Luiz Augusto Xavier – Presidente, como é que um cidadão, torcedor, vira dirigente?
Ênio Ribeiro
– No meu caso de uma forma simples. Totalmente imprevista. Eu era vice-presidente de uma instituição financeira e eu tinha muitos amigos ligados ao futebol. E sempre fui paranista. Desde Água Verde, Pinheiros e depois Paraná Clube e por volta de 1990 e 91 fui procurado pelo Aramis (Tissot) e pelo Ocimar (Bolicenho), porque o Paraná Clube estava começando a vida e precisava contratar jogadores. Eu não me lembro de valores, mas na época eles vieram pedir uma ajuda para contratar um jogador. E eu, em nome dessa instituição, assinei um contrato com eles de publicidade por três anos e demos a eles o dinheiro para comprar o João Antônio. Aí, em 94 e 95, parte desse período, fui o diretor financeiro do Paraná Clube, na gestão do Ocimar. Mas a minha participação lá foi muito prejudicada pela minha profissão, que exigia muito de mim. Em 96, eu me aposentei após 35 anos de trabalho, e tinha dito a mim mesmo que depois desse tempo todo de trabalho, que eu nunca mais seria empregado de ninguém. E parei com 50 anos em 96, fiquei parado até o final de 97. Daí o Dílson (Rossi) me ligou e falou que queria ser o presidente do Paraná Clube e para ajudá-lo a compor a chapa me convidou para ser vice-presidente. Eu aceitei. Vencemos a eleição e fiquei 98 e 99 com o Dílson como primeiro vice-presidente. E daí foi quase que natural. E como primeiro vice eu fui eleito pelo conselho para 2000 – 2001 e no período de 2000 a 2002 acho que a gente teve até bastante sucesso pelas circunstâncias e estamos aí para mais dois anos, e temos até o final do ano para completar o mandato.Xavier
– Antes do negócio com o João Antônio, você era um torcedor participativo?Ênio
– Eu era de ir pra arquibancada. Até porque na época minha condição não era tão boa. Sempre fui de acompanhar todos os jogos, desde bastante cedo levava o meu filho no estádio. A gente era bastante participativo como torcedor, não como dirigente.Xavier
– E porque o Pinheiros?Ênio
– Porque na época eu vim pra Curitiba muito cedo, era menino, e já trabalhava no banco, com pouco mais de 16 anos. Eu vim de Ibaiti e trabalhava no banco lá, o Bamerindus. Naquela época todo menino de interior jogava e gostava muito de futebol. E na época, a minha qualidade não era tão desprezível assim.Cristian Toledo
– Em que posição você jogava?Ênio
– Era lateral-esquerdo. Fazia gol, hoje chamam o jogador da posição de ala, mas o primeiro ala do mundo fui eu. Na época tinha um jornalista, que era o Pedro Viana. E ele, que também era de Ibaiti, me levou para treinar no juvenil do Água Verde, na Vila Guaíra. E daí foi criando um laço, um amor pelo clube. Eu era um caboclinho vindo do mato e fui acolhido, então surgiu uma forte relação com o clube. Como meu trabalho no banco me exigia muito, parei de jogar, mas não de torcer pelo time. E partir daí tive muitas mudanças na minha vida. Trabalhei no Rio Grande do Sul, em São Paulo, no Rio de Janeiro e quando eu voltei o clube já era Paraná Clube.Cristian
– Então você ficou um bom tempo fora?Ênio
– Fiquei uns 10 anos fora de Curitiba, mas sempre acompanhando o futebol daqui. Quando eu voltei, estava justamente iniciando o Paraná Clube.Xavier
– E a partir do instante da sua primeira participação foi um modo de preencher um espaço que estava aberto?Ênio
– Eu acho que até mais do que preencher um espaço, era dar uma contribuição para a coletividade. Reconhecido ou não, eu não me importo muito, eu me sinto gratificado em poder dar uma contribuição gratuita por quatro anos para uma coletividade muito boa, jovem, que era o Paraná Clube, e espero terminar 2003 fechando algumas situações que fixei como metas quando eu comecei. O Paraná Clube terminou 99 com uma dívida razoável, maior do que a de hoje, e na segunda divisão. E eu fiz duas promessas pra mim mesmo. A primeira meta eu consegui, que era voltar com o Paraná para a primeira divisão. A outra é a dívida, que ainda não consegui resolvê-la. E nesse ano eu tenho esperança de que estaremos na primeira divisão e muito bem colocados, e se tudo correr bem nós conseguiremos terminar com endividamento zero.Irapitan Costa
– É muito difícil ter como meta a venda de um jogador por temporada para cobrir as dívidas?Ênio
– Isso é horrível. Porque você passa a depender de variáveis alheias a uma boa administração. Depende do resultado dentro de campo. Você só vai vender um jogador em boas situações. Então você entra em uma variável que é difícil de administrar, escolher. Por isso é uma situação ingrata para o Paraná Clube, porque desde 97 tem convivido com essa dificuldade, e mesmo quando tem a sorte de acontecer esse fato, ainda não resolve o problema. Porque você tem tanto buraco pra trás, que tudo o que faz mal cobre um buraco. Vou te dar um exemplo: 1995 foi o primeiro ano de endividamento do Paraná Clube, foi o primeiro ano que ele terminou no vermelho. E em 94 e 95, entre outras pessoas, foi vendido o Mirandinha. E foi uma venda bastante alta, para a Suíça, e mesmo com o dinheiro da venda, terminou o ano endividado. É tipo aquela operação bicicleta: se você parar de pedalar, você cai. Então tem que continuar