O drama do São Paulo em 2017 nada mais é que o resultado de uma “acomodação a que o clube escolheu se submeter depois do último período de glórias do time, que terminou em 2008”. A avaliação é do ex-técnico Muricy Ramalho, que comandou a equipe tricampeã brasileira em 2006, 2007 e 2008 e que acredita que o sufoco deste ano vai ser decisivo para que o São Paulo volte a ser o que era.

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Ao Estado, ele diz que a queda do time tricolor no Campeonato Brasileiro seria uma grande surpresa, já que, em sua avaliação, o clube tem o melhor plantel entre as mais de 10 equipes que lutam para ficar na Série A em 2018.

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Aposentado como técnico desde o ano passado, Muricy Ramalho foi acionado recentemente para atuar como coordenador de futebol do São Paulo. Negou por ter contrato assinado com uma emissora de TV, mas se colocou à disposição a ajudar como consultor informal da comissão técnica. Considera a possibilidade de retornar a algum clube, como coordenador, após a Copa do Mundo de 2018.

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Para Muricy Ramalho, o equilíbrio do Brasileirão, com tantos times brigando na parte de baixo da tabela de classificação, revela um grande problema: o maior campeonato do País piorou tecnicamente. Entre os principais motivos estão a venda de bons jogadores para o exterior e a falta de competência das diretorias em repor as peças.

Muricy Ramalho falou sobre a briga pelo título do Brasileirão. Disse que o Corinthians tem vantagem, mas vê Grêmio e Santos ainda como possíveis candidatos a tirar o título do clube alvinegro. Sobre a seleção brasileira, fez um alerta: apesar do bom momento, o time do técnico Tite precisa medir forças contra selecionados europeus.

Como o São Paulo vai evitar o primeiro rebaixamento de sua história?

Não conseguir uma sequência de vitórias faz a diferença, mas vejo uma melhora na equipe. Dorival Junior conseguiu pontos importantes e o time está empenhado para sair desse momento. O São Paulo tem um plantel melhor do que os outros que estão brigando para não cair. Seria uma surpresa se um time com o plantel do São Paulo fosse rebaixado.

O que fez a temporada do São Paulo ser tão dramática?

O time mudou muito. Os jogadores que o Rogério (Ceni) tinha, alguns tiveram de ser vendidos, o treinador também mudou. Isso tudo prejudica muito até que o grupo consiga se estabelecer em uma nova filosofia de trabalho.

Como tem sido sua relação com a comissão técnica do São Paulo?

Expliquei ao (presidente) Leco e ao (diretor executivo de futebol) Vinicius Pinotti que não poderia assumir o cargo de coordenador de futebol, e que só poderia ajudar com palavras e com minha opinião, caso a comissão quisesse. Sou muito amigo do Dorival e sempre antes dos jogos conversamos, desejo boa sorte e força. Falei para ele que o treinador tem de ter tranquilidade e confiar no trabalho dos jogadores. Uma palavra amiga ajuda, passa confiança.

Ter sido acionado para ajudar o time fez você repensar sobre a aposentadoria como técnico?

Está fora de cogitação voltar a ser treinador. Fui convidado várias vezes, por vários times grandes, mas não quero. Em outro cargo, sim. Outros times já me procuraram para ser coordenador de futebol. Expliquei que não posso até o fim do meu contrato com a TV (é comentarista do SporTV), em 2018. Depois da Copa, é possível.

Você estava no São Paulo no primeiro retorno do Kaká ao Morumbi, em 2014. O que pensa da possível volta do meia em 2018?

O São Paulo tem que investir nesta possibilidade. Vale a pena por tudo. O Kaká é diferenciado, um baita jogador e um exemplo para o grupo. O time precisa de um cara como ele, faria uma diferença também no ambiente, então valeria muito a pena.

O São Paulo só conquistou um título de 2008 para cá (a Copa Sul-Americana, em 2012). O que aconteceu?

A boa fase de 2006 a 2008 fez o São Paulo achar que sempre iria ganhar tudo. Por isso, se acomodou. Isso acontece com os seres humanos. Aí, os adversários que sempre viam o São Paulo na frente não perdoaram. O time se acomodou e agora precisa retomar o que era naquele momento. O São Paulo saía na frente em tudo, nas contratações, na tecnologia, e agora a diretoria sabe que precisa retomar o crescimento. Tem de voltar a pensar em títulos mesmo e para isso tem de se organizar, pensar novas ideias, fazer bons negócios e voltar a ser o que era.

O rebaixamento seria o preço mais caro que o São Paulo pagaria por essa “acomodação”?

O São Paulo não vai cair e a coisa vai mudar. O susto está muito grande. O sofrimento está muito grande. Jogadores e dirigentes sofrem muito, não podem andar na rua… Este ano vai fazer o São Paulo dar uma volta por cima, pode ter certeza. Ninguém gosta de sofrer.

O que esperar da reta final do Campeonato Brasileiro?

O campeonato continuará emocionante, mais na parte de baixo do que na parte de cima. Mas um torneio em que mais de dez times lutam para não cair não é um campeonato bom. Tecnicamente, este ano está sendo muito ruim. As equipes estão oscilando demais, não tem uma equipe com futebol marcante, de uma característica só. Os últimos colocados ganham dos primeiros, tudo está muito parecido e nivelado, e o equilíbrio entre os times é reflexo da queda na qualidade técnica.

O que causa essa queda na qualidade do torneio?

Nossos principais jogadores estão fora do País. Isso faz o nível técnico ir lá para baixo. Toda vez que a gente revela um bom jogador, como foi com o Gabriel Jesus, ele já vai embora. E não tem como segurar esses jogadores. Eles querem ir embora. Eles sonham em jogar lá fora. Não tem como competir com o dinheiro de fora. O que as diretorias têm falhado é na reposição desses jogadores. Essa reposição não está sendo boa. O dia em que o planejamento e a questão econômica dos times melhorarem, aí talvez melhore.

A disputa pelo título nacional está aberta?

Tudo pode acontecer, mas o Corinthians tem muita chance. O time fez um grande primeiro turno e agora, mesmo tendo caído em rendimento, continua na frente. O Grêmio e o Santos tiveram outras competições e largaram um pouco o Brasileiro, mas os dois ainda têm chance. Outros que poderiam incomodar, como Palmeiras e Flamengo, estão muito irregulares.

Como você vê a quantidade de trocas de técnico durante este Brasileiro até aqui? Foram 21 até este sábado.

Muita troca de técnico significa que as gestões não têm convicção do que fazem. Os dirigentes precisam perceber que essas mudanças não resolvem nada. O que precisa é de análises e pesquisas para saber o tipo de técnico ideal para o planejamento da equipe. Os dirigentes precisam entender o que significa quando o time troca várias vezes de técnico e não sai do lugar.

A seleção brasileira está pronta para trazer o hexacampeonato no ano que vem?

O Brasil tem um time perto da perfeição tática, passa por um grande momento, mas não dá para achar que está tudo certo. Todo mundo estava feliz em 2013 depois da Copa das Confederações… A seleção precisa medir forças com seleções europeias. Estamos muito à frente na América do Sul e agora vamos colocar este grupo para enfrentar equipes que estão em outro patamar.