São Paulo – Só ontem, um dia depois de Vágner Love ter falado como jogador do Corinthians, o site da Mancha Alviverde na Internet caiu três vezes. Os protestos chegam de todas as partes, inclusive do exterior. Os palmeirenses estão revoltados.
E a situação está ganhando proporções assustadoras, a ponto de os líderes da organizadas não saber o que pode acontecer com o ex-atacante do Palmeiras. "É bom ele tomar cuidado. Andar pela rua pode ser perigoso. Na nossa linguagem, no nosso mundo, o Vágner Love é um sem-vergonha. Um traíra. O que ele está fazendo com o Palmeiras não tem cabimento", disse furioso o presidente de honra da torcida organizada, Paulo Serdan.
O ódio não é exclusivo da Mancha. De acordo com Serdan, as manifestações de repúdio são do torcedor comum, muitos dos quais nem são associados. Por isso mesmo, aconselha: "É complicado. Não é só a Mancha que está revoltada. O Vágner tem que tomar cuidado porque a revolta é grande. Ele mexeu com a paixão dos outros. E quando está em jogo a paixão, qualquer coisa pode acontecer".
No caso da Mancha Alviverde, a bronca maior é pelo fato de a organizada ter dado total apoio ao atacante quando ele mais precisou. Na época da Segunda Divisão, a torcida praticamente ?bancou? a sua escalação depois que o jogador foi flagrado nas ?baladas?. E quando Vágner optou por jogar no CSKA, da Rússia, a Mancha também apoiou. Só não imaginava que ele fosse voltar seis meses depois. E justamente para o Corinthians. "Se ele quisesse voltar ao futebol brasileiro, poderia ser para jogar num clube fora de São Paulo. No Flamengo, no Fluminense, no Grêmio, em qualquer outro que não fosse daqui. Menos no Corinthians".
A questão nem é só a rivalidade entre Palmeiras e Corinthians. De acordo com Serdan, o maior problema serão as humilhações. "Já pensou como será a tiração de sarro? E o pior é que todos nós nos expusemos. Quando ele estava afastado, pedimos a escalação dele. Eu me expus, o torcedor palmeirense se expôs. O que o Vágner fez foi uma tremenda falta de respeito com o Palmeiras e com a torcida palmeirense. Mas a gente sabe que o dinheiro fala mais alto".
Por causa de Vágner Love, a Mancha resolveu fazer um protesto em pleno Parque Antártica, amanhã, durante as eleições presidenciais, que serão realizadas no clube, a partir das 20h. Na teoria, a torcida não tomará partido político no pleito. Na prática, porém, a postura será contra o candidato da situação, Afonso Della Mônica.
A Mancha também não perdoa o presidente Mustafá Contursi o homem que vendeu Vágner Love. "A gente não se envolve na eleição, mas vamos colocar o nosso ponto de vista", avisa Serdan. "O tempo provou que o Mustafá poderia ter segurado um pouco mais o Vágner no Palmeiras. E que depois de seis meses ele poderia ser negociado pelo dobro. Só espero que os conselheiros tenham essa consciência na hora de votar".
Palmeiras espera lucro e elege presidente
São Paulo – Mustafá Contursi está de saída do Palmeiras, após 12 anos na presidência. O dirigente vinha se recusando a comentar o momento político do clube, que elegerá novo comandante amanhã – Afonso Della Mônica, da situação, deve ser o escolhido na votação contra Seraphim Del Grande, da oposição. Mas ontem ele resolveu fazer um balanço de sua administração e, inevitavelmente, teve de opinar sobre a polêmica transferência do atacante Vágner Love para o rival Corinthians, depois de passar pelo CSKA, da Rússia.
"A obrigação dele é fazer gols. Espero que ele faça, mesmo, e seja feliz", afirmou Mustafá. Na visão do dirigente, sócio do Palmeiras desde 1951 e em vários cargos de comando desde 1959, a volta de Vágner Love será benéfica para o futebol brasileiro e para o próprio clube do Palestra Itália. "Estamos ansiosos, porque temos direito a uma porcentagem importante na negociação", disse o presidente -participação palmeirense está em torno de 10 % a 20%, em caso de venda.
Mustafá não se abalou nem com as declarações de Vágner Love, de que "se fizer um gol no Palmeiras, vai comemorar, mesmo". Para o presidente, é uma forma do jogador se afirmar. "Ele precisa dizer essas coisas para conquistar espaço no novo clube", comentou. "Não há insulto, ele esteve nos visitando, esta semana, conversamos num clima amistoso."
Mustafá também rebateu as acusações dos rivais de que seria "ditador" e "antidemocrático", ao se prolongar no comando do clube por tantos anos. "O Conselho Deliberativo toma todas as decisões, nunca decidi nada sozinho", garantiu. "Mas não sei se a democracia é a melhor forma de administrar. Para isso, é preciso ter competência."
A explicação para deixar o cargo está na própria história do clube: não quer ser presidente por mais tempo do que Delfino Facchina – na sua opinião, "o melhor que o Palmeiras já teve" -, cujo primeiro mandato foi entre 1959 e 1971.
Mas Mustafá não sairá de cena. Garante que não vai interferir na nova administração, pois Della Monica tem um estilo diferente de comandar -"ele é mais organizado e metódico do que eu", confessou.
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