Quarta-feira, 15h30. Ele trocou a concentração de um quarto de hotel pelo conforto de seu apartamento. Deixou de lado os números e estatísticas e leu livros que lhe fizeram rever conceitos. Abandonou o trato diário com os dirigentes. Deu palestras para grandes empresas brasileiras e multinacionais. Foi aos EUA na formatura do filho Matheus e para a Europa assistir aos jogos decisivos da Liga dos Campeões. Ficou mais com a família e a mulher Rose. Tite está curtindo a vida.
“Se estivesse trabalhando, a essa hora, dia de jogo, minha adrenalina estaria lá em cima”, disse o técnico, que interrompeu sua nova e agradável rotina para falar com o Estado.
Após vitoriosa passagem pelo Corinthians, Tite recusou ao menos seis convites de clubes de ponta da Série A. Está se reciclando para voltar ao trabalho depois da Copa. Em quase 1h30 de bate-papo, Tite falou de tudo. Do que viu na final da Liga dos Campeões, dos jogos que vai assistir na Copa do Mundo, do favoritismo da seleção brasileira, das virtudes de Felipão e da possibilidade de assumir o cargo caso fique vago após o Mundial. “Não sei se (a CBF) procura, mas num caderno de quatro, cinco nomes, eu vou estar porque o trabalho me credenciou a isso.” O silêncio só veio quando as perguntas remetiam ao Corinthians de Mano Menezes. A seguir, os principais trechos.
Agência Estado – O que você achou da final da Liga dos Campeões?
Tite – Foi abaixo tecnicamente do que eu imaginava. Em termos emocionais foi muito forte e fiquei com a seguinte conclusão pós-jogo: o quanto o Corinthians foi bem emocionalmente na final do Mundial e da Libertadores. Nós conseguimos apresentar o futebol que nos tínhamos. Esses momentos de pressão te inibem, te fazem arriscar menos, você se amedronta tamanha é a dimensão do jogo.
Agência Estado – Foi bom esse tempo longe dos gramados?
Tite – No geral sim, até mesmo porque é necessário reciclar, tenho a consciência disso. É necessário olhar para trás. É a busca por conhecimento. Só não tive título em seleções, mas não posso achar que estou com uma fórmula pronta. Esse é o primeiro passo.
Agência Estado – Sendo específico, em que você precisava se reciclar?
Tite – A escolha de atletas. Por exemplo, cometi um erro no Corinthians. Estávamos acostumados a jogar com pivô e aí ficamos sem pivô, 17 jogos de 38 sem pivô (no Brasileirão de 2013). Ah, mas tinha ganho a Libertadores com jogadores de movimentação, mas já não tínhamos o Paulinho, já não tinha um meia de infiltração, como Alex.
Agência Estado – Foi difícil recusar convites de trabalho?
Tite – Sim, não é fácil. Mas eu estava muito convicto que era preciso. Tive dificuldade quarta-feira à noite quando a adrenalina batia… aí você acordava no outro dia e pensava: pô, preciso estar ali no campo.
Agência Estado – O quanto a possibilidade de assumir a seleção brasileira depois da Copa, claro, caso o Felipão deixe o cargo depois do Mundial, pesou nessa sua decisão?
Tite – Ela pesou, ela pesa. Mas pesa mais o fato de terminar um ciclo. Acaba um ciclo, abrem outras perspectivas. São de seleções, são de clubes, daqui e do exterior também.
Agência Estado – Se o Felipão não continuar no cargo depois da Copa, acredita que a CBF vai procurar você?
Tite – Não sei se procura, mas num caderno de quatro, cinco nomes, eu vou estar porque o trabalho me credenciou a isso. As passagens vitoriosas no Grêmio, no Internacional, no Corinthians. Foi a construção de um trabalho. Todos os títulos em níveis profissionais que ganhei: segunda divisão, regional, sul-americana, Libertadores, Brasileiro, Mundial, todos eu tenho. Então acaba me credenciando a ser um deles, mas há outros quatro juntos, vai depender do perfil.
Agência Estado – Como a seleção do Felipão chega para disputar a Copa?
Tite – Forte, forte, com a força da construção de uma equipe. Ele (Felipão) teve grandes méritos e o Parreira também: jogadores executam as funções que executam nos seus clubes. O Oscar joga onde gosta, o Neymar joga onde gosta, na esquerda, eventualmente ele roda, mas não é na direita.
Agência Estado – O Brasil é o favorito ao título?
Tite – O Brasil não é o único dos favoritos, é um dos favoritos ao título. Estrategicamente a comissão técnica está colocando como favorito, para tirar um pouco (a pressão) dos atletas. Mas a verdade é que ela sabe que tem o Brasil, a Alemanha, a Argentina… eles têm um grande favoritismo.