemas sejam minimizados”, destacou.

Para o presidente da organizada coxa-branca, medidas como essa enfraquecem o futebol paranaense e tornam o espetáculo cada vez mais chato. “Estão tornando o futebol mais chato. Está virando um espetáculo de teatro, onde todos precisam assistir sentados, olhando para a peça e não se pode gritar, pular, apenas bater palma. Está fora do contexto em que acreditamos”, acrescentou Graboski.

Presidente da torcida organizada Os Fanáticos, Adilson ‘Thirso’ Pereira também é contrário a realização de clássicos contra o Coritiba com apenas uma torcida e que, medidas como essa estão acabando com o futebol paranaense. “Não concordo com isso. Acho uma palhaçada. Estão acabando com o nosso futebol e a nossa diretoria quer acabar com a torcida organizada também. Eles têm culpa nisso, pois não venderam ingressos para a nossa torcida na Arena e, por isso, torcedores precisaram ir até o Couto Pereira para comprar os ingressos”, lamentou.

Pereira destacou também que a presença das duas torcidas dentro do estádio em clássicos é mais um atrativo para o torcedor que vai aos jogos. “Dentro do estádio dificilmente acontece alguma coisa. Ano passado aconteceu em Joinville por culpa da direção do Atlético, que não colocou seguranças e policiamento dentro do estádio. As broncas mesmo acontecem nos bairros. Nosso papel é fazer a festa e cantar para apoiar o time do início ao fim do jogo. A festa das torcidas é um atrativo a mais nos clássicos e nossa prioridade é sempre ajudar o clube”, finalizou.

Normalidade

O presidente do Coritiba, Vilson Ribeiro de Andrade, tratou como normal a escolha do Atlético em manter o acordo feito para que o clássico do segundo turno fosse realizado apenas com a torcida coxa-branca, no Couto Pereira. “Foi feito um acordo com o Atlético. No primeiro turno o Coritiba também não vendeu ingresso com medo da violência. O Atlético está cumprindo a mesma coisa. Tudo está acontecendo normalmente e o Atlético está cumprindo o acordo de cavalheiros feito no primeiro turno comigo”, explicou o mandatário alviverde.

Para o Ministério Públi,co, o Coritiba, ao comercializar os ingressos, está cumprindo o Estatuto do Torcedor de disponibilizar 10% da capacidade total do estádio para a torcida visitante. “O visitante tem direito a 10% da capacidade do estádio e a princípio não tem nada a ver com torcida única. Por isso, haverá duas torcidas normalmente e sem problemas”, arrematou o responsável pela Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor, Maximiliano Deliberador.

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