O “estilo Bonamigo?? faz sucesso no Alto da Glória

Realmente, não poderia haver presente melhor. A semana do aniversário de Paulo Afonso Bonamigo (42 anos completados na segunda), técnico do Coritiba, foi de sucesso e de vitória.

E que vitória – após passar pela Portuguesa, o Cori assumiu a liderança do campeonato brasileiro, que deterá até o final da rodada de hoje. E os próprios comandados, os jogadores, garantem que o grande responsável pela boa fase coxa é o treinador.

Nascido em Ijuí, o gaúcho Bonamigo jogou por quase vinte anos, sendo que metade desse tempo no Grêmio. E foi lá que ele conheceu o (e moldou-se no) sempre falado ?estilo gaúcho? de jogar, com marcação forte, saídas em velocidade e trabalho compacto da equipe – algumas das receitas que o Cori coloca em campo neste Brasileiro. No Olímpico, ele conquistou tudo – títulos gaúchos, o Brasileiro de 81, a Libertadores e o Mundial Interclubes em 83. E o conhecimento do sucesso faz com que ele não se empolgue com as boas fases, e alerte sempre o elenco alviverde.

“Quando estamos no alto, o ar começa a ficar mais fraco, mais rarefeito. E é isso que o Coritiba vai sentir a partir de agora, e nós temos que continuar tendo alegria, responsabilidade e determinação, porque as cobranças vão aumentar. Vamos ser cobrados pela posição atual. Mas sabemos que temos um objetivo, que é a classificação, e só vamos parar quando chegarmos a esse objetivo.”

Bonamigo fala com cátedra. Ano passado, comandando o Paraná, ele viu a equipe ficar entre os oito primeiros durante boa parte da competição, mas no final terminando na 14a posição. Por mais esse ponto ele pede calma para o elenco, que entende o recado. “Ele não descansa enquanto isso não acontecer”, diz o zagueiro Picolli. Característica de um treinador que mantém o elenco motivado, mas não foge dos seus conceitos.

“Eles começaram a acreditar, porque perceberam que eu não vou cometer injustiças. Vai jogar sempre o melhor, e para ser o melhor eles terão que mostrar dentro de campo. Nome não ajuda em nada. Eles sabem como eu penso porque, na conversa diária, eu aviso que todos têm que estar preparados, e vai jogar aquele que estiver melhor no momento. E eu procuro sempre usar um critério, que pode parecer injusto com algum atleta, principalmente em um grupo de 28 jogadores. O técnico também tem direito a errar, mas quando erra é porque ele está procurando o melhor para o Coritiba, o melhor para o esquema tático, o melhor para o elenco. E isso o grupo sente, e aí você percebe que eles estão aceitando as suas idéias.”

Ele provou que tem critério nesta semana, quando muitos pediam Jabá, que tornara-se o xodó da torcida e o jogador mais ?famoso? do Coritiba, depois da polêmica jogada contra o Santos. Aumentando a disputa sem alimentar inimizades, Bonamigo testou todos os atacantes entre os titulares, mas vinha com o pensamento pronto -Lima iria jogar. E porque Lima iria jogar? A resposta foi dada pelo atacante, que marcou dois gols contra a Portuguesa. E o treinador considera que ele só tem esse conhecimento do grupo graças aos dois meses de treinamento antes do Brasileiro.

“O planejamento desses dois meses foi fundamental. Nós fizemos um laboratório com esses jogadores jovens para saber quem poderíamos utilizar. Fomos até criticados por causa dessa atitude, porque estaríamos perdendo tempo com jogos inexpressivos. Agora se comprovou que, se não tivéssemos aqueles jogos, não iríamos descobrir um Lima, um Adriano, um Juninho. E também tivemos um trabalho de mentalização, um acompanhamento psicológico e os treinos propriamente ditos – hoje o time tem um rendimento físico excepcional, corre sem se esforçar. No plano tático, definimos uma forma de jogo com algumas variações, e que todos os jogadores conhecem.”

Mas mesmo os mais sérios treinadores precisam contar com a simpatia. E Bonamigo aprendeu isso com seus ?professores?. Ele sabe que técnicos como Ênio Andrade, Luiz Felipe Scolari e Rubens Minelli, tidos como ?rabugentos?, são aqueles que tinham mais controle do elenco – e usando como principal arma a camaradagem. “Talvez seja cedo para dizer, mas nunca trabalhei com um grupo como esse”, diz Picolli. O resultado foi a disputa de posições acabar reforçando ainda mais a unidade do elenco.

“O segredo do Coritiba é a amizade do elenco, e o comprometimento deles de saber ouvir a cobrança de um companheiro, falar com um companheiro de uma forma bem sincera.”

Segredos que vão levando o Coritiba a degraus elevados nesse Brasileiro. Que dão confiança a uma equipe que iniciou desacreditada a competição, e que agora tem maturidade para enfrentar os adversários dentro e fora de casa. “Nós não nos perdoamos pelo empate contra o Paysandu em Belém. Quando isso acontecia no Coritiba?”, pergunta Picolli. Segredos de um time cada vez mais à feição de Paulo Bonamigo – e que já pensa em saltos maiores. Afinal, ser o primeiro é bem diferente de ser o oitavo.

“Primeiro e oitavo são iguais apenas porque ambos se classificam. É difícil manter o nível que o Coritiba está mantendo, mas nós queremos continuar assim, só que sem aquela obsessão de ser o primeiro. Se vier, vem naturalmente.”

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