Onda de violência matou três torcedores em São Paulo

São Paulo – Brigas entre torcidas organizadas provocaram três mortes em menos de 24 horas no Estado de São Paulo. No começo da tarde de domingo, o palmeirense Diogo Lima Borges, de 23 anos, foi assassinado com um tiro nas costas, em confronto com corintianos na estação Tatuapé do metrô. Duas horas e meia após o clássico no Morumbi, que terminou com empate de 1 a 1, o corintiano Wellington Moraes, de 25 anos, foi morto, ao ser atingido por tiro na cabeça, como conseqüência de batalha travada com palmeirenses no Largo 13 de Maio, em Santo Amaro.

A terceira vítima foi Anderson Ferreira Thomás, 26 anos, conhecido como Conde e torcedor da Ponte Preta. Ele morreu ontem, depois de choque com integrantes da seção de Campinas da Torcida Independente, do São Paulo. Conde recebeu várias pancadas na cabeça.

A confusão ocorreu durante a distribuição de ingressos para o jogo que as duas equipes devem fazer amanhã, no lote dos 11 remarcados pelo tribunal esportivo por suspeita de fraude do ex-árbitro Edílson Pereira de Carvalho.

Internet

A polícia apura os três episódios e, pelo menos em um deles, há suspeita de que a internet tenha servido de meio de ?espionagem?. Segundo Luís Carlos do Carmo, delegado da Seccional Leste e encarregado das investigações da briga no Tatuapé, é comum torcedores trocarem mensagens, em sites, nas quais definem pontos de encontro antes dos jogos e também prevêem possibilidade de confrontos. Não está afastada a hipótese de que rivais se vigiem pelas páginas da internet e armem estratégias para as batalhas.

Em chats – os pontos de troca de opiniões na internet – há também perguntas que induzem à violência. Em um site de torcida da Ponte Preta (www.pontepreta.net), a enquete de ontem era ?Você concorda com o quebra-quebra por suposto erro de arbitragem??

A parcial, à noite, indicava que 67,82% dos internautas eram favoráveis aos distúrbios (?Sim, chega de palhaçada contra nosso time!?), enquanto 32,18% respondiam não (?Não, isso é coisa de bandido e a diretoria é que tem que tomar providência!?).

Fernando Capez, promotor da Cidadania (Ministério Público de São Paulo), promete voltar à carga contra a ação das organizadas. Entre suas propostas, há desde banimento de estádios dos violentos até fechamento de sedes.

?É preciso levar a sério a hipótese de extinguir as torcidas. A cidade não pode ficar indefesa, nas mãos destes bandos. A cidade é mais importante que o jogo, se não pudermos proteger a cidade, basta impedirmos a realização do jogo?, afirmou Capez.

Polícia prende dois acusados e procura outro

Campinas – O delegado Luís Carlos Patrício Nascimento, do 1.º Distrito Policial de Campinas, revelou ontem à noite os nomes dos dois acusados da morte do torcedor Anderson Ferreira Thomás, o Conde, da Torcida Jovem da Ponte Preta, ao lado do Estádio Majestoso. Rubens Gomes de Melo, de 25 anos, e Antônio Maria da Silva, de 35, foram indiciados por homicídio duplamente qualificado e foram encaminhados para uma cadeia pública. Segundo o delegado, o crime foi cometido por motivo fútil e de forma que não deu direito de defesa à vítima.

Ambos são membros da Torcida Independente de São Paulo, e foram presos numa subsede localizada no centro de Campinas. O presidente da facção, Marcos Paulo Moraes, conhecido como Fofo, foi reconhecido por testemunhas como um dos assassinos e também foi indiciado, mas está foragido. Após a briga no estádio, a Polícia Militar seguiu até a sede da torcida, onde prendeu sete pessoas, além de paus, pedras e entorpecentes.

