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Olheiros sofrem para encontrar novos talentos na Copa São Paulo de Juniores

Após os 14 jogos que assistiu na primeira fase da Copa São Paulo de Futebol Júnior, Marcos Oliveira, observador técnico do Palmeiras, pinçou apenas um jogador que mereceria nova avaliação – ele não revela o nome. Para Carlos Roberto Pontes, que caça talentos para a Ponte Preta, foram necessários oito jogos para eleger Caio Rocha, atacante do Porto, uma das revelações. As andanças de Carlos e Marcão mostram que o trabalho de olheiro está cada vez mais difícil. A maioria diz que faltam talentos na Copinha.

A média dos olheiros dos outros clubes não é diferente: eles avaliam que precisam de dez jogos para achar um jogador diferenciado. Se o trabalho deles na Copinha fosse uma pescaria, as redes estariam voltando quase sempre vazias. “Há dez anos, nós andávamos menos e achávamos bons jogadores com maior facilidade”, compara Marcão. “Hoje, a gente anda muito e quase não vê ninguém”, diz o olheiro palmeirense.

Vale ressaltar que os olheiros dos grandes clubes colocam a régua lá em cima e procuram jogadores nota 9, por exemplo. Aqueles medianos não chamam a atenção. Isso explica, em parte, o rigor das avaliações.

O olheiro pensa sempre no time principal. Para jogar no Palmeiras, por exemplo, o zagueiro tem de ser rápido, pois os laterais sempre avançam, o que obriga o defensor a correr atrás do atacante e ganhar a disputa. Os times do Sul ainda observam a atitude, postura e a força física. No caso do Corinthians, também é importante a energia e a vibração do atleta.

Mesmo que os garotos tenham de apresentar um ótimo cartão de visitas, os observadores afirmam que as categorias de base realmente vivem uma crise técnica. “Existe uma diferença entre uma geração e outra. Talvez a atual não seja tão promissora. Além disso, quem rabisca está indo mais cedo para a Europa”, diz Roberto Antonio dos Santos, o Betinho, ex-olheiro do Santos e que tem no currículo a descoberta do atacante Neymar.

A expressão “quem rabisca” significa o jogador driblador. O Estado acompanhou três partidas da Copinha ao lado dos olheiros. É realmente difícil achar quem rabisque. Debaixo do sol de rachar de Jaguariúna, no jogo entre o Flamengo e o time da casa, foram pouquíssimos dribles. Por isso, quase nunca os olheiros faziam alguma anotação no caderninho – os mais jovens anotam diretamente no celular.

O clima na tribuna é de discrição, como se eles estivessem fazendo um trabalho quase secreto. Os observadores não usam o uniforme do clube que representam e preferem os cantinhos, para não chamar a atenção. Raramente ficam na arquibancada. A preocupação é a concorrência dos outros clubes e o assédio dos pais dos jogadores.

Tudo é meio na surdina, um tipo de espionagem. É uma disputa de informação e contrainformação. Diretores da base costumam frequentar alguns jogos apenas para disfarçar o interesse real do clube. Mostram uma coisa, mas estão fazendo outra na verdade.

A Copinha é o ponto alto de uma sequência infinita de torneios de base pelo Brasil. Para dar conta do calendário, os clubes possuem uma rede de profissionais. O Palmeiras tem seis; o Corinthians, dois. Seus olhos se multiplicam a partir da extensa agenda de contatos. A função deles é monitorar torneios, escolinhas, projetos sociais e comunidades.

Eles analisam a parte técnica, como o jogador trata a bola e como se posiciona, o que faz com e sem a bola. Observam também competitividade e atitude. O feeling vale mais que as estatísticas, pois os olheiros têm de projetar o futuro do atleta vendo uma arrancada.

Quando acham algum interessante, já pedem informações para a diretoria – via Whatsapp mesmo. Em alguns casos, a negociação começa em tempo real, enquanto o jogador bate uma falta ou “tenta rabiscar”.

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