Para Márcio, ficar no Coxa é um “presente”

Desde o último jogo do Coritiba, no dia 4, até hoje, passaram-se três semanas, e em parte deste período o clube ficou sem treinador.

Isto porque a indefinição política, só resolvida na segunda-feira, fez com que a renovação de Márcio Araújo emperrasse, mesmo que anunciada seis dias antes. Assim, o técnico ficou sem saber se seria o responsável por tentar fazer o Coxa voltar à Série A em 2006.

Com o final do imbróglio eleitoral, Márcio pode se considerar, de novo, técnico do Coritiba. E pela primeira vez ele poderá iniciar um trabalho no qual em nenhum clube, que comandou, isto aconteceu. A possibilidade mais real de preparar uma equipe para um ano inteiro aconteceu exatamente no Coritiba, na virada de 1999 para 2000, mas o treinador preferiu ficar perto da família e não aceitou a proposta de renovação.

Agora, com os filhos mais velhos, Márcio Araújo encara a primeira pré-temporada da carreira, e o maior desafio que ele teve desde que começou a trabalhar como técnico. E, nesta entrevista, ele fala sobre a necessidade de fazer o Coxa subir, e do que o time precisa (dentro e fora de campo) para se transformar em vencedor.

O Estado – Por que você aceitou ficar no Coritiba?

Márcio Araújo – Eu pedi um final de semana para conversar com meus filhos, porque este é um ano de renúncia de todos nós, para conseguirmos o que o Coritiba tanto precisa e tanto espera. Resolvi as coisas em casa, e liguei para o clube avisando que estava tudo certo. É o que eu quero, eu prefiro ficar aqui, é onde eu pretendo trabalhar, quero viver este desafio. Da mesma forma que eu estive aqui quando o time caiu, quero estar no dia em que o time subir. Vamos trabalhar para isto.

O Estado – O que passa pela tua cabeça ao renovar o contrato e finalmente começar uma temporada trabalhando?

Márcio Araújo – Você sabe que eu tive, dentro da minha vida, muita dificuldade em concretizar isto. Peguei sempre os times em uma situação complicada, tendo que consertar alguma coisa. Era como se fosse um paciente com um problema grave, e que só poderia tomar um remédio. Agora é diferente, mas o que me deixa mais empolgado é o desafio de ter um ano muito competitivo para o Coritiba, de importância fundamental na história do clube. Eu me sinto entusiasmado por isso, por poder trabalhar e pensar em ganhar o Campeonato Paranaense, a Copa do Brasil e a Série B. E você pode entrar na história destas três competições. O que mais eu quero? É um clube que paga em dia, que tem estrutura, com gente capaz na comissão técnica e na diretoria. É um desafio fantástico, vai provocar em mim trabalho e dedicação. Sai uma vibração pela oportunidade de fazer de 2006 um ótimo ano para o Coritiba e de ter a chance de participar disto.

O Estado – Você entrou para a história como o técnico que rebaixou o Coxa para a Série B. Sua vontade de ficar é para ser o treinador que subiu para a Série A?

Márcio Araújo – Eu acrescentaria o seguinte: eu entro na história como o treinador que não teve o medo de vir na hora difícil. Que fez o melhor, e que pôde, junto com os jogadores, mudar o astral do elenco, que era desfavorável. Que veio sem remédio, mas com dedicação, com paixão, com amor. Eu entro na história como um ser humano que não teve medo de trabalhar com os seres humanos. Eu acrescento estas coisas. E este ano marca a possibilidade de entrar na história que também subiu o Coritiba para a primeira divisão.

O Estado – O Coritiba precisa de quantos jogadores para esta temporada?

Márcio Araújo – Nós temos no primeiro semestre duas competições e o começo do brasileiro. Vamos pensar em 29, 30 jogadores, porque é um período que você tem contusões, tem suspensões. Mas o importante é que nós acertemos nas contratações, que elas dêem resultados. Se isto acontecer, nosso caminho para o sucesso vai ficar mais curto. O duro é ter dificuldades, quando o jogador não corresponde. Aí você tem que mandar embora, recontratar, aí você perde um pouco de tempo. É preciso ter um elenco preparado para o ano que o Coritiba vai enfrentar, nas três competições. Isto já é meio caminho andado.

O Estado – É possível fazer isto até o dia 3?

Márcio Araújo – Dá tempo de fazer isto para o ano. Até janeiro você pode conseguir, mas o resultado não vai aparecer no início do Campeonato Parananese. Você começa a trabalhar no dia 3 de janeiro, e estréia no dia 11. É evidente que a gente vai trabalhar o elenco para o ano todo. Já no começo, a gente vai mostrar resultados, mas não vamos atropelar todo mundo desde o dia 11. O torcedor foi inteligente durante o ano, e a gente apela para esta inteligência. É fundamental os torcedores saberem que a gente está no caminho certo.

O Estado – Você tem uma ligação forte com seus familiares, tanto que não aceitou a proposta de renovação com o Coritiba para o ano 2000. Você também está renunciando algumas coisas para trabalhar no clube?

Márcio Araújo – Eu estou renunciando à presença muito perto dos meus filhos. Eu tenho um filho de 17 anos e um de 13. Você imagina a importância da figura paterna para estes dois jovens. Mas é esta a minha profissão, e é um desafio muito importante na minha carreira. Não poderia ir embora. Eu não tinha o direito de fazer isto.

O Estado – É o presente de Natal que você queria?

Márcio Araújo – Presentaço! Ficar no Coritiba, com o entusiasmo de todos nós, foi a melhor coisa que aconteceu para mim. Não sei se eu merecia um presente tão importante de um clube tão grande, que me valorizou, que gosta de mim. Foi um baita presente, e eu quero agradecer muito quem me deu este presente. Foi a coisa mais importante que aconteceu para mim em 2005, a possibilidade de continuar trabalhando no Coritiba.

O Estado – O que dizer, então, para o torcedor?

Márcio Araújo – Primeiro, cumprimentá-lo pelo que eles fizeram nos jogos finais. E esta é uma demonstração do que ele pode fazer: estar presente no clube, torcer pelo clube, apoiar o clube. Neste 2006, todo mundo precisa renunciar alguma coisa, e o torcedor, as vezes, renunciar à passionalidade, à vaia, à crítica. Sem ele, o clube não tem sustentação. Precisamos ter solidez na nossa base. Depois, pode cobrar, porque é o direito dele.

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