Aos 26 anos, a pernambucana Etiene Medeiros continua a sua escrita de ser a grande desbravadora da natação brasileira. Ela é a primeira nadadora do País a ganhar uma medalha em uma edição do Mundial Júnior (2008) e a conquistar um ouro em Mundial de piscina curta (2014), ocasião em que também se tornou a primeira brasileira a estabelecer um recorde mundial.

continua após a publicidade

Agora, Etiene Medeiros se tornou a primeira brasileira a conquistar um título em Mundial em piscina longa. Ela venceu nesta quinta-feira a final dos 50 metros costas no Mundial de Esportes Aquáticos, em Budapeste, na Hungria, com o tempo de 27s14.

continua após a publicidade

A “gigante” Etiene Medeiros mede 1,69 metro e ganhou quatro quilos de massa muscular nos últimos meses, após os Jogos Olímpicos do Rio-2016, onde ficou com o oitavo lugar na final dos 50 metros livre. Por isso, resolveu mudar a sua preparação física agora, três anos antes dos Jogos de Tóquio-2020. Neste sábado, ela disputa justamente esta prova no Mundial de Budapeste.

continua após a publicidade

Incentivada pelos pais, o autônomo Jamison Medeiros e a funcionária pública Etiene Pires (a mãe quis o mesmo nome para a filha), a pernambucana começou a sua carreira aos oito anos, no Sport, nas piscinas da Ilha do Retiro – até hoje a atleta tem carinho pelo rubro-negro pernambucano, clube da qual é torcedora fanática.

Em 2012, com 21 anos, mudou-se para o Rio e passou a treinar no Flamengo, mas um ano depois, mais uma mudança, desta vez para São Paulo, onde é treinada por Fernando Vanzela.

DISPUTA – Na prova, a nadadora brasileira superou em apenas 0s01 a chinesa Yuanhui Fu, medalhista de prata, além de ter registrado novo recorde sul-americano dos 50 metros costas. O pódio foi completado pela bielo-russa Aliaksandra Herasimeia. “Que prova! Para mim foi uma temporada diferente. Realmente estava relaxada desde o início do ano, mas fiquei um pouco mais nervosa do que o normal porque todas as adversárias estavam me desejando boa sorte”, disse após a vitória.

Os feitos anteriores serviram como motivação para a vitória em Budapeste, mas a própria Etiene Medeiros se diz “mais madura”. Mesmo assim, a nadadora do Sesi-SP afirmou, pouco depois de deixar a piscina, que ainda não conseguiu mensurar o tamanho da vitória na Hungria. “Caímos mesmo na real quando se chega ao Brasil e encontramos os nossos amigos que acordaram cedo para me ver competir”, disse a campeã mundial. “Meus pais e meu irmão não estão aqui. Sinto falta disso e eles também fazem parte disso. Eles estão na água comigo”.

Ela revelou que precisou superar a pressão psicológica que também foi imposta pela chinesa. “Ela é uma ótima adversária tanto dentro quanto fora da água. Ela te aborda com uma ginga diferente, é tenso”, contou a brasileira.

Antes de Etiene Medeiros, o Brasil havia faturado seis medalhas em Budapeste – três delas na maratona aquática com Ana Marcela Cunha, ouro nos 25 km e bronze nos 5 km e nos 10 km, e ainda três pratas na natação, no revezamento 4×100 metros livre, com Nicholas Santos nos 50 metros borboleta e com João Gomes Júnior nos 50 metros borboleta.

ATLETA ESTIMULA GERAÇÃO DE CAMPEÃS – Para Paula Baracho, medalhista em três jogos Pan-Americanos (Winnipeg-1999, Santo Domingo-2003 e Rio-2007) e finalista na Olimpíada de Atenas-2004, o resultado obtido pela atleta pode ser determinante para uma subida de produção das outras nadadoras da sua geração, inclusive por fatores culturais.

“Desde a Olimpíada de Atenas, em 2004, as mulheres têm obtido bons resultados. Na Grécia, conseguimos as melhores colocações das mulheres na história dos Jogos. A partir dali surgiram várias garotas talentosas e a Etiene é uma delas. Desde o ouro no Mundial de Piscina Curta de 2014 ela já vem estimulando uma geração de futuras campeãs. Antes, até por uma questão cultural, a mentalidade de muitas meninas era que a natação contribuía para deixar as costas largas demais. Hoje, as mulheres não estão mais preocupadas com isso e há uma nova visão de beleza. Essa mudança de pensamento ajudou as mulheres a chegarem onde os homens já estavam há mais tempo”, afirmou Paula Baracho.