pedalando de qualquer maneira. Em 96 e 97 teve a venda do Gil Baiano para o Sporting de Portugal, teve o empréstimo do Claudinho para o Japão, finalizou vendendo o Ricardinho para o Bourdeaux, da França, e terminou o ano devendo mais de R$10 milhões. Aí veio 98 e 99, com o mesmo caso. Entraram R$ 6 milhões com da venda do bingo, foi vendido mais o Denílson, lateral-direito por R$1 milhão, e foi vendido o Reginaldo Vital no final de 99 por R$ 1,6 milhões, e a dívida continuou em mais de R$ 10 milhões. Quando a gente entrou, em 2000, tinha três meses de salários atrasados e o time estava na segunda divisão. De novo, veio todo o processo. Vendemos o Wilson para o Vitória da Bahia, no meio do ano vendemos o Fernando Diniz, para o Fluminense, o Washington, para a Ponte Preta, e no ano seguinte vendemos o Hílton para a Suíça e o Ilan para o Atlético. Então com todas essas vendas nós resolvemos bastante a dívida, que ficou em torno de R$ 2 milhões e fizemos um grande brasileiro em 2001. E eu esperava terminar o ano vendendo o Lúcio Flávio, para zerar a dívida. Não conseguimos vender o Lúcio, a dívida permaneceu nos R$ 2 milhões, e hoje devemos R$ 6 milhões.Xavier
– E isso tudo são juros?Ênio
– É, juro sobre juro, mas muito mais do que juros, é que 2002 foi um ano muito atípico para o Paraná Clube. O pior ano da história do clube. O calendário do ano foi muito ruim pela Copa do Mundo, nós não classificamos na Sul-Minas, não fomos para a Copa dos Campeões e isso atrapalhou os nossos planos. O grande pecado do Paraná, e nós estamos pagando por isso até hoje, e não sei até quando, é que em 1997 o Paraná Clube cometeu uma falha. O Paraná, no campo estava bem, mas fora estava muito mal. No período entre 93 a 97, o tricolor venceu tudo, andava de caminhão de bombeiro, mas foi a pior época estrategicamente. Em 97, ao ser convidado um clube do Paraná, para fazer parte do Clube dos 13, o tricolor recusou o convite, por uma solidariedade ao Atlético completamente equivocada. Porque naquele momento, o Coritiba, acabou usando a indecisão do Paraná Clube e se aproveitou disso. Então o Paraná Clube, ao falhar naquele momento e não querer entrar no Clube dos 13, cravou o seguinte problema – o Coritiba entrou, dois anos depois, o Atlético entrou, e o Paraná ficou fora. Se fosse mais inteligente naquele momento, talvez hoje o Paraná fosse o único clube do Estado integrante no Clube dos 13, e pela competência do Paraná, revelando jogadores, ele seria o maior clube do Sul do País.Gisele Rech
– Houve ou não um acordo entre os três clubes? Porque o Petraglia, em 98, falou que o Coritiba teria traído um acordo.Ênio
– Sinceramente eu não posso te afirmar isso, porque na época eu estava fora do clube. Mas com segurança, eu digo o contrário. A honra que o Paraná Clube tentou manter custou talvez dez anos de dificuldades.Irapitan
– E esse erro foi de quem?Ênio
? Do presidente e do diretor daquela época. Eram eles que tomavam as decisões. E aí então fica a seguinte repercussão: um time cinco vezes campeão e fora de campo tomando de 3 a 0. E o que aconteceu na seqüência foi a nossa maior dificuldade. E eu ouvi de diretores que é gozado a gente insistir tanto para entrar no Clube dos 13 se quando eles nos convidaram, nós recusamos.Xavier
– Eles jogam isso na sua cara?Ênio
– Umas cinco, seis vezes, e todas com testemunhas, inclusive do Paraná Clube. Aliás há uma semana atrás eu ouvi isso de novo. Então o que acontece? Desde 98, que foi o primeiro ano depois dessa infeliz decisão, nós só temos passado dificuldade. Então eu separei aqui, em 2002, que são números fiéis, exatos, com relação à Liga Sul-Minas. E aí cabe dizer que essa infelicidade lá atrás, trouxe para o plano dos dirigentes atuais a seguinte situação: Coritiba e Atlético tiveram de cotas de televisão em 2002, R$ 6 milhões e 977 mil. Vale dizer que o presidente dessa ou daquela agremiação, cai no colo dele R$ 7 milhões, independente do mérito dele. Então isso desiguala as análises, porque no caso do Paraná Clube, a cota foi de 2 milhões e 69 mil. Isso quer dizer que são R$ 4 milhões e 700 mil a menos em um ano. É mais do que a folha que nós temos hoje. E para ele tirar essa diferença? Considerando que tem que jogar contra os caras, é onze contra onze. Então você cria uma desigualdade estrutural desumana de ser administrada e aí como nem todos conhecem essa dificuldade circunstancial que aquela decisão levou, acabam exigindo que o Paraná seja melhor do que os outros clubes. Mas com essa desigualdade vai ser muito difícil que se consiga passar pelos outros dois clubes. Talvez uma hora em um e depois em outro. Mas dos dois é muito difícil. Então nós só temos um caminho: é conseguir integrar o Clube dos 13, e esse é um grande trabalho que está sendo realizado.Cristian
– O Paraná também é prejudicado de alguma forma pela Federação Paranaense?Ênio
– Não. Nós acabamos ficando mal no ranking, porque quando foi negociado o Campeonato Paranaense em 2000, nós estávamos na segunda divisão. Então a divisão de cotas do Paranaense nasceu em 2000 e nós tivemos uma explicação da Federação, que era uma situação mercadológica do momento. Como nós estávamos na segunda divisão e os outros dois na primeira, as cotas seriam diferentes.Gisele
