Alguns dos mais tradicionais e poderosos comitês olímpicos nacionais se unem e apelam para que o Comitê Olímpico Internacional (COI) modifique de forma radical a maneira pela qual cidades são escolhidas para sediar os Jogos Olímpicos. Depois dos custos elevados de Sochi e dos atrasos no Rio de Janeiro, uma proposta conjunta foi apresentada ao COI nesta semana para garantir Jogos mais econômicos, mais transparentes e exigências mais flexíveis e adaptadas ao país-sede. A Fifa e a Uefa também estudam reduzir o tamanho de seus eventos.

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O projeto, considerado internamente no COI como “revolucionário”, foi apresentado pela Alemanha, Suíça, Suécia e Áustria. Todas tem comum o fato de terem tentando apresentar suas candidaturas para sediar o evento. St Moritz na Suíça, Munique na Alemanha, Estocolmo na Suécia, Oslo na Noruega e Viena na Áustria planejavam sediar Jogos Olímpicos. Mas todos os projetos foram barrados por seus governos e cidadãos, que se recusaram a pagar pelos custos dos eventos.

Segundo os dirigentes, dois eventos em 2014 influenciaram nesta decisão: os russos realizaram os Jogos Olímpicos de Inverno mais caros da história, equivalente ao custo de quatro eventos similares no passado. Há uma semana, terminou no Brasil a Copa mais cara da história. Só em estádios, o evento nas cidades brasileiras somou mais de R$ 8,5 bilhões.

Poucos dias depois da Alemanha sair com seu tetracampeonato, um projeto chegou até a sede do COI em Lausanne. “Nossa proposta visa reforçar os valores olímpicos, reduzir a complexidade dos Jogos e favorecer a sustentabilidade, a transparência e a flexibilidade para as candidaturas no futuro”, declaram os quatro países que redigiriam as 15 páginas da proposta elaborada durante meses.

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O raciocínio é de que, em democracias, está cada vez mais difícil concorrer contra países emergentes que usam os megaeventos como cartão de visitas e estão dispostos a gastar muito dinheiro, sem necessariamente ser transparente.

A proposta, portanto, pede que o COI assuma algumas responsabilidades para reequilibrar essa concorrência. O principal apelo é para que a entidade “compartilhe os riscos dos eventos de forma mais equitável”. Ou seja, que não coloque apenas o ônus de organizar o evento nas costas do país-sede, enquanto o COI apenas faz exigências e sai com o lucro garantido.

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Outro elemento é adaptar o evento ao país ou cidade-sede. Hoje, uma das maiores críticas é de que o COI faz as mesmas exigências para todos. “O processo precisa ser mais flexível”, defende o documento.

“Os poderes públicos e os políticos temem os custos elevados para se candidatar e organizar os Jogos, em particular depois da explosão dos custos de Sochi”, indicou o projeto. O documento está na mesa do presidente do COI, Thomas Bach, que promete analisar a ideia para o processo de escolha dos Jogos de 2022 e 2024.

DIMENSÃO – Ele não é o único. Em setembro, a Fifa vai se reunir com o governo russo para tentar convencer Moscou a reduzir o número de sedes da Copa de 2018. Depois da experiência do Brasil com 12 cidades, a entidade acredita que o torneio pode ser feito em apenas dez locais, o que reduziria custos e ajudaria nos deslocamentos. Mas, principalmente, reduziria o risco de acusações de estarem erguendo “elefantes brancos”.

Em resposta à reportagem ao ser questionado sobre o futuro dos estádios no Brasil, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, deixou clara sua preocupação. “Esse é um ponto de interrogação”, declarou.

Outro que defende uma redução nos custos dos megaeventos é Michel Platini, presidente da Uefa. “Eu acho que um volume demasiado de dinheiro está sendo gasto na organização de torneios como a Copa do Mundo e acho que isso precisa ser examinado no futuro”, declarou à reportagem. “O país sede e o comitê organizador terão de cuidar mais dos volumes enormes de dinheiro que são gastos. Isso é algo que estamos considerando cada vez mais em nossos torneios da Uefa”, explicou.

“Para a Eurocopa de 2020 da Uefa, por exemplo, ela ocorrerá em 13 países diferentes. Isso significa que os custos serão repartidos e o investimento individual de cada nação não será muito grande”, completou o ex-jogador.