Os novos proprietários da Fórmula 1 querem adicionar ao Mundial da categoria a disputa de uma prova a mais nos Estados Unidos, em um circuito de rua, com o objetivo de aumentar no país a popularidade da elite do automobilismo, que nos últimos anos vinha enfrentando grandes quedas de audiência enquanto a F1 seguia sendo dirigida por Bernie Ecclestone.

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Na última segunda-feira, Ecclestone confirmou que foi demitido do posto de chefão máximo da Fórmula 1, posto que o britânico ocupou por quatro décadas. E nesta terça, Chase Carey, novo dirigente maior da categoria, não poupou críticas ao falar de seu antecessor, a quem chegou a qualificar como “um ditador por muito tempo” no modo de dirigir a F-1, em entrevista concedida à rede britânica BBC.

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“É um grande esporte, mas claro que pode ser melhorado. Até certo ponto necessitamos de um novo ponto de partida. O que trazemos é um novo olhar. Nós temos uma outra ambição, que é fazer um esporte fantástico para os fãs”, ressaltou Carey, que também é o CEO do grupo Liberty Media, empresa norte-americana que investe em entretenimento e esporte e adquiriu a F1 em um negócio de US$ 4,4 bilhões.

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Carey vai acumular as funções de CEO e presidente da Fórmula 1 e, embora tenha acabado de assumir a função de máximo chefe da elite do automobilismo, deixou a cautela de lado antes de analisar o longo trabalho do multimilionário britânico de 86 anos de idade. Para o dirigente norte-americano, ele comandava a F-1 com um estilo “autocrático”, segundo definiu em uma outra entrevista concedida nesta terça-feira, mas para a agência de notícias Associated Press.

Carey deixou claro que visará não apenas a obtenção de uma maior audiência na Fórmula 1, mas também mandou um recado aos organizadores das provas mais tradicionais do calendário, de que as mesmas precisarão também ser rentáveis para seguir no Mundial. Isso vale por exemplo para o GP da Inglaterra, que acontece fora de uma metrópole, em Silverstone, e que terá de assegurar que pode gerar mais lucros para posteriormente negociar novas cotas e seguir abrigando uma etapa do campeonato.

A Liberty Media, controlada pelo magnata John Malone, completou na última segunda-feira a aquisição da F-1 junto ao fundo de investimentos CVC Capital Partners. E conseguir um crescimento da categoria nos Estados Unidos é uma das prioridades da Liberty, que também é dona do time de beisebol Atlanta Braves, de grandes ligas do esporte e tem investimentos em companhias de TV a cabo.

Atualmente, a Fórmula 1 conta apenas com uma prova em solo norte-americano, em Austin, no Texas, mas agora o novo chefão da categoria e seus novos proprietários querem incluir uma segunda prova no país em algum grande centro. “Gostaria de acrescentar uma corrida nos Estados Unidos em algum lugar como Nova York, Los Angeles, Miami ou Las Vegas”, afirmou Carey na entrevista à Associated Press.

“Nos parece que podemos criar algo que seja um evento realmente especial. Obviamente os Estados Unidos têm todo o potencial para nós. Não temos investido o necessário para fomentar o mercado norte-americano”, completou, se referindo aos antigos administradores da categoria.

Para Carey, a Fórmula 1 ficou estagnada no passado, apesar das constantes mudanças de regulamentos e inovações tecnológicas nos últimos anos, com “eventos um pouco cansativos”, assim como ressaltou que Ecclestone não conseguiu acompanhar a evolução dos meios de comunicação, hoje altamente ampliada com o advento da internet. “Bernie tinha um estilo autocrático. Eu não sou assim”, sublinhou.

DA TV PARA A F-1 – Ainda que Ecclestone siga fazendo parte da F-1 como diretor honorário e como um assessor da categoria, o poder agora está nas mãos de Carey, um veterano executivo da FOX. E o executivo tentará trazer a sua larga experiência no canal de TV fechada para alavancar a audiência se utilizando de mais plataformas para alcançar diferentes públicos, não apenas os dos grandes aficionados pela categoria.

“Creio que o negócio (da F-1) não alcançou o seu potencial nos últimos seis anos”, afirmou. “Com tantas coisas que são necessárias para ser competitivo em um mundo online cada vez mais fragmentado, é preciso uma organização que faça muitas coisas ao mesmo tempo”, enfatizou o novo chefão máximo da F-1.

Entre outras coisas, Ecclestone foi criticado por ter ignorado a tradição de corridas de centros históricos do automobilismo para ceder espaços a mercados novos e mais ricos, como os de Adu Dhabi, do Bahrein e do Azerbaijão, este último um país que realizou a sua primeira prova no ano passado.

Embora tenha contado com Nico Rosberg se sagrando campeão no ano passado pela Mercedes e ter a tradição de um país que viu Michael Schumacher se tornar o piloto mais vencedor da história da Fórmula 1, com sete títulos, a Alemanha ficou fora do calendário deste ano da categoria por causa de problemas financeiros do circuito de Hockenheim, enquanto o tradicional GP da Inglaterra corre também o risco de ser excluído do próximo campeonato.

“A Europa Ocidental é importante para nós, e em certo sentido temos que nos envolver para que essas corridas sejam maiores e melhores, enquanto respeitamos a sua tradição”, enfatizou Carey, que ao mesmo tempo descartou reduzir as cotas financeiras exigidas pela organização para que essas corridas históricas sejam mantidas no calendário.

“Estamos dispostos a investir no esporte, mas somos novos e todos creem que é uma oportunidade para renegociar (as cotas). Acho que estão enganados. Achamos que estas corridas (em lugares como Alemanha e Inglaterra) devem ser maiores e gerar mais lucros, e estamos dispostos a trabalhar com os organizadores para ver como alcançar isso. Essa é a nossa meta”, ressaltou.

ENTRETENIMENTO COMO PRIORIDADE – A outra prioridade da Liberty Media é transformar cada fim de semana de corrida da Fórmula 1 em uma grande festa, na própria esteira do fato de que os Estados Unidos são reconhecidamente uma referência pela sua capacidade de fazer eventos esportivos se tornarem um entretenimento atrativo de forma geral para o público.

“O que eu gostaria de ter seriam 21 Super Bowls”, afirmou Carey, em referência ao número de corridas do atual calendário da Fórmula 1 e à grande final da NFL, a liga profissional de futebol americano, que é o evento esportivo anual de maior audiência no mundo. “A prioridade número 1 é que as corridas sejam maiores e melhores. Temos algumas provas fabulosas em Cingapura, no México e em Abu Dhabi, mas todas as corridas têm de ter essa energia e emoção, que as converta em eventos únicos”, completou.

Com a aquisição por parte da Liberty, a F-1 passou a ter um capital global de US$ 8 bilhões, fortuna com a qual os novos donos da categoria esperam viabilizar de forma viável uma série de mudanças para tornar a categoria mais emocionante. Entre elas estão a introdução de pneus mais largos nas rodas traseiras, para dar mais estabilidade aos carros nas curvas, a adoção de novo design para os monopostos, a utilização de motores mais barulhentos como os do passado glorioso da categoria e mais oportunidades de ultrapassagens durante as corridas.

Com iniciativas como essas, os novos chefes da Fórmula 1 espera ganhar de volta a audiência de torcedores hoje infelizes com a monotonia vista em muitas corridas nos últimos anos, fato que gerou o declínio gradativo de fãs e perda de espaço na mídia.