– Mas como você explica o sucesso do São Caetano e como o Palmeiras e o Botafogo estão na segunda divisão, já que ganharam uma cota maior?Ênio
– Eu posso te falar muito sobre o Paraná. Sobre os outros posso falar por hipóteses. O São Caetano recebe da Cônsul cerca de R$ 400 mil por mês, que casualmente o Nairo me falou. Agora não posso te falar como eles conseguem fazer isso. Mas o futebol é tão difícil, que no caso do Palmeiras, mesmo com dinheiro, o resultado não sai, e aí complica. E isso até nos valoriza, porque uma instituição que recebia R$ 10 milhões caiu, e nós, com R$ 1 milhão, não caímos.Irapitan
– O Paraná tomou um grande susto no Brasileiro do ano passado e chegou no Paranaense contando com a garotada. Não foi contar muito com a sorte?Ênio
– Não foi contar demais com a sorte. Foi contar demais com os juizes. Se a gente já tinha criado um déficit muito grande no ano de 2002, nós tivemos muitos meses parados, nós fomos mal financeiramente. E como tínhamos essa dívida do ano passado e tínhamos R$ 279 mil de cota no Paranaense, o que restava para nós com um pouco de juízo era não fazer nenhum investimento. E demos azar. Fomos muito mal. Mas o futebol é decidido nos detalhes. Se o Marquinhos tivesse feito aquele gol de pênalti em Paranaguá e tivéssemos vencido jogo, o empate contra a Portuguesa Londrinense classificava a gente entre os oito. Então, acho que foi uma barbaridade. Porque fez com a gente agora gastasse com o Brasileiro, nós poderíamos ter tido uma melhor sorte e aproveitar os garotos na competição nacional, e no entanto, com o desempenho ruim, a gente vai ter que restringir isso.Rubens Chueire Jr
– E como é sair de uma situação complicada, como foi a luta para escapar do rebaixamento no Paranaense, e trabalhar a cabeça dos jogadores para o Brasileiro?Ênio
– Isso foi fácil, não é segredo. Quando você trabalha em um grupo, tem que estar sempre preocupado com o fato novo. E isso pode ser positivo ou negativo. Vou dar um exemplo, que está ligado com a sorte. A nossa comissão técnica que terminou o ano de 2002 teve um desempenho naquele momento, e eu reconheço isso, de alta qualidade. E em 2003 não teve a mesma performance, mas eu não tenho mínima idéia do que aconteceu. Vou dar outro exemplo. O time que jogou em Santos tinha dois jogadores novos apenas – Mílton e Renaldo. E tinha nove que eram os mesmos. Então nós terminamos o jogo, com as expulsões, com onze jogadores que atuaram contra a Portuguesa Londrinense. E o time mudou totalmente. E a mudança de comando do time, muda o pensamento dos jogadores. Mudou o processo de cobrança, de trabalho. Acho que a nossa comissão técnica está conseguindo tirar muito bom proveito desse grupo. Ela conseguiu encaixar uma filosofia de trabalho que o grupo recebeu muito bem. E espero que isso dure por muito tempo.Xavier
– A dificuldade que existe entre um administrador normal, de uma empresa, ao dirigir um clube é que ele lida com uma estrutura financeira baixa, mas lida principalmente com a paixão. E isso gera uma série de atos como aquele no Pinheirão, com os torcedores te pressionado na beira do campo. Como resolver isso?Cristian
– Naquele momento, com a pressão da torcida, você pensou em abandonar o clube?Ênio
– Cheguei a pensar nisso. Sempre o que falou mais alto pra mim foi o interesse da instituição. E isso tem me custado alguns desgastes, porque há pessoas que querer servir-se do clube e eu não permito, porque estou lá para servir o clube, ajudá-lo. E está cheio de gente querendo se aproveitar. Naquele momento refleti muito isso. Era um grupo que a gente conhece bem, que não pagava ingresso e acaba não ajudando o clube. E achei que se rendesse a essa minoria que nada ajuda, eu não estaria prestando um serviço à instituição. Para mim, esse respeito à instituição, essa meta de manter o clube na primeira divisão e sem dívida, eu acabei achando que deveria continuar com o trabalho porque eu acreditava nesse trabalho e não achava que aquela situação seria o fundo do poço. E ainda acredito muito nisso.Marcos Batista
– Você é remunerado?Ênio
– Não sou. No meu caso acho certo, porque quando entrei a regra do jogo era essa. Mas o dia que sair, vou deixar lá uma mudança no estatuto, que o cara que faz essa função tem que ganhar muito bem. Ganhando muito dinheiro já é difícil, imagina se não ganhar nada.Irapitan
– Essa situação de não permitir que as pessoas se sirvam do clube, muitas vezes o que passa é que você se isolou. Você ficou isolado no comando do Paraná?Ênio
