Neymar Silva Santos, pai e empresário de Neymar, divulgou documento intitulado “Esclarecimento Público” no início da tarde desta quinta-feira para rebater as acusações de “traição” feita pelo Grupo DIS sobre a transferência do filho para o Barcelona, e também revelar informações sobre a negociação de 2013.
Em um longo documento, de 8 páginas, Neymar pai reconhece que recebeu 40 milhões de euros (R$ 128,6 milhões em valores atuais) do Barcelona para “contratar” o atleta depois de seu vínculo com o Santos e antes que ele se tornasse totalmente livre para o mercado. Nas explicações do pai do jogador, o clube espanhol pagou para que Neymar não ouvisse sequer outras ofertas, uma vez que o garoto já despertava interesse da Europa.
O Barcelona alega o mesmo. Em entrevista feita um dia depois da renúncia de Sandro Rosell, o atual presidente Josep María Bartomeu detalhou as condições da compra do atacante, reconhecendo os 40 milhões de euros pagos à empresa do pai de Neymar. Barcelona e a NN Consultoria, do pai do jogador, então negociaram o repasse do atleta após seu vínculo com o Santos. Foi por isso que o jogador pediu para encurtar seu acordo com o time da Vila em um ano, do fim de 2015 para após a Copa do Mundo de 2014. Nessa época, o então presidente do Santos, Luís Álvaro, disse que Neymar ficaria no clube até o Mundial do Brasil, o que não ocorreu.
“Realmente recebi (esse dinheiro), como indenização do Barcelona por descumprimento do contrato. Tenho certeza de que se fosse do outro lado, com o meu descumprimento, o Barcelona me cobraria também, como já externado. Se o meu filho tivesse sido transferido para outro clube, a NN Consultoria, que tem como sócios tão somente eu e Nadine, teria então, sozinha, um passivo de 40 milhões de euros. Santos F.C., DIS e Teisa não seriam corresponsáveis ou solidários em tal pagamento porque não eram parte do nosso contrato com o F.C. Barcelona”, atesta o documento.
O pai de Neymar havia recebido um adiantamento no valor de 10 milhões de euros. Portanto, tinha mais xxxxxxx R$ 30 milhões a receber do Barcelona. “Assim, por nos ter frustrado o direito de transferir e registrar, conforme previsto no contrato, o atleta na condição de atleta livre e usufruir de todos os benefícios econômicos e desportivos de tal condição (que não era pouca coisa considerando o momento do atleta no ato de sua transferência), a multa passou a ser devida e foi paga pelo F.C. Barcelona, sem violação alguma às regras da Fifa e àquelas do direito brasileiro e internacional.”
Ou seja, o Barcelona não esperou pelo fim do contrato e a empresa do pai de Neymar acionou a multa rescisória feita entre as partes, os 40 milhões de euros. Se tivesse esperado pelo fim do contrato do jogador com o Santos, o Barcelona não teria de pagar sequer os 17,1 milhões de euros. Porque a lei diz que qualquer jogador sem contrato pode negociar seu futuro diretamente com clubes interessados. Talvez a motivação do Barcelona de antecipar o acordo tenha sido o interesse do rival Real Madrid no brasileiro. O valor negociado com o clube foi então de 17,1 milhões de euros, alegam o pai de Neymar e o Barcelona.
DIREITO FUTURO – Ao longo das 8 páginas, o pai do jogador cita todas as passagens da negociação. “Para acabar por completo com a polêmica e a dúvida que cercam os tão alardeados 40 milhões de euros, esclareço definitivamente os pontos do contrato que firmei em 2011 com o F.C. Barcelona, que em sua parte principal versa de forma clara e evidente que não transacionei ‘direitos econômicos’ ou tampouco ‘direitos federativos'”, diz.
“Negociei, na verdade, um ‘direito futuro’, o direito de ‘free agent’ (todo atleta após seu vínculo de trabalho e sem contrato se torna ‘agente livre’, conforme práticas nacionais e internacionais) do meu filho e atleta agenciado de escolher o seu novo clube conforme livre escolha.”
O novo presidente do Santos, Modesto Roma Jr., mesmo a despeito do silêncio de seus antecessores, entende que o clube da Vila foi prejudicado nessa transação, e levou o caso para a Fifa, pedindo ressarcimento pelos danos causados ao clube nos valores. “O Santos considera que Barcelona, Neymar e a empresa dele incorreram em violações de contratos de transferência, em razão do que reclama indenização dos prejuízos, mais juros e despesas”, alegou o dirigente.
Da mesma forma, representantes da DIS, que compraram 40% dos direitos do jogador em 2009, por 2 milhões de euros, entendem que Barcelona e o pai do jogador não poderiam fazer esse acordo, uma vez que o atleta tinha contrato, ou no mínimo que teriam de participar de tudo isso. A DIS alega que merece sua parte também nesses 40 milhões de euros ganhos pelo pai de Neymar. Para a empresa, e também para o Santos, a venda total do contrato de Neymar engloba essa “luva” dada pelo Barcelona, totalizando valor da compra em 86,2 milhões de euros. É isso que a Justiça da Espanha, e talvez até a Fifa, terão de decidir.
No documento divulgado nesta quinta, o pai de Neymar menciona a polêmica com o Grupo DIS após seu representante declarar se sentir “traído” por Neymar. De acordo com a empresa, ele “descumpriu seu compromisso” e lesou seus direitos. “Ciente de todas as consequências legais e sob orientação jurídica, o Santos F.C. outorgou ao meu filho o direito de negociar o seu futuro, podendo desde então firmar quaisquer contratos com outras agremiações, no Brasil ou no exterior, desde que fosse respeitado o contrato vigente naquela ocasião. O Santos F.C., então qualificou o meu filho e atleta agenciado na condição de jogador livre, status que obteria a partir de 2014. Muito simples e nada mais do que isso”, afirma o empresário, que anexa o documento emitido pela presidência do Santos.
“Tendo adquirido, pois, o status de jogador livre para 2014, aditamos o contrato firmado entre a NN Consultoria e meu filho na qualidade de atleta agenciado. A partir de então, negociei com o Barcelona este direito futuro, ou seja, a prioridade de contratação do meu filho e atleta agenciado a partir de 2014.” No trecho seguinte do documento, o pai de Neymar revela o acordo com o Barcelona.
“A NN Consultoria, representante do atleta, firmou, portanto, em novembro de 2011 um contrato com o F.C. Barcelona contendo obrigações e direitos recíprocos, fixando uma cláusula penal no importe de 40 milhões de euros, devida pela parte que descumprisse os termos e condições do contrato. É importante destacar que a multa valia para os dois lados, ou seja, se a NN Consultoria descumprisse o contrato, teria de pagar tal montante sozinha ao F.C. Barcelona, sem qualquer participação ou solidariedade do Santos F.C., DIS ou Teisa.”
O pai de Neymar esclarece que Santos, DIS e Teisa não faziam parte desse novo contrato. “Nesse ponto, aliás, tem de ficar muito claro que o Santos F.C., DIS e Teisa não eram parte do contrato (nem deveriam ser) e, portanto, não participariam em conjunto com a NN Consultoria do prejuízo.” Ao Santos e à DIS, entende o pai de Neymar, cabe somente a parte paga pelo Barcelona pelo contrato do jogador, que terminaria após a Copa do Mundo, os 17,1 milhões de euros.