Corinthians e Odebrecht não falam mais a mesma língua quando o assunto é a arena em Itaquera. A discordância, agora, está relacionada a dois pontos principais: a conclusão da obra e a auditoria, que tem o objetivo de levantar o custo real e também o que faltaria ser feito no estádio. O clube se diz vítima, demonstra preocupação com incidentes como a queda, meses atrás, de parte do teto de gesso de um dos setores. A construtora sustenta não haver nenhum problema estrutural que traga algum tipo de risco.
A Odebrecht foi procurada pelo jornal O Estado de S.Paulo e preferiu não se manifestar oficialmente sobre os problemas da arena e as reclamações do Corinthians. Entretanto, a reportagem apurou com pessoas ligadas à empresa que as obras não foram, de fato, terminadas. Faltariam 4% a 5% para a finalização e, de acordo com esses interlocutores, a construtora não se vê como culpada pela não conclusão – ficaram pendentes basicamente itens de acabamento.
O problema está relacionado aos custos. Pelo projeto inicial, a obra custaria R$ 820 milhões. Entretanto, foram acrescentados diversos aditivos no contrato e, quando foi colocado um quinto item, diagnosticou-se que a obra passaria a custar R$ 895 milhões. A alteração no valor foi discutida em reunião do Conselho Deliberativo do Corinthians e aprovada pelos conselheiros.
Dentro das diversas mudanças que obrigariam o estádio a ficar mais caro, um total de 76 itens ficaram pendentes quanto ao valor máximo que deveria ser gasto. A construtora sustenta que definiu esses números junto com os responsáveis da obra, mas o Corinthians diz desconhecer essa operação.
Assim, com os valores definidos em mãos, a Odebrecht tratou de construir os tais adicionais, mas os custos de muitos itens acabaram aumentando bastante, segundo as pessoas ouvidas pelo jornal O Estado de S.Paulo. Houve item que foi orçado em R$ 2 milhões no papel, mas com a arena pronto o custou real ficou em R$ 18 milhões.
Somando as diferenças do que foi projetado com o que foi construído, o valor total de R$ 985 milhões foi atingido antes do término da obra. Pelas contas da construtora teriam faltado cerca de R$ 40 milhões para que fossem executadas “perfumarias” – itens que não são primordiais para o funcionamento da arena. É o caso do piso da rampa de acesso dos torcedores ao estádio. A estrutura está toda pronta.
SEM ACORDO – Como o Corinthians fez um contrato por um preço fechado, ou seja, a empreiteira colocou um valor para cumprir um projeto específico e, para os dirigentes do clube, não cabem novos aditivos. Assim, qualquer custo adicional deveria ser arcado pela Odebrecht, pois o projeto teria de ser realizado na íntegra.
Por isso, o clube faz uma auditoria para verificar se tudo que a empresa diz foi realmente gasto. A intenção é verificar as notas, conferir os itens do projeto e detectar a qualidade da construção do estádio.
Mas Odebrecht e Corinthians divergem sobre essa auditoria, que não consegue avançar – o prazo inicial acabou e uma prorrogação de 90 dias foi aprovada. O clube e a comissão dessa auditoria reclamam que a construtora esconde documentos. As pessoas com trânsito na empresa e que acompanham o processo sustentam que todos os papéis ficam à disposição do fundo imobiliário da arena, formada por Corinthians, Odebrecht e Caixa Econômica Federal.
“A auditoria pretende esclarecer tudo sobre a construção da arena. Não é verdade que o Corinthians tem acesso aos documentos. Não queremos brigar com ninguém. Só saber o quanto foi gasto e como foi gasto o dinheiro na obra”, disse Antonio Roque Citadini, membro da comissão de auditoria.