As camisetas são chamativas, o estilo de jogo é agressivo e os cabelos precisam ser contidos por uma faixa na altura da testa. Se o backhand de uma mão só e o perfil esguio do grego Stefanos Tsitsipas não forem suficientes para lembrar Gustavo Kuerten, o sorriso fácil e a simpatia com certeza vão tornar a comparação mais evidente. Nova sensação do circuito profissional, o tenista de apenas 20 anos já é considerado o “novo Guga”.
Tsitsipas despontou no circuito nesta temporada, principalmente após eliminar quatro rivais do Top 10 do ranking num mesmo torneio, o Masters 1000 de Toronto, neste mês. Foi apenas a segunda vez que um tenista obteve este feito desde 1990. Pelo caminho ficaram o sérvio Novak Djokovic e o sul-africano Kevin Anderson, campeão e vice de Wimbledon, respectivamente. A série de vitórias fez o grego saltar para o 15º lugar do ranking – há um ano era o 168º.
Ele não foi campeão do torneio canadense porque encontrou na final o experiente Rafael Nadal, atual número 1 do mundo. Mas foi o grande destaque da competição. E não apenas pelo estilo agressivo e preciso em quadra, de força no saque e agilidade no fundo de quadra. Ele conquistou o público também pela simpatia e simplicidade, nas entrevistas e brincadeiras com as arquibancadas. Longe da raquete, ele chama atenção como “youtuber”, com divertidos vídeos de viagens a cada parada no circuito.
O seu tipo físico também o aproxima de Guga. Tsitsipas (lê-se Tsitsipás) tem 1,93m de altura e pesa 85kg. O ex-tenista catarinense tem 1,91m e pesava 83kg no circuito. “A comparação é bacana porque ele é um garoto que transmite muita simpatia, se diverte dentro de quadra, tem interação com o público. Além da similaridade dos golpes, na parte técnica, principalmente com a esquerda com uma mão que no circuito, o que é bastante raro”, disse Guga ao Estado.
No circuito, o jovem grego vem conquistando também os colegas tenistas. “Ele é um menino super educado, bacana e bastante carismático”, diz Bruno Soares. “Você junta o estilo, o cabelão, a faixinha na cabeça, a esquerda de uma mão e o carisma. Obviamente lembra o Guga”, afirma o duplista, veterano do circuito.
Brasileiro e grego têm em comum também a origem em países com pouca tradição no tênis. Tsitsipas já se tornou o tenista da Grécia com o melhor ranking da história. Nascido em Atenas, ele começou a jogar aos três anos. No início, chegou a ficar dividido entre o tênis e o futebol. Mas a influência dos pais pesou.
Tsitsipas vem de uma família de atletas. Seu pai, Apostolos Tsitsipas, deixou de ser treinador de tênis num resort para estudar mais o esporte e se tornar técnico do filho. Sua mãe, Julia Apostoli-Salnikova liderou o ranking juvenil e era uma grande promessa do tênis da União Soviética. Além disso, o avô Sergei Salnikov foi campeão olímpico pela seleção de futebol do país nos Jogos Olímpicos de Melbourne-1956. Foi ainda jogador e técnico do Spartak Moscou.
O tenista é o mais velho de quatro filhos do casal, que costuma acompanhar de perto o atleta no circuito. Dentro de quadra, a influência do pai treinador é a maior, claro. Mas, nos bastidores, a mãe faz valer a disciplina que assimilou nos treinos da juventude nos tempos de União Soviética.
É à família que o jovem grego atribui seu tênis e sua postura dentro de quadra. “Sempre joguei com confiança. Acho que tudo se resume à confiança. E isso ajuda a explicar a pessoa que sou e o jeito como cresci”, explica o tenista, que diz refletir em quadra um susto que levou na adolescência. Num dia de folga, nadando no mar, não percebeu uma mudança repentina nas condições da água e quase se afogou. “Foi a primeira vez na vida em que percebi que poderia morrer”, lembra o atleta, salvo pelo pai no mar. “Depois disso, eu sinto ‘zero’ medo em quadra.”
Com a postura destemida dentro de quadra e a disciplina fora dela, o tenista vem surpreendendo os rivais em busca do seu primeiro título de nível ATP – neste ano foi vice também em Barcelona, em outra derrota para Nadal. “As coisas nunca ficam mais fáceis. É você que se torna melhor”, filosofa Tsitsipas, já alvo de elogios no circuito.
“Com essa idade, conseguir derrotar num torneio quatro Top 10 mostra que ele tem todas as condições de estar entre os melhores e se estabelecer por lá nos próximos anos”, afirma Guga, sem evitar as comparações. “Só não pode depender muito do cabelo, né? Neste quesito, ele vai ter que treinar bastante, como eu”, brinca o tricampeão de Roland Garros. “Tenho certeza de que ele tem potencial para chegar ao Top 10 do ranking e brigar por títulos importantes”, atesta Bruno Soares.