Quando Londres sediou a Olimpíada de 1948, a grande inovação era o rádio. Agora, em 2012, a cidade quer ser palco do evento mais conectado da história, com uma rede de internet ultrarrápida, farto uso da mobilidade e 100% de transmissão televisiva de alta definição. Para os Jogos do Rio, em 2016, já se espera um novo salto com a dominância da TV 3D.
Por trás da história dos Jogos Olímpicos, revela-se a revolução tecnológica em curso nas últimas décadas. Foi em 1964, em Tóquio (Japão), que os computadores começaram a entrar em operação no evento esportivo. Os Jogos de Los Angeles (Estados Unidos), em 1984, introduziram o e-mail. Em 1996, o primeiro website “olímpico”, em Atlanta (Estados Unidos), recebeu 189 milhões de hits. Eis que Pequim (China), em 2008, consegue a marca de 3,6 mil horas de cobertura de transmissão, mais do que todos os Jogos somados até então.
Agora em 2012, vai ficar claro que o mundo da informação passou por outra transformação rápida em apenas quatro anos. A quantidade de dados transmitidos será multiplicada por dez. Pela primeira vez, o público poderá fazer e postar vídeos instantaneamente nas mídias sociais, fenômeno que avançou nos últimos anos – na China, havia restrições ao uso da internet.
“Há coisas que você não poderia ter previsto em 2008, como o impacto dos ‘tablets’, que foi uma surpresa. Mas a tendência de mobilidade já estava muito clara”, disse Gerry Pennell, diretor de Tecnologia dos Jogos de Londres. “Em Pequim, não existiam o iPad, o Kindle, o iPhone 3G”, afirmou Stuart Hill, vice-presidente para programa olímpico da BT, empresa responsável pelas telecomunicações da Olimpíada de 2012.
Em Pequim, apenas 30% da transmissão televisiva era em alta definição (HD). Em Londres, será 100%. Os celulares eram usados principalmente (80%) para conversar com as pessoas. Agora, os aparelhos servem muito mais para a transmissão de dados (80%), como a navegação pela internet e envio de e-mails e fotos.
As mídias sociais não tinham a força de hoje. Havia 100 milhões de usuários no Facebook em 2008, número que já está em 750 milhões. “A Olimpíada marca como a inovação vem mudando as nossas vidas”, disse Stuart Hill, da BT. “Passamos por uma revolução e nem percebemos porque estamos fazendo isso todos os dias.”
Para montar a infraestrutura necessária, o braço privado do Comitê Organizador está investindo um valor estimado em 500 milhões de libras (cerca de R$ 1,5 bilhão) em tecnologia. Já foi inaugurado o Centro de Operações de Tecnologia dos Jogos Olímpicos, que irá operar no bairro de Canary Wharf, uma área financeira da cidade. No local, 450 técnicos se revezarão 24 horas por dia durante a realização do evento, entre julho e agosto, para controlar e monitorar toda a operação. Ao todo, 3,5 mil funcionários dedicados à tecnologia estarão espalhados pelos locais que receberão competições no Reino Unido.
Para que pudessem ser usadas no evento, as tecnologias já precisavam estar prontas e testadas desde outubro do ano passado, a fim de evitar “surpresas”. A intenção é impedir problemas como os ocorridos em Atlanta, quando inovações foram colocadas em prática sem total sucesso.
A BT está construindo uma rede de internet ultrarrápida, com investimentos de 2,5 bilhões de libras (cerca de R$ 7,5 bilhões). Com 5,5 quilômetros de cabos e 1,8 mil pontos de acesso à internet sem fio, a capacidade estimada é de transmissão de até 60 Gb por segundo. Até 2012, Londres contará com velocidade de 80 Mb/s, o que beneficiará o evento.
Junto com a expectativa em torno dos Jogos, vem a pressão para que nada dê errado, nem por poucos segundos. Basta lembrar que o atleta jamaicano Usain Bolt quebrou o recorde mundial dos 100 metros em Pequim em uma cena inesquecível que durou 9,69 segundos. “Nas telecomunicações, isso é tempo demais. Se eu perder a conexão por 10 segundos, terei de procurar emprego”, disse Stuart Hill.
RIO – Para 2016, é esperado um novo salto tecnológico na Olimpíada do Rio. Dentro do exercício de futurologia, já se imagina que a tecnologia 3D terá avançado e poderá ser dominante nas transmissões. “Vou tomar o risco de falar sobre o assunto: acho que está claro que uma das tendências que irão prevalecer é a TV 3D”, disse Luis Alvarez, presidente da BT para a América Latina, África e Oriente Médio.
É sempre delicado tentar imaginar o que um país colocará em prática para uma Olimpíada. É por isso que Gerry Pennell, diretor de Tecnologia dos Jogos de Londres, prefere não comentar o assunto em público. “Você pode imaginar muitas coisas que podem acontecer em 2016, mas vou direcionar isso para o Comitê Organizador do Rio”, disse. Ele explica que, quando assumiu o cargo, se deparou com diversas expectativas colocadas por pessoas de fora do projeto. “E eu não tenho intenção de contribuir com esse tipo de problema para o Rio.”
A Embratel será a responsável pelas telecomunicações da Olimpíada do Rio. A Agência Estado apurou que a empresa brasileira mantém contato estreito com os envolvidos nos Jogos de Londres. Uma equipe da Embratel visitou o centro de tecnologia da BT, no fim de agosto, para conhecer o seu funcionamento e a estrutura necessária. A companhia britânica tem interesse nesse relacionamento, de olho na possibilidade de negócios com os Jogos de 2016, como a venda de consultoria e softwares para o Brasil, por exemplo.