– Na verdade, o modelo que o Paraná Clube tem de conselho é muito bom no sentido de controle organizacional muito competente. Isso facilita no lado do controle. Nesse ponto é bom, mas tem a parte ruim, que é a parte do conselho, onde os conselheiros se enchem com os resultados e vão embora do clube. O presidente não pode se dar ao luxo de ficar sem aparecer durante trinta dias. Um conselheiro pode ficar seis meses sem aparecer. Isso às vezes sugere um certo isolamento, e como o clube tem essas dificuldades, o isolamento é mais propício. Se você tivesse dinheiro para pagar as dívidas, seria muito mais fácil, e isso não aconteceria. Mas nunca me senti só. Tem bastante gente boa ajudando no futebol. E o que mudou? Nada. Sou o mesmo, eles não são remunerados. Pra mim mudou a vinda do Paulo Vélter, Navarro, Zé Domingos, Márcio Vilela, e na verdade estão me permitindo ajudar o Paraná Clube. Porque em vez de ficar no vestiário, eles estão fazendo um trabalho de alta qualidade e me permitem ir ao Rio de Janeiro conversar com o Eurico Miranda, falar com o Fábio Koff, cuidar de coisas estratégicas muito mais importantes. As pessoas são as mesmas, mas aconteceu uma participação maior da parte de cada um. Estou batalhando coisas, que seriam muito mais fáceis de serem conseguidas se o pessoal de 97 tivesse sido mais inteligente.Gisele
– Essa dívida do Paraná se deve muito às contratações erradas nos anos anteriores à sua gestão? Isso interferiu?Ênio
– O pecado do Paraná Clube foi gastar mais do que ganha. E esse pecado começou na gestão de 94/95. Agora o Paraná passou a gastar mais do que ganha porque em 97 deixou de aproveitar o ganho que estava em suas mãos. Não houve uma visão de futuro. É mais ou menos como quem vive de comissão. Quem recebe comissão e vende muito em um mês não sabe se vai receber depois, então tem que pensar pra frente, no futuro. E o Paraná de 93 a 97 foi por isso. Qualquer cidadão de consciência mediana sabe que o time mandou no futebol do Estado durante esse tempo. Então em 97 o primeiro a ser convidado deveria ser o tricolor. Não que eles devessem convidar o clube. O Paraná tinha que estar lá por ser a bola da vez.Xavier
– Essa nova tomada de posição do Conselho, que redundou na chegada das pessoas que estão lhe ajudando, você encarou como? Como um despertar dos conselheiros ou um golpe de estado dentro do clube?Ênio
– Um despertar. Sempre achei que quando o Paraná fez uma mudança em seus conselhos, há quatro anos, meio que adormeceu o conselho deliberativo. Até pelo número de pessoas que envolve, são 440 conselheiros, era um erro estratégico. Não só o Conselho Deliberativo, mas os associados do clube, a assembléia geral tem que ter uma participação mais efetiva, porque isso é mais ou menos uma situação de cooperativismo, quanto mais gente ajudando, mais fácil vai ficar se você tiver boa vontade em dividir com eles as discussões, as idéias. Mas eu fui um dos que brigou para esse conselho voltar. E fui o defensor disso nesses dois últimos anos e ficamos tentando restabelecer esse conselho, o que conseguimos recentemente.Xavier
– E não há uma série de barreiras para que um novo conselheiro ou um novo sócio possa integrar esse grupo de trabalho?Ênio
– Talvez até possa parecer isso pra quem está de fora. Mas agora, recentemente, entraram algo em torno de 150 torcedores, então significa que é possível essa revitalização. E agora também um fato que acho positivo. Com a entrada do novo código civil, o meu sucessor por exemplo, já será eleito na forma da lei, em janeiro do ano que vem. Quanto mais participativa for a eleição, mais consistente ela será.Cristian
– Isso significa que você não seria um dos candidatos?Ênio
– Não tenho essa pretensão. Acredito que tenha dado a minha contribuição, independente da avaliação, seja ela boa ou ruim.Gisele
– Houve um momento em que pelo menos a imprensa ficou sabendo que havia um grupo que queria te tirar do poder. Você pensou em renúncia?Ênio
? Não, porque isso foi muito mais efeito publicitário. Primeiro que se você analisar em um conjunto, sou o presidente do Conselho Administrativo. Nós temos 29 conselheiros, e fiz uma reunião e esse conselho, na regra anterior, me elegeu. Então, um ou dois conselheiros falarem algo em relação à minha saída é tão relevante quanto três ou quatro dizerem que o Lula tem que ser demitido da presidência da república.Cristian
– Você tem inimigos políticos dentro do clube?Ênio
– Não acredito. Acho que tenho inimigos políticos nos outros clubes. Os caras do Atlético e do Coritiba. Eu não os classifico, mas os tenho. Mas dentro do Paraná Clube, se tiver, é um idiota. Porque se ele quiser tomar o comando é só se candidatar ao final do ano e concorrer na eleição.Xavier
– E oposição no clube?Ênio
– Não tem, porque quando você pergunta em um conselho se alguém tem alguma oposição, não tem. Então a oposição fica sem efeito.Irapitan
– O que o Paraná está fazendo em relação à MP 79, a adaptação ao clube-empresa e a essa mudança de código civil?Ênio – Com relação à MP 79 já temos uma série de estudos feitos, agora ela ainda está carente de definições finais, que estão para ser votadas. Na verdade, a gente não fez nada ainda. Agora todos os caminhos levam e a gente está trabalhando na direção de montar o nome Paraná Clube Futebol, isso nós vamos fazer. Montar isso e separar, e independentemente da medida, nós estamos achando isso interessante para o Paraná. Separar o futebol do social, porque hoje com as dificuldades que o social vem tendo a gente precisa dar uma certa força nesse sentido. E com o futebol isso estava sendo difícil. Então tem que separar as receitas e despesas para evitar fazer o que acabou sendo feito nos últimos anos. Um cara do social fala que nós investimos só em jogadores. O torcedor reclama que construímos piscinas, deixando de lado o time.
