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Nova geração de juvenis do Brasil quer surpreender no Aberto da Austrália

Eles são o futuro do Brasil no tênis. Thiago Wild, João Lucas Reis, Matheus Pucinelli e Igor Gimenez caminham a passos largos para entrarem de vez no circuito profissional. A meta é superar um dos maiores gargalos do tênis brasileiro: a delicada transição para o mundo da ATP, a Associação dos Tenistas Profissionais. E o primeiro grande teste será neste Aberto da Austrália, que começará na noite deste domingo (pelo horário de Brasília, manhã de segunda-feira local).

O quarteto, que está no Top 50 do ranking juvenil e somou os seus primeiros pontos na ATP no final da temporada passada, quer surpreender na quadra dura de Melbourne. Ao mesmo tempo, tenta manter as ambições mais modestas neste momento. Por enquanto, o discurso é de aprendizado. Os sonhos mais altos vão vir no futuro, quando entrarão de cabeça no mundo profissional.

Mesmo Thiago Wild, o número 9 do mundo no juvenil, evita o favoritismo. “Acho que tenho boas chances, mas dizer que sou um dos favoritos é um pouco demais”, afirmou o tenista que completará 18 anos em março. “Tenho jogado melhor na quadra rápida. Minha confiança está alta não só no piso duro, mas no tênis como um todo”.

Natural de Marechal Cândido Rondon (PR), Thiago Wild é o juvenil mais promissor no momento. Foi até as quartas de final em Roland Garros no ano passado e exibe boa forma técnica na transição para o profissional na Tennis Route, academia do Rio de Janeiro onde também atuam Beatriz Haddad Maia e Thiago Monteiro.

Em Melbourne, será a sua estreia no Aberto da Austrália, assim como será para João Lucas Reis, Matheus Pucinelli e Igor Gimenez. O trio treina junto em Barueri (SP) no Instituto Tênis, fundada pelo bilionário Jorge Paulo Lemann, ex-tenista que já defendeu o Brasil na Copa Davis.

“Espero jogar o meu melhor tênis no Aberto da Austrália. Estou com boa expectativa”, disse João Lucas Reis, de 17 anos. Já em vias de se aventurar mais no mundo profissional, o tenista do Recife se mostra ciente dos desafios que terá pela frente. “Acho que a maior dificuldade dos juvenis no Brasil é a pressão por resultados imediatos, seja pelos pais ou por si mesmo. Colocar o resultado em primeiro lugar tão cedo pode atrapalhar muito a formação do atleta”, avaliou o adolescente, 30.º do ranking juvenil.

Igor Gimenez, seu parceiro de treino, também já superou os primeiros obstáculos para alcançar o sonho de se tornar profissional. “Tive bastante dificuldade antes de chegar neste nível de competir em Grand Slam. Foram muitos momentos ruins, eu até pensei em parar de jogar. O mais difícil foi aguentar a parte mental. Mas hoje estou confiante”, garantiu o tenista de São Bernardo do Campo (SP), 46.º do ranking, e que fará 18 anos em fevereiro.

Mais novo do trio que treina junto em Barueri, Matheus Pucinelli também projeta mais aprendizado do que resultados em Melbourne. Mas não esconde os planos para o futuro. “Quero terminar este ano entre os 800 melhores do ranking da ATP. E a partir do meio do ano devemos mesclar mais os torneios juvenis com os profissionais”, disse o tenista de 16 anos, natural de Campinas, atual 31.º do ranking.

Ao mesmo tempo em que projetam o futuro no circuito da ATP, os jovens tenistas mantêm a preocupação com os estudos. Thiago Wild, João Lucas Reis e Igor Gimenez acabaram de terminar o Ensino Médio e já pensam na faculdade. Os dois últimos já decidiram cursar Administração à distância. O primeiro quer entrar em uma universidade americana, também à distância. Matheus Pucinelli, o caçula do grupo, ainda tem mais um ano de Ensino Médio pela frente.

PREOCUPAÇÃO – O Brasil tem tradição em revelar bons tenistas juvenis, mas nas últimas décadas têm tido pouco sucesso na transformação destes tenistas em profissionais. O caso que mais chamou a atenção foi o de Tiago Fernandes. Foi o último brasileiro juvenil a ganhar um Grand Slam em chave de simples, ao vencer justamente o Aberto da Austrália, em 2010, quando também foi o número 1 do mundo. Mas, sem resultados expressivos no profissional, decidiu se aposentar das quadras em 2014, aos 21 anos.

O precoce final de carreira acendeu o alerta no tênis brasileiro, o que vem inspirando maior atenção aos atletas que pretendem virar profissionais. “Não consigo fazer comparações com as gerações anteriores, mas posso dizer que esta geração está entrando no profissional bem preparada”, garantiu Alan Bachiega Marques, técnico que acompanha o trio do Instituto Tênis na Austrália.

“Hoje temos mais tecnologia, maior acesso a informações. Como treinadores, podemos nos capacitar melhor”, avaliou o treinador. “E os juvenis já contam com uma rotina de profissional desde os 12, 13 anos de idade. Junto com a exigência de manter os estudos, isso tudo facilita o amadurecimento deles”.

Se o maior cuidado com a transição vai gerar melhores resultados para o futuro do tênis brasileiro, os fãs da modalidade ainda terão que esperar por alguns anos. Mas, neste Aberto da Austrália, é inegável o contraste nas últimas temporadas. O país ficou sem representantes no juvenil em 2017 e 2016. Neste ano, por outro lado, terá a segunda maior participação, com quatro tenistas, abaixo apenas dos Estados Unidos, com cinco.

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