Caio Júnior parecia ser aquele cara que gostava do impossível. Levar a Chapecoense a uma final de uma Copa Sul-Americana parecia ser algo muito difícil de acontecer. Ainda mais da forma que foi. O técnico assumiu a equipe catarinense no meio do caminho, quando Guto Ferreira aceitou a proposta do Bahia.

continua após a publicidade

Aos trancos e barrancos, demorou a engrenar, mas, aos poucos, foi fazendo o time jogar e não só chegou à inédita final internacional, como deixou o time na metade de cima da tabela do Brasileirão, com 52 pontos e a melhor campanha do clube na Série A. Algo muito semelhante ao que aconteceu dez anos atrás, quando ele foi o responsável pela realização de outro feito.

Após a conquista do Campeonato Paranaense de 2006, Caio Júnior, na época comentarista, foi contratado pelo Paraná Clube para substituir o campeão Barbieri. Assim como na Chape, o começo foi complicado, irregular, mas após a paralisação da Copa do Mundo daquele ano o time se encaixou e arrancou rumo ao inédito quinto lugar no Brasileirão, culminando com o Tricolor tendo o direito de disputar a Copa Libertadores.

Ali, Caio retomava a carreira de treinador, após uma primeira passagem pelo Paraná e também pelo Cianorte, quando derrotou o Corinthians de Tevez e cia por 3×0 (mais um feito ‘impossível’). Ali também eu começava a minha carreira como repórter. Tive a sorte de logo no meu primeiro trabalho cobrir essa campanha histórica do Paraná Clube e ter pela frente Caio Júnior. Na primeira vez que fui entrevistá-lo, as entrevistas coletivas não eram coletivas, mas sim exclusivas. Por ser iniciante, esperei pacientemente todos os outros repórteres conversarem com ele no campo do Pinheirão. Quando foi minha vez, o assessor do Tricolor me apresentou ao Caio, que vendo meu nervosismo e inexperiência, após minhas perguntas me falou:

continua após a publicidade

“Garoto, sempre que precisar de alguma coisa aqui, pode vir falar comigo. Não precisa ter medo, não. Estou à disposição”.

E em vários outros treinos em que fui do Paraná, sempre que ele me via, vinha me cumprimentar e perguntava: “Precisa de alguma coisa? Quer falar comigo?”, mostrando uma humildade e um respeito muito grande com todos que estavam lá trabalhando.

continua após a publicidade

Um dia antes da última rodada, no último treino na Vila Capanema, em um sábado pela manhã, antes do empate em 0x0 com o São Paulo que garantiu ao Tricolor o quinto lugar, levei toda a papelada que fiz com números de cartões, gols em cada tempo, e outras estatísticas daquele Brasileirão que atualmente todos os clubes têm, mas que antes não eram tão comuns. Aquilo deixou Caio fascinado e ele pediu para ficar com aqueles números. Algo simples, mas que ele reconheceu meu trabalho e me motivou a continuar com essas estatísticas.

Depois daquilo, cada um seguiu seu caminho. Em 2007, ainda nos cruzamos quando ele comandou o Palmeiras em um jogo contra o Atlético na Arena da Baixada. Mas quis o destino que quase cinco anos depois daquela façanha com o Tricolor, e quando Caio fez todo o nome na Ásia, nos reencontramos em um Paraná x Botafogo, pela Copa do Brasil de 2011, na estreia dele como treinador do time carioca.

Para a minha surpresa, ao cumprimentá-lo, eis que ele se lembrou de mim, depois de tanto tempo. Aquilo para mim valeu muito. A consideração de Caio Júnior com todos era algo louvável. E ele seguiu assim por toda a carreira. Por isso, tanta comoção por tudo o que aconteceu, e tanta admiração e respeito pelo treinador, como profissional e pessoa.

Infelizmente, ao contrário de 2006, desta vez o final da historia não foi nada feliz, mas fica o reconhecimento de um treinador que gostava realmente do que fazia e de uma pessoa das mais honestas, gente boa e bom caráter que pude encontrar nestes dez anos em que trabalho com futebol. Ao acordar com a notícia do acidente da Chapecoense, não tinha como este filme não vir à cabeça.

Em meio à tristeza, só tenho o que agradecer por toda a ajuda no começo da minha carreira. Até hoje trago muitas coisas comigo. Muito obrigado, Caio Júnior, e vá com Deus!