Enquanto os atletas brasileiros buscam uma chance de treinar no exterior, o pugilista Robson Conceição faz o caminho inverso. Depois de ser contratado como profissional pela Top Rank, uma das maiores promotoras de boxe do mundo, com a oportunidade de morar nos Estados Unidos, o baiano resolveu voltar para casa e treinar em sua terra. Ele só viaja 10 dias antes de cada luta para aclimatação. O motivo de sua escolha é simples: ficar com a família.

continua após a publicidade

O dono do primeiro ouro olímpico da história do boxe brasileiro treina na Academia Champion, em Salvador, a mesma em que ele iniciou a carreira e que funciona há 26 anos na capital baiana. O local também é um projeto social que atende, atualmente, a 300 jovens atletas.

continua após a publicidade

Robson Conceição vai manter a rotina de treinos em dois períodos até 10 dias antes do próximo combate, que está marcado para o dia 31 de outubro, em Las Vegas, nos Estados Unidos. Depois da luta, ele volta para a terrinha, tira 10 dias de folga e recomeça a programação para a luta seguinte. “O local de treinamento não faz diferença. Consigo manter o foco em Salvador ou em Las Vegas. Sou determinado. Para mim, é melhor estar perto da família. A cabeça fica melhor”, afirmou o lutador de 28 anos.

continua após a publicidade

O combate de 31 de outubro acontecerá pela categoria superpenas (até 59 kg) com previsão de oito rounds. Será a quinta luta de Robson Conceição como profissional. Nas outras quatro, foram três vitórias por nocaute e uma por pontos. Não perdeu ainda. Na última, em 21 de julho, o baiano nocauteou o mexicano Bernardo Gomez Uribe no 1.º round, em San Juan, capital de Porto Rico. O rival não deu nem para o começo.

Neste mês, a volta ao Brasil teve motivo mais que especial: o nascimento da segunda filha, Stefanie. Ninguém cogitou a possibilidade de levar a família para os Estados Unidos.

Robson Conceição encerrou a sua carreira no boxe amador no Rio-2016, quando conquistou o ouro. Antes, disputou os Jogos de Pequim, em 2008, e Londres, em 2012, além de ter sido vice-campeão do mundo em 2013 e bronze na mesma competição em 2015.

A medalha foi decisiva para que subisse de patamar aos olhos do mundo do boxe, mas ele lamenta que os ganhos individuais não tenham se estendido para os outros lutadores. “Minha medalha não mudou em nada a situação do boxe brasileiro. Pensei que mais empresas fossem patrocinar e que mais lutadores tivessem apoio, mas nada aconteceu”, criticou. “Tudo está muito difícil agora”.

O desafio é administrar a escalada rumo à “disputa do cinturão mundial”, expressão que ele repetiu umas três ou quatro vezes em conversa de meia hora com o Estado pelo telefone.

Uma carreira profissional bem-sucedida deve ser pensada estrategicamente. Por isso, é importante ter patrocinador forte. O atleta tem de fazer um cartel eficiente e, para isso, pega em suas primeiras lutas rivais estreantes ou com cartel negativo (mais derrotas do que vitórias). Conforme vai ganhando experiência, ele enfrenta gente mais forte. Caso perca em suas lutas iniciais, ele mesmo acaba virando escada para outros mais bem colocados.

O próximo adversário de Robson Conceição é o nicaraguense Carlos Osorio, que apresenta cartel modesto ainda: 13 vitórias (cinco por nocaute), sete derrotas (três por nocaute) e um empate como profissional. A expectativa é de que o brasileiro some mais uma vitória e continua sua escalada rumo à disputa do cinturão mundial – ele repete.

CAMINHO CERTO – Robson Conceição afirma que tomou a decisão certa ao abrir mão de buscar o bi olímpico em Tóquio (2020) para virar um lutador profissional. Hoje ele possui o mesmo patrocinador de grandes estrelas da modalidade como Manny Pacquiao e Julio Cesar Chávez Jr., além do também brasileiro Esquiva Falcão – este fez o contrário e se mudou de mala e cuia para Las Vegas.

Mesmo longe dos Estados Unidos, Robson Conceição recebe uma mensalidade, como ele chama, do patrocinador para treinar e custear uma equipe de profissionais no Brasil. Hoje estão ao seu lado o treinador Luiz Dórea, seu técnico há 13 anos, um preparador físico, nutricionista e até fisioterapeuta. O pugilista não comenta valores, mas as bolsas para profissionais em início de carreira giram em torno de US$ 60 mil (R$ 185 mil). “Nos Estados Unidos, o acesso à tecnologia da modalidade é mais fácil, mas o Brasil também está preparado para dar suporte aos boxeadores de elite”, disse o fisioterapeuta Arivan Gomes.