Crise da Primeira Liga

Opinião da Tribuna: dupla Atletiba teve coragem e ousadia ao fazer a coisa certa

Mário Celso Petraglia e Rogério Bacellar estão firmes na estratégia de tirar poder de Hélio Cury. Foto: Antonio More

Em campo, os resultados de Atlético e Coritiba serão assunto para outras análises. Há quem reclame e exalte, há quem defenda ou critique. Tema pra outros textos, porque neste momento o que se tem que fazer é aplaudir a coragem da dupla Atletiba em não arredar pé da divisão mais justa das cotas de televisão e com isso deixar a Primeira Liga. Uma atitude ousada no nosso futebol, principalmente porque é correta – e sabemos que por aqui o correto não é o mais simples a ser feito.

A conduta dos dois clubes foi exemplar. Ouviram as propostas, aceitaram o valor oferecido no todo pela televisão, mas não deram aval à decisão generalizada de favorecer descaradamente o Flamengo. Manifestaram essa posição em carta ao presidente da Liga, Gilvan de Pinho Tavares, pediram uma reunião extraordinária, reiteraram o que tinham dito e, sem sucesso, não se curvaram e pegaram a porta da saída.

Não tiveram medo de ser corretos no mais incorreto dos meios, o futebol. Sabiam que não teriam apoio de ninguém que não fossem seus torcedores e quem apoia as coisas do nosso estado. Ficaram isolados diante dos gigantes, mas não temeram as consequências, principalmente a queda da receita na primeira parte da temporada.

Com toda razão, Furacão e Coxa viram desvirtuados os princípios da Primeira Liga. A competição vinha para mostrar que havia condições de se criar uma competição rentável, com mais igualdade de condições entre os participantes e ser uma opção comercial e esportiva melhor que os campeonatos estaduais. Convidados porque estavam rompidos com a federação carioca, Flamengo e Fluminense roeram a corda.

E aqui não se discute o fato de o Flamengo ganhar mais. Em qualquer competição o time carioca será o melhor remunerado, por ser o mais popular clube do País. Só que a diferença não precisaria ser tão grande como a divisão das cotas da Liga definiu. Foge ao que os fundadores vinham brigando a tanto tempo. Veja como exemplo a situação do Paraná Clube: aceitando a divisão que lhe prejudica, permite ser igualado a times menores e menos relevantes, como Tupi e Brasil de Pelotas. Acaba dando aval a que sempre se ofereça menos ao Tricolor em qualquer negociação.

A atitude nobre de Atlético e Coritiba também demonstra a fragilidade do discurso de muitos clubes que vira e mexe se dizem indignados com a CBF e com as cotas de TV. Pedem mais autonomia e reforço financeiro, reclamam da televisão, mas na hora de dividir o bolo não aceitam a divisão mais coerente. O Flamengo é o grande exemplo – clube tratado como “paladino” da organização e defensor de um futebol mais moderno, sempre é o primeiro a chiar e dizer que merece ganhar mais que todo mundo. Quer dizer que só vale quando eu sou beneficiado? Incoerência é pouco.

Atitudes como a que Atlético e Coritiba tomaram são louváveis e raras no futebol brasileiro. Talvez tenha um preço caro dentro da estrutura viciada do esporte. Talvez ouça restrições de quem não critique, e sim tenha birra dos dirigentes. As falhas dos cartolas precisam ser apontadas. Mas os acertos também. Os grandes acertos, mais ainda. Por isso, nós da Tribuna aplaudimos a conduta da dupla Atletiba.

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