A saída de cena de Massa marca o fim de uma longa tradição em Interlagos. Realizada desde 1972, a prova será disputada a partir do ano que vem pela primeira vez sem a presença de pilotos brasileiros. O País tem contrato firmado para continuar no calendário de corridas da F-1 até 2020, mas sem saber se voltará a ter representantes dentro deste prazo.
Portanto, uma longa série de quatro décadas com brasileiros correndo em solo nacional na categoria será finalizada hoje, a partir das 14 horas. No total, será o fim de uma sequência de 47 anos na categoria, a contar de 1970, quando o lendário Emerson Fittipaldi estreou na competição. Outros campeões e bons pilotos surgiram no País.
Na próxima temporada, em 2018, nenhum piloto brasileiro está confirmado até agora na categoria. Não há, portanto, para quem torcer na Fórmula 1.
O último ano em que o Brasil não teve pilotos na competição foi em 1969. Faz tempo. Em quase 70 anos de história da Fórmula 1, foram 31 representantes brasileiros. A temporada atual sela o adeus definitivo do último corredor da categoria, que cancelou a aposentadoria prometida em 2016 para esticar um pouco mais a presença do País.
Era para ser Felipe Nasr, mas ele não conseguiu seguir no campeonato porque não renovou seu contrato com a Sauber ao fim da temporada passada. O brasiliense, que disputou dois torneios, ficou sem vaga neste ano e, diante da falta de oportunidades, fechou contrato para correr numa categoria americana pouco conhecida no Brasil.
A situação de melancolia pelo presente e o futuro duvidoso surpreendem os envolvidos com a categoria. “O mais impressionante para mim é que em todos esses anos os brasileiros sempre apoiaram os seus pilotos, seja quem fosse. O Brasil produziu grandes nomes. É uma pena (não ter ninguém)”, comentou o escocês Jackie Stewart, tricampeão mundial.
O ex-piloto de 78 anos foi rival de Fittipaldi e já teve a própria equipe durante três temporadas. Baseado em sua experiência na, Jackie analisa que falta ao Brasil recuperar o patrocínio de empresas locais. “Automobilismo precisa de suporte financeiro. A França, em uma ocasião, tinha um programa de desenvolvimento de pilotos bancado por uma companhia petrolífera. Não por acaso, o país chegou a ter sete pilotos no grid”.
Stewart preferiu amenizar a situação brasileira ao justificar que o campeonato da F-1 é disputado todos os anos, diferentemente de outras grandes competições mundiais, como Copa e Olimpíada – a cada quatro anos. E esse maior volume de competição dificulta a manutenção de uma regularidade no desenvolvimento de pilotos.
Campeão desta temporada e fã do automobilismo brasileiro, além do futebol, o inglês Lewis Hamilton lamentou a ausência de representantes do País. “O Brasil sempre produz vários talentos na Fórmula 1. Tive o prazer de competir com o Felipe e outros que também eram excelentes pilotos. Espero que vocês tenham algum representante em breve”, comentou o inglês, que tem Ayrton Senna como seu principal ídolo na F-1.
Entre os nomes mais prováveis a aparecerem na Fórmula 1 nos próximos anos estão os descendentes de campeões mundiais. Pietro Fittipaldi, neto de Emerson, tem 21 anos e lidera a temporada da Fórmula Renault V8 3,5. Pedro Piquet, de 19 anos, é filho de Nelson Piquet e disputou a Fórmula 3 Europeia.
Quem parece estar bastante perto também é o mineiro Sérgio Sette Câmara, de 19 anos, que neste ano ganhou uma etapa na Fórmula 2, principal categoria de acesso à Fórmula 1.
Perto de encerrar uma era brasileira, Felipe Massa considera ser preciso mudar a gestão do esporte no Brasil. “Acho que o Brasil é um país muito importante para a Formula 1. Espero que possamos ter mais brasileiros correndo na categoria no futuro. Acho que é importante que a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) ajude e tenha uma mentalidade mais moderna quanto ao futuro do automobilismo”, afirmou.
A incomum ausência de representes brasileiros nas pistas da F-1 não desanima os promotores do GP do Brasil. A organização considera que a corrida em Interlagos tem um público fiel e cativo, independentemente da presença de pilotos nacionais.
O País já vive o maior jejum de vitórias da história. Em setembro de 2009, na Itália, Rubens Barrichello, então na equipe Brawn, foi o último brasileiro a ganhar uma prova.