Cristian
– Você já teve que decidir entre uma sauna e um jogador?Ênio
– Já, e fizemos a sauna. Hoje em dia você cria problemas. A Lei Pelé também criou um problema nessa área. Por exemplo, quando você tem um dinheiro só para as duas coisas e tem um problema relevante no social, mas o futebol também precisa. Isso é um pesadelo.Xavier
– O que aconteceu para o social cair tanto e não ter uma receita própria?Ênio
– Quando foi feita a fusão, em 89, os estruturadores imaginaram que juntando as duas coisas, o social iria sustentar o futebol. Aí o mundo mudou muito nestes últimos treze anos. Uma mudança grande foi em 94, com a entrada do plano real. Então naquele momento, o Paraná Clube sofreu um baque muito grande, porque os ganhos financeiros desapareceram. E era um ganho grande que o Pinheiros tinha, com aplicações financeiras. E o Paraná é um herói da resistência, porque de lá pra cá vários clubes sociais fecharam ao longo dos dez anos. Você pode fazer uma análise por exemplo do carnaval de clubes. Quantos tinham anos atrás e quantos têm hoje. Então os clubes sociais em função das academias, do shopping center, dos condomínios, da facilidade de acesso às praias, mudaram muito. O Paraná Clube ainda é um dos únicos clubes sociais que ainda funciona. Mas chegou a ter 25 mil sócios em dia e hoje, suando, são oito, oito e meio, em alta temporada. No inverno esse número cai para 6 mil. E a situação se complica ainda mais.Cristian
– Quando o senhor sentiu que tinha de lutar bastante para conseguir uma melhora de cotas para o Paraná Clube?Ênio
– No ano passado, o Paraná estreava no sábado contra o São Caetano aqui e eu fui chamado em São Paulo na quinta-feira. Eu tinha uma promessa verbal de que a nossa meta seria de 2 milhões de reais. Nós tínhamos feito tudo com base na nossa meta. Lá em São Paulo me disseram: “a tua cota é R$1.100, e se quiser”. Eu assinei a cota e voltei para Curitiba no final do dia, fiz uma reunião com os atletas e com a comissão técnica, na sexta pela manhã e no sábado íamos estrear contra o São Caetano. E eu falei: “nós estamos entrando numa guerra, não sei quantos vão morrer, mas quem quiser sair dela sai já. Eu não quero atrapalhar a vida de vocês e quem quiser pode sair”. Todos ficaram.Gisele
– Com o que aconteceu em 2002, este ano as contratações para o Brasileiro foram feitas com base em que valor?Ênio
– Foram feitas com base no valor do ano passado, porque entra uma cota que não vem ao caso. Mas nós tivemos saída de jogadores também. Porque os valores dos salários das pessoas que saíram recentemente, como o centroavante Flávio (N.R. – que acabou retornando), o Ocimar. E os que chegaram: Flávio, Renaldo, Caio, Rodrigo, Fernandinho, Milton, os valores são até pouca coisa menor. Nós conseguimos fazer uma reegenharia do elenco com o mesmo custo. E não vou nem dizer uma reegenharia de qualidade, mas o nosso objetivo foi bastante produtivo.Irapitan
– Com o mesmo custo. No ano passado trabalhou no vermelho porque montou em cima de 2 milhões e esse ano montou em cima do mesmo valor. Quer dizer que vai empatar?Ênio
– Vai empatar.Xavier – Vocês tiveram essas reuniões dos excluídos, dos 8. Em determinado momento vocês sentiram que tinham poder para viabilizar ou não toda a estrutura da televisão?
Ênio
– Que tínhamos esse poder, havia certeza. E também consciência que não tínhamos cacife pra isso. Porque isso implicava em não receber nenhum tostão e ter que bancar uma competição. Nós iríamos dar um jeito se fosse o caso, mas não passaríamos da quarta rodada sem os recursos de televisão, pelas despesas de viagem e pelas situações salariais que deveriam estar em dia para iniciar a competição. Em termos de Paraná Clube, se tivéssemos alguém por trás que bancasse, poderia ser um caminho, mas sem o cacife que a gente precisava e com a necessidade de melhorar a cota não é fácil conseguir essa equação, de conseguir melhorar a cota, mesmo fragilizado no blefe que você não poderia dar.Xavier
– Poderiam blefar, mas não teriam condições de pagar o blefe?Ênio
– Exatamente.Cristian
– O exemplo da Itália chegou a passar pela cabeça de vocês?Ênio
– A gente chegou até a conversar sobre isso. Mas a realidade aqui é diferente. Eu sei que eles tiveram uma queda de braço, mas a nossa realidade aqui é muito dura. E essa fragilidade se estendia aos oito, talvez menos ao São Caetano, mas os outros sete com certeza tinham situações difíceis se não viabilizassem o acordo.Irapitan
– Em algum momento surgiu a proposta de outra emissora?Ênio
– Não, porque o momento que para nós poderia ser favorável a outra emissora, foi desfavorável em termos de estratégia com os oito clubes em função do embolo do Campeonato Paulista. Isso acabou dificultando o nosso caminho. E eu aprendi a respeitar os oito presidentes, que são pessoas sérias.Cristian
– Não havia o risco de alguém roer a corda?Ênio
– Como o Clube dos 13 já havia recebido 40% de adiantamento das cotas da Globo, nós achávamos que qualquer caminho em outro sentido iria criar uma confusão que seria ruim. O cara já tinha dado 40% e nós não poderíamos desrespeitar porque foram os 16 que estão aqui que pegaram e não nós. O caminho mesmo é acertar com eles.Xavier
– A briga então não era com a televisão, era com a divisão do Clube dos 13?Ênio
– Ela fez um contrato com o Clube dos 13 e acabou criando uma confusão porque assinou um contrato pelo Campeonato Brasileiro e a gente só tem domingo e são 16 e eles venderam 24. Por isso criou uma situação desconfortável para eles do ponto de vista legal e pra nós do ponto de vista financeiro, porque todo mundo precisava do dinheiro.Cristian
– Como foi a participação do Ricardo Teixeira nessa história?Ênio