Provocação e terror

A briga também parece esclarecida. Segundo um segurança, Conde estaria num barranco, ao lado da linha do trem da Fepasa que passa atrás do Majestoso, com um pedaço de ferro nas mãos quando provocou um grupo de torcedores são-paulinos que comprava ingressos. Torcedores e testemunhas, formada por vizinhos, confirmaram que Conde estava visivelmente alcoolizado e que viram verdadeiras cenas de terror.

Ao ser perseguido, Conde caiu na rua lateral ao estádio, que fica cerca de 50 metros distante da sede da Torcida Jovem. Ali ele foi espancado até a morte, sem dó de seus agressores. Segundo uma das testemunhas, mesmo desmaiado no chão, Conde continuou apanhando, com golpes de paus e ferro na cabeça.

Tensão marca velório de palmeirense

São Paulo – O clima ontem era de apreensão no velório de Diogo Lima Borges, assassinado domingo antes do clássico entre Corinthians e Palmeiras, e que será enterrado hoje, às 9h, no cemitério da Vila Alpina. Amigos do rapaz, integrantes de torcidas organizadas do Palmeiras, chegaram a impedir que fotógrafos trabalhassem no local. ?Quem manda aqui é a gente e vocês não vão fazer imagens?, disse um dos palmeirenses.

Já a família estava muito serena e todos diziam não querer vingança. O corpo chegou por volta das 16h30 ao cemitério e a mais abalada era Damaris, a irmã mais nova de Diogo, de 15 anos.

O pai de Diogo, Marcos Tadeu Borges, de 49 anos, disse que conversaria com os amigos da torcida. ?Não quero vingança, não vai trazer meu filho de volta?, garantiu. Sobre a extinção das organizadas, Borges afirmou: ?Não teve um estudante de jornalismo matando outro na USP? Então o que se deve fazer? Acabar com o jornalismo? Tem gente boa e ruim em todos os lugares. Você só tem de escolher com quem andar.?

Borges disse que viu um integrante da Gaviões da Fiel com um revólver em punho. ?Mas eu não conseguiria identificá-lo. Na hora só consegui correr. Eu me senti em uma emboscada.?

Madalena Borges, de 52 anos, tia de Diogo, não acredita que a briga tenha

sido agendada pela internet: ?Se você marca um confronto comigo e eu sei que você vai levar armas, então eu também estarei preparada. Neste caso, só os corintianos estavam armados?.

O pai do palmeirense emendou: ?Meu filho nem tinha computador em Bragança Paulista. E se isso tivesse sido agendado na internet e a polícia soubesse, por que não estava lá no Metrô na briga??

Histórico

O comportamento desajustado de torcidas já era criticado pelo L?Osservatore della Domenica, o semanário do Vaticano, há mais de 40 anos. A preocupação era com aquelas que ?levavam o futebol demasiado a sério?. Dias antes, Renato Dall?Ara, então presidente do campeão Bologna, morrera de enfarte por causa da emoção pela conquista do scudetto de 1964.

Nada se compara com as atrocidades que se repetem na atualidade. Um dos casos que mais marcaram época foi o do corintiano Rodrigo de Gásperi, de 13 anos, que morreu, em 1992, na semifinal da Taça São Paulo de Juniores, no jogo contra o São Paulo. O garoto foi atingido por uma bomba de fabricação caseira na arquibancada do Estádio do Nacional.

Gaviões promete colaborar com investigações

São Paulo – Dirigentes da Gaviões da Fiel, uma das torcidas envolvidas na confusão da Estação Tatuapé do metrô que resultou na morte do palmeirense Diogo Lima Borges, se dizem ?indignados? e prometem colaborar com as investigações.

?Vou encaminhar um ofício para o metrô e para a CPTM para permitir que eu tenha acesso às imagens dos conflitos. Se eu identificar algum associado nosso metido nisso, vou seguir nosso estatuto, chamar o Conselho e eliminar o sujeito dos nossos quadros. Não queremos associados que se comportem dessa maneira?, disse Wildner Rocha, o Pulguinha, vice-presidente da torcida.

