Os ?Tifosi? de Santa Felicidade comemoram o quarto título da Itália

Os 79 anos de vida não impediram Giuseppe Macchioni de comemorar como um menino o quarto título mundial da Itália.

O imigrante, que nasceu em Roma e mora no Brasil há 54 anos, explodiu numa incontida alegria quando Grosso converteu o último pênalti contra a França. ?Estou superfeliz. A emoção é muito maior que a de 82. Aquele título foi fácil, mas esse veio com muita luta, até o final?, festejou o fã do zagueiro Cannavaro e torcedor da Roma, que depois do jogo voltou apressado para casa. ?Minha mulher está doente. Deixa a festa para os outros.?

E os outros – no caso, os cerca de 200 torcedores que se aglomeram na cantina Durigan, em Santa Felicidade, para acompanhar a final da Copa do Mundo – não deixaram por menos. Um povo que nem precisa de pretextos para organizar animadas festas embalou o início de noite numa comemoração sem horário para terminar. Dizer que ela foi regada a vinho e polenta é quase uma obviedade.

Os ?tifosi? de Santa Felicidade eram na grande maioria brasileiros, filhos ou netos dos italianos que colonizaram o bairro típico e outros cantos do País. Todos entusiasmados seguidores das tradições dos antepassados – como o ?calcio? e a ?Azzurra?. ?Amo o Brasil. Mas em Copa do Mundo não consigo torcer para outro time. A Azzurra em primeiro lugar?, vibrava Gerson Luiz Miola, um dos um organizadores do evento. Neto de italianos, ele foi uma espécie de líder de torcida, puxando os gritos de ?Itália? durante o jogo. Chorou copiosamente com a conquista, assim como o anfitrião da festa, Olivio Durigan, que ofereceu 400 litros de vinho e 30 quilos de polenta aos convidados. ?Foi muito emocionante, até porque o Brasil foi muito mal. Adotamos a Itália de corpo e alma?, vibrou.

Giuseppe Macchioni, oriundi.

Um dos poucos legítimos italianos, além de ?seo? Giuseppe, era o biólogo Roberto Roseti, 32 anos, casado com uma curitibana e morador da capital paranaense há três meses. Nascido em Gubbio, cidade que abrigou o Brasil durante a Copa de 1990, ele confessava ter mais interesse em política do que em futebol – é um ferrenho crítico do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi. O que não reduziu a vibração pela vitória. ?Fez sentir a pátria de perto.?

Depois do título, a festa teve danças típicas e música tradicional com sanfona e violão – que inclui a indefectível ?Funiculi Funicula?, o hino nacional italiano e outras canções tradicionais. Santa Felicidade nunca fez tanto jus a seu nome.

Emoção e nervosismo na loteria dos pênaltis

O final da prorrogação fez suar os torcedores da Itália reunidos em Santa Felicidade. Afinal, a quarta estrela dependia da cobrança de pênaltis – tipo de decisão que já frustrou o sonho da Azzurra em três Copas do Mundo (1990, 94 e 98). ?O italiano tem sangue quente. Isso atrapalha um pouco nessa hora. Mas os franceses também são latinos, e nós temos o Buffon?, animava-se antes da disputa o ?oriundo? Pedrinho Culpi, conhecido divulgador da cultura italiana. Buffon não pegou pênaltis, mas Trezeguet acertou o travessão e a Itália cobrou todos eles com precisão. Resultado: um novo tetracampeão mundial e euforia em Santa Felicidade. ?Achei que não ia dar. Mas o tabu acabou?, comemorava Gerson Miola, um dos organizadores do evento.

Os italianos e descendentes torceram do mesmo modo que brasileiros em frente à tela de TV – gritos de incentivo, reclamações efusivas contra o árbitro (como no pênalti que originou o gol da França) e vibração em momentos cruciais da partida – a expulsão de Zidane foi tão festejada quanto o gol de Materazzi. A diferença era algumas provocações em italiano (?francesi maledetti?, ou franceses malditos) e nenhum palavrão, bem de acordo com o clima familiar. (CS)

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