– Politicamente foi boa. Tivemos que mostrar que a política nacional de distribuição de dinheiro está distorcendo os méritos regionais. Um exemplo: a medida que dê 8 para o Guarani e 4 para a Ponte Preta você estará distorcendo em Campinas. E no caso de Curitiba então nem se fala. Dá dois de 700 para o Paraná e sete para os outros dois a distorção é muito maior. E ele ficou bastante sensibilizado com isso e disse que iríamos achar uma saída, sem discutir méritos de valores. E na Globo também. O Marcelo foi bastante sensível e disse que não poderia discutir, mas poderia pedir para que houvesse um entendimento. E coincidência ou não, o entendimento evoluiu.Xavier
– Chegou a valores satisfatórios?Ênio
– Chegou. Eu diria que dos oito eu considero o Paraná Clube feliz, junto com o São Caetano. Nós acabamos trabalhando juntos e ele assinou o contrato até um pouquinho antes que eu. O Juventude também teve uma boa participação. No Paraná Clube, na minha conta, significou um adicional de 1 milhão e 800 mil reais. Foi um avanço em relação a proposta inicial, que eu não sei se era um jogo de cena, mas era real. Alguns clubes acabaram ficando com aquela e outros até com menos que aquela.Xavier
– Isso seria um embrião para uma ampliação do Clube dos 13?Ênio
– O que a gente tem de encaminhado é bem nessa direção. Toda a conversação nesse período foi nessa linha. Ficou muito claro que o Clube dos 13 com 16 na elite e 8 fora dela é um perfil ruim. Até porque se cair um deles fica uma situação bastante desequilibrada. Há um pensamento de restabelecer a quantidade de 20 clubes pertencentes à elite. E se não for 20, que seja 18. A nossa concepção é que o Paraná será um deles.Cristian
– Qual foi a participação do Atlético e do Coritiba na negociação?Ênio
– Eu não estava presente, mas houve uma assembléia em janeiro e eles fizeram uma movimentação em relação a cotas. A movimentação dos dois clubes daqui foi positiva, foi favorável a um reconhecimento melhor aos oito e evidentemente ao Paraná Clube. Houve até um depoimento do presidente do Atlético na assembléia, que reconhecia o pleito de nossa parte válido e embora sem citar valores achava que merecia uma atenção melhor do que teve no ano passado.Irapitan
– Corre o risco nessa divisão do Clube dos 13, com a presença de novas equipes, de se criar mais um escalão no Grupo dos 13 e eles empurrarem com a barriga uma decisão mais prática da coisa?Ênio
– Primeiro precisamos estar na festa, comer o bolo para depois ver o que dá. Precisamos estar junto e depois espero ter competência. Mas, considerando o conhecimento que a gente tem, acho que é melhor a gente descartar a idéia de que vamos ter, se entrar no Clube dos 13 o ano que vem, a nona cota. Uma das coisas que eu estou apostando é no ranking. Vamos supor que o Paraná consiga este fato político e que consiga dentro de campo, por exemplo, ficar entre os oito no Brasileiro… claro que facilitará muito. Às vezes o ranking é desrespeitado, mas no geral é respeitado. Uma das coisas que ficaram caracterizadas nas conversas é que o Paraná Clube é considerado um clube de 1ª divisão.Gisele
– Agora que a cota está mais reforçada, o torcedor vai poder respirar mais aliviado?Ênio
– Nós dirigentes vamos respirar mais aliviados se o torcedor comparecer ao estádio. O campeonato é um túnel escuro para todo mundo. A forma com que ele está sendo disputado é uma coisa inédita pra todo mundo. Nós estávamos contando os três primeiros pontos de 138 e se eu sofrer nos 135 o tanto que eu sofri nesse, estarei morto. Agora, pelo que nós programamos de trabalho em todos os sentidos, técnico, tático, financeiro, operacional, nós temos condições de se classificar entre os oito. Um ano a coisa vai começar a funcionar e eu acho que será o ano que vem. O Paraná Clube hoje, tecnicamente, está fora da Copa do Brasil do ano que vem.Xavier
– Pelo exemplo desse ano vai ser difícil.Ênio
– Vai ser difícil. A nossa honrosa saída para 2004 é ficar entre os oito e disputar o Pan-americano ou Libertadores.Márcio
– O senhor acha justo o sistema de cotas. E que os times que estão na segunda divisão recebam cotas do Clube dos 13?Ênio
– Não, eu não acho justo o sistema de distribuição de cotas. Acho um absurdo.Xavier
? Que retorno que teve o carnê, foi o esperado?Ênio
? O pacote nosso é muito interessante, muito inteligente. O cara que é sócio paga 130 reais e vai ver o jogo até dezembro nas cadeiras. Não sócio é o mesmo critério só que 190 reais. Agora é uma questão um pouco cultural no Brasil essa história de comprar ingresso antecipado, não tem essa experiência porque a nossa renda é muito baixa. Por isso que eu defendo um conselho participante, ativo. Nós temos 440 conselheiros, mandamos uma carta dizendo o seguinte: se cada conselheiro retirar em consignação 10 , nós teríamos 4.400 pass-cards na mão de conselheiros. E se ele conseguir comprar um pra ele e repassar pra um colega, amigo, filho, nós teríamos algo em torno de 600 mil reais de receita antecipada. Nós teríamos um complemento de receita super positivo e que daria aquele fôlego necessário durante o ano inteiro.Gisele
– É complicado lidar com a torcida do Paraná Clube?Ênio
– Tem gente que liga para a rádio e diz que é torcedor, mas não vai ao estádio e não compra ingresso. Torce o quê? Deve torcer roupa. Esse deve ser um simpatizante. Torcedor para mim é o que compra ingresso, boné, roupa, chaveiro, compra produtos. O que compra ingresso e vai ao jogo. Desse, qualquer cobrança é válida. E o que pede ingresso de graça é o “chupa cabra”.Bório
– Você falou que a venda do Pass card está muito aquém do projetado. O torcedor também não vai comprar antecipado sabendo que amanhã muda a data?Ênio – Essa previsão é de agora até 2005. São três anos garantidos de fórmula.