Pulguinha negou qualquer participação da entidade no conflito do Tatuapé, que teria sido marcado via internet.

?Se isso for verdade, fico indignado. Como uma briga anunciada antes não pôde ser evitada? As autoridades não podiam fazer algo? No caso do conflito da estação de metrô, estamos cansados de pedir que seja feito o mesmo esquema que ocorre no Morumbi. Chega o ônibus de uma torcida, a outra espera. A gente está cansado de pedir isso nas reuniões de prevenção, mas não adiantou nada. Olha só, mais uma morte no futebol.?

O representante da torcida corintiana lembrou que as mortes do final de semana prejudicam a imagem das torcidas organizadas. ?A gente faz um serviço sério, tem um lado social, mas tem alguns que não ajudam. Esses a gente não quer na nossa torcida. Temos que tirar esses falsos torcedores.?

O coronel Luís Serpa, do 2.º Batalhão de Choque da PM, endossou as críticas: ?São uns marginais, pessoas travestidas de torcedor. Temos de tomar providências para que isso não ocorra mais.

O torcedor do Palmeiras, que explodiu a bomba no Morumbi, por exemplo, já havia sido preso uma vez pelo mesmo motivo. Não podia estar mais num estádio?.

Em relação à morte do corintiano Wellington Martins, em Santo Amaro, Pulguinha não conhecia maiores detalhes. ?Vou verificar nossos arquivos para ver se ele era sócio. Essas notícias chegam logo por aqui.

Integrantes da Mancha Alviverde torcida que custeou as despesas do enterro de Diogo não se manifestaram sobre o assunto. Oficialmente, lembrou Serpa, a Mancha foi extinta em março.

Sampa quer clássico com portões fechados

São Paulo – O São Paulo está com medo de disputar os dois jogos – Ponte Preta e Corinthians – remarcados pelo STJD por causa do escândalo do apito. O superindentente de futebol Marco Aurélio Cunha foi claro ontem: por ele, não haveria torcida em nenhuma dessas partidas, principalmente no clássico contra o Corinthians, na próxima segunda-feira, no Morumbi. ?Para mim, o mais seguro e prudente seria que esses jogos fossem disputados com os portões fechados?, disse o dirigente.

Mas Paulo Angioni, diretor da MSI, não acredita na eficácia dos portões fechados. ?E os próximos jogos serão com portões abertos? O que temos de fazer é um trabalho a longo prazo, educativo, para que não haja mais brigas. Por enquanto, basta ter um policiamento reforçado?.

Contra a Ponte Preta, amanhã, no Moisés Lucarelli, em Campinas, o medo são-paulino é grande. Alguns torcedores ponte-pretanos participaram de uma pesquisa no site www.pontepreta.net e a maioria, quase 70%, aprova a violência em caso de erro da arbitragem. E já teriam ameaçado de morte os são-paulinos que forem para lá por causa da morte de um torcedor do time, ontem pela manhã.

?Eu acho que a nossa torcida não tem de ir para o jogo. Deveria acompanhar pela televisão, para não correr riscos?, avalia o zagueiro Edcarlos. ?Mas, para nós jogadores, tudo vai estar tranqüilo. Acredito que a polícia possa controlar a situação?.

Rinaldo Martorelli, presidente do Sindicato de Atletas Profissionais do Estado de São Paulo, esteve no Corinthians explicando aos jogadores que, pela lei, é irregular disputar dois jogos em intervalo inferior a 66 horas.

O maior empecilho, porém, é convencer os atletas a formalizarem pedido para mudança de datas do jogo. ?Até agora, os jogadores não têm posição definida?, adverte Martorelli. Outra dificuldade, seria encontrar nova data, num calendário tão apertado.

?Ouvimos e vamos decidir o que fazer?, afirmou Betão, sem demonstar entusiasmo pela idéia de adiar o jogo contra o São Paulo, marcado para dois dias depois da partida contra o Paraná, no Pacaembu.

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