ONG Futebol de Rua aposta em craques da rua

Treinar garotos para serem dribladores, abusados e malabaristas com a bola nos pés. Depois dar a oportunidade de colocá-los em ação nos grandes clubes paranaenses. Essa é a meta da ONG Futebol de Rua, projeto social que aposta na criação de promessas ao estilo Neymar e Ronaldinho Gaúcho.

Desde 2007 em Curitiba, a organização não governamental pretende repetir com seus pupilos o mesmo sucesso já conquistado no eixo Rio-São Paulo. No projeto, mais de 200 garotos da capital paranaense praticam exercícios semanais em duas modalidades: o futebol de rua com a bola rolando e o “freestyle”.

Com a bola rolando, os dribles valem mais pontos que os gols e atletas violentos não têm vez. “É assim que a garotada aprende a jogar. Quem toma um olé tem que batalhar pra devolver bonito, com categoria e bola nos pés”, define o presidente da Futebol de Rua, Oscar Muxfeldt Neto.

Também no “freestyle” é preciso ter muita ginga com a bola nos pés. Afinal, para muitos garotos, as manobras chegam a se confundir com movimentos de break do hip-hop. Nada impossível para os jovens do futebol de rua, que chegaram a vencer o campeão da modalidade no vídeo-game, em desafio proposto pela Fifa.

“Também já realizamos apresentações em jogos do Coritiba e do Atlético, onde garotos do projeto mostraram toda habilidade ao público presente. Mas gostaríamos de ampliar essa ligação”, ressalta o fundador da ONG Futebol de Rua, Alceu Campos Natal.

De acordo com o presidente da ONG, o próximo objetivo é firmar uma parceria com dirigentes do Trio de Ferro. “Seria interessante a troca de experiências e capacitação entre nossos educadores e os profissionais dos clubes. Já tivemos um contato sobre isso com o Atlético.”

Os representantes da ONG também se dispõem a doar suas principais promessas aos clubes parceiros. “Não queremos participação no caso de venda. Pedimos apenas a oportunidade para alguns de nossos meninos nas escolinhas”, afirma Alceu.

Parcerias similares já foram elaboradas pela organização em clubes de fora. Após uma vitória amistosa por 2 x 1, contra o São Caetano-SP, um dos atletas da Futebol de Rua passou a integrar a as categorias de base Azulão. “Isso que alguns de nossos meninos jamais haviam atuado em gramado ou usado chuteiras”, conta orgulhoso Alceu, antes de completar. “Nossa camisa 10 foi uma menina.”

Outro clube parceiro é o São Cristóvão-RJ. “Se eles já revelaram o fenômeno Ronaldo, podem dar oportunidade para outros garotos de mesmo nível”, conta o fundador da Futebol de Rua, que completa: “Nós somos aqui de Curitiba e queremos também ajudar os clubes de futebol daqui”.

Clubes de Curitiba topam proposta

Os garotos do futebol de rua podem um dia vestir a camisa do Trio de Ferro da capital. Pelo menos se depender dos departamentos de categoria de base dos clubes, que topam conversar por parceria visando vagas sociais e troca de informações entre educadores.

O coordenador técnico da base do Paraná, Fernando Tonet, se mostrou animado. Nas palavras do dirigente, surge até referência ao mais novo destaque da Vila Capanema. “Deixamos sempre as portas abertas para poder avaliar jogadores de qualquer região ou escola, seja do futsal ou outra modalidade. É nesse perfil diferente de se jogar bola que pode aparecer um novo Kelvin”, ressalta.

No Coritiba, existe até esperança de surgimento de um novo Marlos. Basta uma conversa e a parceria pode engrenar. “Temos que primar pela volta do futebol técnico, que tem a questão da habilidade. Na minha visão, a capacitação dos clubes faz parte de observar meninos que jogam futebol de rua, futsal, nos campinhos, no torneio amador”, destaca o coordenador da base, André Mazuco.

Apesar de um pouco de cautela, nenhum impedimento existe no Atlético. “Vi poucas vezes essa modalidade e chego a achar que o futebol de hoje não possibilita mais tanto malabarismo e jogadas bonitas. Mas havendo jogadores que saibam unir esse estilo de jogo com o dinamismo e a inteligência que os gramados exigem, temos interesse”, destaca o coordenador de categorias de base do Furacão, André Leite.

Bate-papo com atleta de futebol “freestyle”

Há dois anos o opera,dor de máquina Jean Ferreira da Silva, 20 anos, é praticante do futebol de rua na categoria “freestyle”. Em bate-papo com o Paraná Online, ele contou que apesar de ter preferido o jogo das manobras ao invés do convencional, acredita que a modalidade pode servir de referência para descoberta de novos talentos da bola. Confira:

Paraná Online – Como você conheceu o futebol freestyle e há quanto tempo pratica?

Jean – Eu sempre fui fã de futebol das jogadas bonitas e tudo mais. Sempre gostei mais das manobras com a bola e me admirava com as jogadas do Ronaldinho Gaúcho. Pela internet, há dois anos encontrei um vídeo de um dos freestylers mais famosos, o Soufiane Touzzani. Depois disso fui aprendendo e criando meu próprio estilo de praticar.

Paraná Online – Gosta de jogar o futebol convencional também?

Jean – Sim, muito, desde o futsal, o de campo e até o sintético.

Paraná Online – Qual foi a sensação de se apresentar na Arena da Baixada e no Couto Pereira?

Jean – Pra ser sincero, não tenho como descrever em palavras. Se apresentar pra uma, duas ou até 100 pessoas já é emocionante e você fica cada vez mais inspirado. No estádio foi uma coisa fantástica, a emoção vai a mil.

Paraná Online – Acha que os garotos do freestyle podem se adaptar ao futebol de campo por um estilo de jogo mais bonito?

Jean – Sim, com certeza. Uns preferem mais esta modalidade e outros, como eu, gostam de jogar futebol. Se houver dedicação, muitos freestylers poderiam ter chance de seguir uma carreira profissional no futebol de campo. (FL)

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