Cristian
– Qual a sua opinião sobre a fórmula?Ênio
– Eu sou otimista. Acho que ela vai ser sucesso. Tenho muita confiança de que será o melhor Brasileiro da história e será muito boa para o Brasil e posso pegar como testemunha real a primeira rodada. Nós tivemos 12 jogos, com oito empates. Isso é uma amostra pequena, mais identifica a regularidade que teremos ao longo do ano. Não acredito num campeonato justo, em termos técnicos, que não tenha turno e returno e o Brasil vai acabar se convencendo disso.Bório
– Existe o risco de o Figueirense ser campeão e chegar o ano que vem voltar tudo como era, ou seja, mata-mata, eliminatória para favorecer os grandes?Ênio
– Não vai mais ter espaço no Brasil para essas coisas. Uma hora vai zerar.Gisele
– Vocês pensaram que de repente algumas equipes podem parar no meio do campeonato?Ênio
– Eu acho que isso não vai acontecer porque os clubes de uma maneira geral estão muito nivelados. Qual é o melhor clube do Brasil? A gente não consegue identificar. E o pior? Essa situação é muito pouco provável de acontecer. Por ser turno e retorno, acho que o campeonato vai ser equilibrado do começo ao fim. O Paysandu pode ganhar do Corinthians no Pacaembu. O Figueirense pode ganhar do Santos na Vila Belmiro.Cristian
– Qual é a sua opinião sobre os empresários?Ênio
– A Lei Pelé foi um engano muito grande para o clubes e uma facilidade exagerada para os empresários. Tem empresários de nível de jogadores da seleção brasileira e o inverso. Independente até da figura do empresário, a Lei Pelé criou para os clubes uma situação muito ruim, principalmente para as categorias de base. Se pegar o caso do Paraná, nós temos semanalmente treinando na Vila Olímpica 100, 120 garotos. Eu resolvo ser empresário e vou segunda de manhã para a Vila, fico lá nos intervalos até 6h da tarde. Acho um garoto, pergunto onde mora o pai dele. Dou pra ele 500 reais, um celular e um Gol 93, pego uma procuração dele e fico dono do garoto. Aí, quando o Paraná vai lá falar com o garoto ele responde: “eu sou lá do Fulano”. E quando vamos falar com o Fulano, ele diz que metade é dele. Então foi um cartório que caiu nas mãos dos empresários.Xavier
– Encaixaria nesse esquema a saída do Fredson, do André e quanto o Paraná perdeu com isso?Ênio
– Encaixaria. São situações cada uma diferente da outra. O Milton do Ó entrou na justiça porque alegou que o Paraná Clube não teria pago pra ele auxílio aluguel e mais algumas prestações de um veículo, que eu acho até que era verdadeiro. Mas eu acho que não era suficiente. É como se você atrasar três prestações de um veículo e te tomarem o carro. O caso do André foi uma seqüência repetitiva de atraso de fundo de garantia. No caso do Fredson foi uma interpretação da justiça do trabalho que deu uma liminar pra ele. Depois cassou a liminar e ele já tinha ido embora. Hoje o Paraná tem os direitos federativos do Fredson mantidos, mas para exercer são quatro anos de demora. No caso dele o Paraná ganhou e no caso do André perdeu e eu acho que não recupera mais e do Milton também. Agora, foi o Paraná que formou os três atletas, pagou o que quer que seja. Um ou dois atravessadores, que acabam faturando 8, 10 mil dólares, acabam se aproveitando da situação e o clube que investiu não neles, mas em 100 atletas do grupo para tirar 1 ou 2 não sai com nada. Isso é muito ruim em termos produtivos, porque o produtivo não fica com nada.Cristian
? O ex-goleiro Zé Carlos colocou dois jogadores do Botafogo sob sua guarda e o Américo Faria também é um dos donos do passe do Carlos Alberto. Como o senhor reagiria se dentro do Paraná Clube acontecesse alguma coisa assim?Ênio
– Não tem como se discutir mérito dessa situação. O falso moralismo aceita coisas de estranhos que não aceita de amigos. Se o Careca, que é jogador de futebol, chegar e disser que tem um garoto que é muito fera e quer dar 50% para o Paraná Clube e você me entrega o cara, eu fico com 50%. Mas se alguém de dentro do clube me apresenta essa situação eu não faria. É o falso moralismo.Márcio
? Mas não fica implícita a obrigação do técnico de utilizar esse jogador?Ênio
? Não, esse medo o futebol exclui, porque dentro de campo se o jogador não mostrar futebol não tem como, acaba sendo excluído. O padrão de qualidade exigido pelo clube não deixa inventar moda. Mesmo porque tem muita gente da imprensa que condena isso e também faz isso.Xavier
? O André saiu do clube porque o fundo de garantia estaria atrasado. Poderia ter um empresário que sugerisse que o clube atrasasse o fundo de garantia. O Clube estaria vulnerável a isso?Ênio
? No caso do Paraná, não. A vulnerabilidade não é nesse campo. Às vezes atrasa. O que a gente tem muito cuidado é de ter atletas de muito bom caráter que não aceitem esse tipo de coisa. Eu vou dar um exemplo, o Márcio poderia entrar com a mesma ação e não entrou. Essa é a diferença entre homem e lobisomem.Gisele
? Pelo menos o FGTS está em dia?Ênio
? Não adianta estar em dia se o salário está atrasado. E se os dois estão em dia e o INSS está atrasado, o presidente vai preso.Irapitan
? Como fica hoje a responsabilidade fiscal em relação ao salário e direito de imagem?Ênio
? Tem duas situações: o fundo de garantia e o salário estão ligados a uma instituição, porque a legislação no fundo é inadequada. Qualquer pessoa que tenha vínculo empregatício tem direitos. Você pega uma relação de empregados, no Paraná tem 330 caras, aí você pega 30 mil para recolher e nós só temos 10 mil no bolso. É uma idiotice a legislação.Xavier
? Uma vez eu ouvi que alguém sugeriu que atrasasse o fundo de garantia do Bader, para poder entrar na justiça, porque ele ia para a Coréia. Houve isso mesmo?Ênio
? Não.Xavier
? O fundo de garantia dele está em dia, está tudo certo?Ênio
