Novas suspeitas sobre a parceria do Corinthians

São Paulo (AG) – Nuvens pesadas pairam sobre a parceria da MSI com o Corinthians, formada no início deste ano, e seu principal articulador, o iraniano Kia Joorabchian. Depois de despertar a desconfiança de diretores e conselheiros do clube, e de diversos órgãos do governo (Banco Central e Polícia Federal, entre outros), a MSI e Kia agora estão sendo investigados e monitorados pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que teme que o futebol brasileiro esteja sendo usado para a lavagem de dinheiro.

A operação estaria sendo montada por milionários das ex-repúblicas soviéticas e é bem engenhosa, envolvendo pelo menos quatro países: Brasil, Argentina, Portugal e Inglaterra. E uma de suas principais pontas é justamente o Corinthians.

O esquema envolve a negociação de jogadores entre clubes da Argentina (como Boca Juniors), de Portugal e o clube paulista para a posterior venda para o Chelsea, de Londres. Só iriam para o clube inglês, comprado em 2003 pelo milionário russo Roman Abramovich, os mais valorizados.

Do atual time do Corinthians, o argentino Carlos Tevez (contratado ao Boca Juniors) e o brasileiro Carlos Alberto (que veio do Porto) são as maiores apostas da Media Sports Investments (MSI) para iniciar o esquema com o clube londrino.

O capital russo é evidente no Chelsea, mas nem tanto no Brasil, em Portugal e na Argentina. Por aqui, as relações da MSI e do iraniano Kia Joorabchian com investidores russos e da Geórgia (notadamente Bóris Berezoski e Badri Patarkatsisvili) vêm sendo investigadas por diversos órgãos do governo, mas Kia as nega com veemência.

Apesar disso, as evidências são muitas. Em agosto, Kia levou o presidente do Corinthians, Alberto Dualibi, para uma visita a Berezovski em Londres e, depois, a Patarkatsisvili, na Geórgia, antes da parceria MSI-Corinthians ser concretizada este ano.

? Eles têm dinheiro demais ? afirmou Dualibi a amigos na volta.

Em depoimento ao Ministério Público paulista, Dualibi confirmou a viagem e os encontros, mas negou que Berezovski e Patarkatsisvili estejam colocando dinheiro no clube.

? A presença deles no Corinthians é cada vez mais evidente ? disse Antônio Roque Citadini, conselheiro do Corinthians e um dos principais opositores da parceria.

? E nos mesmos moldes atuam em Portugal e na Argentina. Tem um fundo que investe no Porto, mas também ninguém sabe quem são esses investidores. Não é sem sentido que as contratações do Corinthians foram todas feitas na Argentina e em Portugal.

Autoridades temem que haja lavagem de dinheiro

São Paulo (AG) – Acusações e suspeitas de que os milhões de dólares investidos pela MSI no Corinthians tenham origem ilegal ? como tráfico de armas e drogas ? levaram a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) a se juntar ao Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo para investigar a origem do dinheiro que a empresa vem colocando no clube.

Também estão no circuito para desvendar o segredo guardado a sete chaves por Kia Joorabchian o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional (DRCI), da Secretaria Nacional de Justiça, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras do Ministério da Fazenda, o Banco Central, a Polícia Federal e a Receita Federal. Kia Joorabchian talvez seja o homem mais investigado do Brasil no momento.

Cada passo de Kia no Brasil estaria sendo monitorado, e o cerco promete apertar ainda mais. Na última sexta-feira, os promotores do Gaeco, José Reinaldo Guimarães Carneiro e Roberto Porto, foram a Brasília para uma reunião na sede da Abin, na qual discutiram estratégias de investigação e trocar as informações já colhidas até agora. O Gaeco colheu durante a semana depoimentos de Alberto Dualibi, presidente do Corinthians, e de Paulo Angioni, diretor de futebol da MSI.

Os promotores do Gaeco também estiveram com representantes da embaixada russa e do DRCI para avaliar o material levantado até agora.

? Estamos cruzando informações com instituições nacionais e internacionais. Eles (Kia e MSI) estão muito bem assessorados e estruturados ? diz José Reynaldo, promotor do Gaeco à frente do caso.

? Tudo parece ser feito para acobertar a identidade dos investidores ? afirma Roberto Porto, colega de José Reynaldo nas investigações.

? Pelo que vimos até agora, temos uma operação típica de lavagem de dinheiro, com uma empresa off-shore controlando outra empresa off-shore. Isso dificulta muito a identificação da origem do dinheiro.

O Ministério Público de São Paulo entrou na história após receber do deputado estadual e delegado de polícia Romeu Tuma Jr. documentos sigilosos da Abin em que o nome de Kia seria ligado aos milionários Boris Berezovski e Badri Patarkatsisvili. Os dois são acusados de diversos crimes na Rússia e vivem exilados ? Berezovski em Londres e Patarkatsisvili em Tbilisi, capital da Geórgia, seu país de origem.

A Abin acompanha os passos de Kia no Brasil desde meados de 2004, quando as notícias do interesse do iraniano em investir no futebol brasileiro começaram a chegar à imprensa. Depois, mais para o fim do ano, a agência recebeu um pedido oficial de Tuma Jr. para entrar no caso. Agentes da agência brasileira já fizeram, inclusive, contato com o serviço secreto russo, que apontou possíveis ligações de Kia com a máfia russa.

Oficialmente, a Abin não confirma nem desmente qualquer investigação sobre o caso. O delegado Mauro Marcelo Lins e Silva, diretor da Abin, diz que a função dela não é investigar pessoas mas fatos:

? Todo fato que gera repercussão nacional implica na atenção da Abin. Nossa função é antecipar a crise de Estado.

O serviço secreto brasileiro acompanha de perto as movimentações da MSI pelo Brasil por temer que esta seja uma das primeiras investidas da poderosa máfia russa no país.

? Estamos sob a real ameaça de vermos o futebol brasileiro transformado em um paraíso de lavagem de dinheiro ? afirma o promotor José Reynaldo, que espera ouvir Kia em depoimento nos próximos dias.

? Se ele não falar nada conosco, assume a condição de investigado.

Para Kia, dias piores virão.

Procurado pela reportagem, ele não quis dar entrevista.

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