Entrevista exclusiva

Ocimar Bolicenho diz que falta mais ousadia para o Atlético

A semana foi movimentada nos bastidores do Atlético. Na última segunda-feira, o gerente de futebol Ocimar Bolicenho pediu demissão e, na última quinta-feira, foi a vez de Valmor Zimermann e Ademir Adur deixarem o departamento de futebol do Furacão.

Em entrevista ao Paraná Online, o ex-gerente de futebol do clube revelou os principais erros do Atlético nas últimas temporadas, destacou a pressão nos bastidores e ressaltou o seu papel, enquanto esteve no Rubro-Negro.

Paraná Online: O que está errado dentro do Atlético hoje?

Ocimar Bolicenho: Há uma dificuldade de informação. Você levanta aquilo que precisa, mas não consegue convencer os que têm autonomia para que aquela necessidade possa ser atendida.

Paraná Online: Você acha que o Marcos Malucelli está tendo uma boa gestão no Atlético?

Ocimar Bolicenho: O nível dos jogadores que o Atlético precisa para reforçar está bem acima daquela faixa que o clube pretende pagar. As opções que foram apresentadas não passaram pelo crivo financeiro ou técnico. O Marcos Malucelli sempre foi leal comigo e é leal para com o Atlético. A responsabilidade é muito grande e talvez isso faça com que ele não consiga atender a torcida.

Allan Costa Pinto

Paraná Online: Por que o Atlético não consegue montar um grande time de futebol e qual o critério para contratações no clube?

Ocimar Bolicenho: O Atlético tem um bom time. Para ter um grande time precisaria ousar um pouco mais no pagamento de salários. Para se ter uma ideia, o Zulu, que eu trouxe, foi uma contratação que o orçamento permitia. Ele ganhava R$ 12 mil. Tínhamos várias restrições orçamentárias. A verba de 2009 foi comprometida porque foi investido muito para salvar o time do rebaixamento em 2008. Muitos jogadores na faixa dos R$ 10 mil de salário, mas conseguimos permanecer na primeira divisão.

Sobre 2010, tivemos um grande resultado. Fomos quinto colocado no Brasileirão e é digno de toda comemoração. Já estava no planejamento as saídas do Rhodolfo, Chico e Márcio Azevedo. A saída do Neto não estava, mas ele fez uma pressão durante um mês e pedia para ir embora todo dia dizendo que era a oportunidade dele. Não tem como fazer um jogador desses mudar de ideia quando a cabeça dele já estava feita. Isso desestabilizou porque tínhamos grande confiança no João Carlos, mas infelizmente não repôs bem. Também tínhamos esperança no Rafael (Santos). Cumpriu 70% do que esperávamos dele. Nos concentramos no ataque, mas algumas contratações não deram certo.

Paraná Online: O que aconteceu com as categorias de base do Atlético, que antes revelava jogadores como Kléberson, Fernandinho, Dagoberto e Jádson e hoje são poucos os que realmente têm qualidade?

Ocimar Bolicenho: Houve um erro muito grave em 2009 quando o Atlético foi vice-campeão da Copa São Paulo de Juniores e promoveu 14 jogadores daquele time para o profissional. Primeiro desfalcou a equipe júnior e criou um buraco entre o juvenil e os juniores. Muitos deles não estavam prontos para subir e só sobrou o Manoel e o Fransérgio. Foi um erro muito grave.

Paraná Online: Em quatro meses o Atlético dispensou 10 jogadores e teve quatro técnicos. O que aconteceu?

Ocimar Bolicenho: Acho que isso tudo na verdade é fruto da pouca autonomia do departamento de futebol. Se o departamento, tivesse autonomia específica, com orçamento, não seriam feitas essas contratações. O processo depende da aprovação da diretoria. Então os jogadores que tinham mais qualidade eram os preferidos, mas não pudemos contratá-los. A folha do Atlético é uma das menores do Clube dos 13. Todos os clubes brasileiros hoje têm parceria, mas o Atlético estabeleceu como norma que não gostaria de ter nenhum jogador com parceria e isso, obviamente, restringiu o mercado.

Allan Costa Pinto
Ex-gerente de futebol disse que com mais três contratações
é possível que o Atlético dispute o Brasileirão em alto nível.

Paraná Online: O que seria preciso para melhorar o Atlético?

Ocimar Bolicenho: O Atlético tem um time bom. Só precisa na verdade de duas ou três contratações que se encaixem e que vão custar um pouco mais caro que o orçamento permite. O que está afetando muito é a comparação com o Coritiba. O caminho não está errado.

Paraná Online: Essa pressão política e a crise da diretoria interfere no desempenho dos atletas?

Ocimar Bolicenho: Interfere, e muito. As redes sociais estão aí e ninguém está alheio a elas. Todo mundo lê. O ambiente deixa de ser tranqüilo. Em uma análise fria não existe terra arrasada, mas uma campanha normal. Boa no Brasileiro de 2010 e regular no Estadual. Me tornei um dirigente profissional e conheço bem a política de clube e detesto.

Paraná Online: Quais foram os seus principais êxitos no Atlético?

Ocimar Bolicenho: A aquisição do Guerrón foi feita de forma direta entre Atlético e Getafe, sem intermediário. Conseguimos fazer de clube para clube, o que é raridade. Trocamos o Marcelo pelo Adaílton, que está muito bem no Atlético. O Branquinho também foi uma dificuldade comprarmos do Santo André porque saía do orçamento do Atlético e conseguimos. O Róbston também foi fora do padrão. Todos os jogadores que trouxemos foram aprovados pela comissão técnica.

Paraná Online: Você indicaria alguns nomes para o Departamento de Futebol do Atlético?

Ocimar Bolicenho: O nome é aquele que efetivamente possa falar de igual para igual com o presidente. Tem que ter confiança mútua. Pode trazer o Papa, mas se tiver as restrições que eu tinha não dará jeito. Tem que ter relação de confiança.

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