? Não sei se está. Tem situações de salário no fundo de garantia que liberam o atleta da instituição e aí tem a procuração em débito, que é INSS, Imposto de renda retido na fonte… No fundo é mais uma situação de total discriminação. Vocês acham que no Brasil só o Paraná Clube atrasou o recolhimento do INSS? Impossível.Márcio
? Quanto custa o Paraná Clube hoje?Ênio
? No futebol custa 600 mil reais por mês. O social 300 mil reais por mês. O total 900 mil reais por mês.Márcio
– E quanto gera para poder cobrir esse custo?Ênio
? Menos do que esse valor.Cristian
? Como o presidente reage a um erro de arbitragem?Ênio
? Pra mim como presidente é um assunto bastante complicado. Nesses últimos anos a gente teve algumas situações de arbitragem bastante prejudiciais, mas eu não vejo como mudar isso. A política de definição de árbitro no Brasil é bastante fechada. Nesses seis anos que eu estou lá nos não tivemos nenhuma situação dramática que prejudicou ou favoreceu a gente, mas pode acontecer de cair ou subir de uma divisão para outra por causa de juiz.Xavier
– O Paraná foi o grande vilão da primeira rodada, como é que você reage?Ênio
– É a mídia dos Mauricinhos. Eles têm um apelo de mídia mais favorável que o nosso, foram campeões brasileiros o ano passado, o Brasil inteiro, exceto nós, tinha certeza que o Santos ia golear. Ninguém no mundo vai discutir a qualidade técnica do Kaká, mas não é desproporcional. A mesma coisa é com o Santos. O pessoal acaba esquecendo que o Leão na Vila Belmiro apita o jogo e ninguém fala nisso. O Paraná Clube lá não fez nada a mais que o Santos fez. É uma desigualdade criada pela mídia. O Robinho deu um soco na cara do Fernando Miguel e o Paulo Almeida deu um no Marquinhos. É bem mídia a favor dos Mauricinhos.Gisele
– Aquele episódio do Paulo César Oliveira em São Januário em 1999. Naquele caso você acha que prejudicou?Ênio
– O julgamento depois é que foi estranho. O Paraná Clube fez certo, alegou falta de segurança. O estranho é que o assunto depois nunca mais foi julgado.Irapitan
– Como é a história do Eurico Miranda ser o padrinho do Paraná?Ênio
– Ele não é o padrinho do Paraná, ele é o presidente da comissão da divisão de cotas do Clube dos 13. A gente teve bons contatos com ele. Ele sempre foi muito positivo com a gente e eu não tenho nenhuma razão para não acreditar no que a gente combinou lá.Irapitan
– Como funcionaria na prática com a criação da S/A? Porque o associado vai votar no presidente do clube. E o Paraná Clube vai ter uma Paraná S/A que vai gerir o futebol. O associado estaria mesmo indicando?Ênio
– Se o Paraná Clube social tiver 51% de participação na Paraná S/A, eu acho que sim. Claro que o Paraná social que é o dono de tudo hoje vai ter participação lá. Se tiver a participação majoritária, vai ter a participação nos jogos também.Cristian
– Qual o modelo que o Paraná pensou em colocar?Ênio
– O modelo será com ele devendo um quinto do que ele deve.Gisele
– Quem está trabalhando nesse processo?Ênio
– É um grupo de 30 conselheiros com a experiência no ramo de administração de empresas. Mas não será nenhuma mágica mirabolante.Márcio
– Como você vê atletas como Romário, Edmundo, recebendo salários que mesmo os mais altos executivos recebem?Ênio
– A culpa não é deles, a culpa é dos clubes deles não terem os executivos responsáveis e competentes para mudar esse valor. Quando cotas astronômicas caem no colo de pessoas despreparadas, elas acabam usando de uma forma irresponsável. Pagam um salário de 400 mil reais para um jogador e não recolhem na fonte. Um pouco disso é marketing para a venda. Quero destacar para os bons paranistas que existe, eu não sei se planejada, ou acidental, uma certa movimentação contra o Paraná Clube, tentando tumultuar. Há na cidade de Curitiba pessoas que por razões sentimentais estão ligadas a outros clubes que não seja o Paraná. Razões históricas, sentimentais, financeiras, eu não sei. Eu vou dar um exemplo que aconteceu no início do ano passado. Andou um boato que a gente ia trazer o Nem e ele ganhava 40 mil reais. Isso nem o presidente ganhava. Qualquer idiota vê que os caras não queriam o Nem no Paraná. No mês de agosto, de 2002, começando o Brasileiro, nos principais jornais: “Paraná sofre golpe moral”. Nós tínhamos recém contratado 8, 10 jogadores.E os danos morais disso para o Clube. Quantos torcedores deixaram de ir ao campo e o patrocinador? Isso foi em agosto, em outubro teve um Camisa 12 que foi o Caio e um jornalista falou que o Paraná já estava morto, tinha caído. “O Paraná é a grande decepção do ano, não se recupera mais”. Em novembro saiu que o Paraná ia ser terceirizado com o Malutrom. Teve um programa de rádio e eu desmenti tudo e depois apareceu num programa de televisão a mesma informação. Em dezembro: “Márcio vai para o Atlético”. Em janeiro: “Márcio é vendido e não entrou dinheiro para o Paraná”. Tem que ter alguma coisa contra o Paraná. Essas coisas vêm com um carimbo diferente do Paraná. O torcedor tem que ficar esperto para tudo isso. Isso tem que ser uma coisa direcionada e se a gente começar a brigar entre si não dá certo.
Cristian
– Os coxas acham que os cronistas são atleticanos, os atleticanos acham que são coxas e os torcedores do Paraná acham que somos contra o Paraná. O senhor acha que existe isso da imprensa ser contra o Paraná?Ênio
– Eu acho que não há uma coisa orquestrada, mas com certeza que existe muita gente da imprensa que não tem a camisa do Paraná Clube.Irapitan
– Numa situação como essa, com fatos mostrados, não é mais fácil remediar batendo de frente ou isso não tem remédio?Ênio – Vocês da imprensa têm uma situação privilegiada. Acho melhor alertar o bom torcedor para ficar esperto.Xavier
– Ênio por Ênio?Ênio
– Bom demais. Bom no sentido de generosidade, eu deveria ser mais malvado.Transcrição: Andréa Pereira e Rubens Chueire Jr