Para entender o que aconteceu neste domingo (19) na Arena da Baixada, é preciso voltar ao dia 21 de março de 2015. Foi o dia em que Hélio Cury foi reeleito para mais um mandato de presidente da Federação Paranaense de Futebol. Ele derrotou Ricardo Gomyde, que era apoiado por Coritiba e Atlético. Os principais cabos eleitorais do ex-político eram os principais dirigentes dos clubes, Mário Celso Petraglia e Rogério Portugal Bacellar. Se já havia uma rusga entre Cury e Petraglia, a partir daquele dia virou uma guerra aberta, que teve seu capítulo mais triste no cancelamento do Atletiba de ontem.
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A “vingança” de Hélio Cury por conta da tentativa de Petraglia de tirá-lo do poder na FPF chegou por conta de uma iniciativa inovadora – e permitida – da dupla Atletiba. Sem os direitos de transmissão vendidos, os dois clubes conversaram e acertaram a veiculação da partida pela internet, através dos canais oficiais de Atlético e Coritiba no YouTube. As negociações vinham de pelo menos quinze dias, como os próprios dirigentes informaram durante a confusão.
Na segunda (13), a notícia “vazou”. Repercutiu muito, inclusive já no canal Esporte Interativo, um personagem importante nesta história. A partir da segunda, todos os veículos de comunicação começam a enviar, via site oficial da FPF, os nomes dos profissionais credenciados para os jogos. É um procedimento padrão, que é feito automaticamente. A Federação não veta nenhum profissional, apenas pede que eles se credenciem. Os clubes sabem disso, tanto que mandam o credenciamento de seus assessores de imprensa que trabalham à beira do campo para fotografar os jogos.
No meio da semana, surgiu a equipe que transmitiria a partida, sendo divulgada por alguns jornais. O narrador seria César Júnior, com comentários dos ex-jogadores Gustavo (campeão brasileiro pelo Atlético em 2001) e Ademir Alcântara (que jogou no Coritiba em 1995 e 1996) e as reportagens de Carol Carvalho e Jaqueline Baumel (as duas apresentadoras dos programas no canal Premiere). E foram esses profissionais os credenciados para a transmissão, segundo informações da FPF.
Positivo
Tudo corria bem. Os clubes fizeram um anúncio conjunto. O regulamento do Estadual não prevê impedimento, o plano permitiria a muito mais gente acompanhar o Atletiba. A notícia foi festejada como uma iniciativa inédita. E realmente seria, tanto que não houve qualquer contestação do Grupo Globo, que detém os direitos de transmissão do Campeonato Paranaense.
Em nota divulgada no final da noite de domingo (19), o Grupo Globo afirmou que tinha conhecimento da transmissão pela internet e que não havia qualquer tipo de objeção: “Apesar der não ter contrato vigente com Atlético Paranaense e Coritiba nesta edição do Campeonato Paranaense, o Grupo Globo entende que cabe aos clubes livremente dispor do direito de realização e transmissão dos seus jogos. A TV Globo transmite apenas os jogos a que tem direito. Por isso, no estado do Paraná, mostrou hoje (domingo) ao vivo o jogo PSTC 0x1 Paraná, clubes com os quais renovou contrato. O Grupo Globo respeita clubes, federações, torcedores e segue trabalhando pela melhoria do futebol brasileiro”.
Tudo estava pronto. Houve um problema: o Atlético impediu as emissoras de TV de cobrir a partida, mas se comprometia a repassar as imagens do jogo após a realização. Até às 20h30 de ontem, nenhuma imagem havia sido cedida. Mas todos haviam sido informados, corria tudo bem, a expectativa era para a operação na internet.
Quando surgiu a primeira surpresa. Quando a cobertura começou no YouTube, com Atlético e Coritiba em campo, era a equipe do Esporte Interativo que estava no ar. Narrador, comentarista e repórter do canal, que fechou com a dupla os direitos de transmissão em TV fechada do Campeonato Brasileiro a partir de 2019.
Irredutíveis
De um lado, era a chance que Hélio Cury queria. Após os hinos e até o minuto de silêncio, o árbitro Paulo Roberto Alves Júnior avisou que não iniciaria o jogo se as repórteres da transmissão pelo YouTube saíssem do gramado. Isto porque os profissionais do Esporte Interativo não estavam credenciadas para o jogo.
Do outro lado, era a chance que Mário Celso Petraglia queria. Mesmo com a sugestão do Coritiba de que as repórteres saíssem e que o jogo acontecesse com transmissão mas sem as intervenções do gramado, o Atlético bateu o pé. Ou era tudo ou não era nada. Aí começou o bate-boca, inflamado por declarações desastradas de dirigentes, por jornalistas que atacavam colegas de outra emissora e por um locutor de alto-falante que dizia que a culpa era da TV.
Os dois lados estavam irredutíveis, como possivelmente os dois lados queriam estar naquele momento.
O confronto de Cury e Petraglia estava escancarado, e o futebol perdia. A união de Atlético e Coritiba, tão importante para o futebol paranaense, ficava em segundo plano por conta da falta de tato de dois dirigentes. Ninguém abriu mão de nada. Nem a Federação quis fazer um credenciamento especial, nem o Atlético aceitou a decisão salomônica. Após mais de quarenta minutos de confusão, os times saíram de campo e voltaram de mãos dadas, agradeceram e saíram de campo aplaudidos pela torcida.
A sequência da crise depende da súmula de Paulo Roberto Alves. Ela irá para o Tribunal de Justiça Desportiva, que definirá se o caso vai a julgamento. Dificilmente haverá punição. A quarta-feira de Cinzas, dia 1º de março, está livre para a realização do Atletiba. É só a FPF, a Justiça e os clubes terem vontade para marcar o jogo. Mas a briga entre Hélio Cury e Mário Celso Petraglia (e por tabela com Rogério Bacellar) está longe de acabar. Com ou sem transmissão pela internet.