No aniversário de 61 anos do Maracanazo, o Uruguai voltou a fazer história. Neste sábado, segurou um empate em 1 a 1 com a Argentina durante os 90 minutos do tempo regulamentar, mais 30 de prorrogação, venceu nos pênaltis por 5 a 4 e eliminou o maior rival da Copa América. No estádio conhecido como Cemitério dos Elefantes, a gigante Argentina enterra o sonho do título em casa. Tevez, jogador mais amado pela torcida local, foi quem perdeu o pênalti que definiu o jogo.
O jogo teve de tudo: duas bolas na trave, duas expulsões, dois gols anulados (sempre um de cada lado) e nove amarelos. O Uruguai segurou a Argentina com um jogador a menos por 48 minutos após o vermelho para Pérez, ainda na primeira etapa, e só voltou a ter igualdade numérica em campo quando Mascherano também recebeu o segundo amarelo. A partida, porém, poderia ter sido decidida aos 44 minutos do segundo tempo, mas Muslera fez duas defesas fantásticas em sequência e levou o jogo à prorrogação. Depois, o goleiro da Lazio, herói da noite, garantiu a vitória com a defesa do pênalti batido por Tevez. Fez, segundo ele próprio, o maior jogo de sua vida.
Messi, que viu a torcida levar uma faixa pedindo desculpas pelas vaias no jogo contra a Colômbia, fez um bom primeiro tempo, com a assistência para o gol de Higuaín, mas caiu demais de produção depois do intervalo, só voltando a brilhar no segundo tempo da prorrogação. A quatro minutos do fim, teve a chance de decidir a partida, mas González salvou.
Na semifinal, o Uruguai vai enfrentar o Peru, que, mais cedo, venceu a Colômbia por 2 a 0 na prorrogação. A partida acontece na terça-feira, em La Plata, às 21h45.
O JOGO – Sem poder contar com Coates, suspenso pelo segundo amarelo, o cruzeirense Victorino entrou no time uruguaio para fazer dupla de zaga com Lugano. Pelo lado argentino, Sergio Batista manteve o time que venceu bem a Costa Rica, com as quatro substituições em relação à equipe da estreia.
O Uruguai não se assustou com a pressão da torcida argentina, que lotou o estádio Brigadier General Estanislao López, também conhecido como “Cemitério de Elefantes”. Logo com 4 minutos, abriu o placar. Forlán cruzou na área pela esquerda, Cáceres cabeceou no segundo pau, Romero defendeu e Diego Pérez marcou no rebote.
Com todas as jogadas argentinas passando pelos pés de Messi, uma hora o gol dos anfitriões sairia. E ele veio aos 17 minutos. O Uruguai perdeu a bola no ataque e ela logo chegou a Messi, pela direita. O jogador do Barcelona viu Higuaín se movimentando na área e deu um cruzamento perfeito para o centroavante, que apareceu sozinho na marca do pênalti e cabeceou para empatar o jogo.
A combinação se repetiu aos 30. Messi cobrou falta pela direita e voltou a colocar a bola na cabeça de Higuaín, que novamente balançou as redes. Desta vez, porém, o atacante estava impedido e o gol foi corretamente anulado pelo árbitro paraguaio Carlos Amarilla.
Se a Argentina tinha Messi, o Uruguai contava com Forlán. Aos 34, o melhor jogador da última Copa do Mundo cobrou falta pela esquerda, Cáceres cabeceou e mandou no travessão. No rebote, Lugano marcou, mas o lance já estava parado por impedimento, mais uma vez bem anotado por Amarilla.
O equilíbrio foi desfeito aos 38 minutos. Pérez, que já havia feito uma falta violenta antes de marcar o gol e poderia ter sido expulso ali mesmo, levou o segundo amarelo ao matar um contra-ataque ainda na entrada da área argentina. Acabou expulso, deixando o Uruguai com um jogador a menos. Antes, o time já havia perdido Victorino, por uma lesão na coxa esquerda. Scotti entrou no seu lugar. Mesmo em desvantagem, o Uruguai quase marcou aos 44 minutos. Forlán levantou uma bola na área pela direita, Lugano cabeceou e carimbou o travessão de Romero.
Se o primeiro tempo foi muito movimentado, o ritmo caiu no início da segunda etapa. Com um a menos, o Uruguai se fechou na defesa, sonhando com um contra-ataque arrasador. A Argentina, sentindo a ausência de um armador para fazer companhia a Messi – a torcida pedia por Pastore -, não criava chances de gol e já incomodava a torcida com 20 minutos de segundo tempo.
Batista só atendeu o pedido da torcida aos 26 minutos, colocando Pastore no lugar de Di Maria. A Argentina logo melhorou. Aos 32, Messi tocou para Agüero, que dominou girando sobre Lugano e bateu para a defesa de Muslera no reflexo. Esta foi a única boa jogada do barcelonista em todo o segundo tempo. O Uruguai respondeu em seguida. Forlán recebeu de Suárez na área, bateu na saída do goleiro, mas Romero salvou a Argentina.
Além da consistência tática e da garra, o Uruguai tinha seus talentos individuais. Aos 40, Forlán bateu escanteio da esquerda e Lugano cabeceou com perigo, por cima do gol. Um minuto depois, Mascherano fez uma falta por trás em Suárez, na lateral direita, quase sobre à linha do meio campo, levou o segundo amarelo e foi expulso. Sem o ex-corintiano, Messi virou o capitão argentino.
Aos 44, um lance incrível. Tevez bateu falta de longe, a bola desviou na barreira e quase enganou Muslera, que defendeu com o pé. No rebote, Higuaín chutou a queima-roupa, mas o uruguaio saiu em xis, como goleiro de handebol, e fez uma defesa para entrar na história. Nos acréscimos, Suárez deu um drible de futsal em Millito, quase sobre a linha de fundo e cruzou para Forlán, que cabeceou por cima.
Na prorrogação, parecia que a Argentina, ao perder Mascherano, ficara com um jogador a menos. O Uruguai ganhou campo de jogo e quase fez o segundo numa pancada de Álvaro Pereira. A bola, porém, subiu demais e passou tirando tinta do travessão. A Argentina ficou perto de marcar aos 13 minutos, quando Higuaín recebeu pela esquerda da área, bateu rasteiro e acertou o pé da trave de Muslera.
A Argentina foi melhor na segunda etapa, muito por conta do crescimento do futebol de Messi. O Uruguai voltou a se preocupar com marcar e esperar um contra-ataque. Num lance emblemático, aos 11, Messi recebeu na área, limpou a jogada, bateu para o gol, mas González salvou no carrinho. O jogador do Barcelona se jogou no gramado, com a cara enfiada na grama, e ficou ali por alguns segundos, lamentando sua infelicidade. O jogo realmente seria decidido nos pênaltis.
Os dois craques começaram batendo. Messi e Forlán deslocaram os goleiros e converteram as batidas. Muslera e Romero acertaram o canto, mas não pegaram as batida de Burdisso e Suárez. Tevez bateu com força, à meia altura, e facilitou a defesa de Muslera, errando a primeira penalidade para a Argentina. O goleiro uruguaio também quase pegou a batida de Pastore, mas não conseguiu segurar a bola, que passou por baixo dele. Scotti e Gargano colocaram o Uruguai na frente.
O Uruguai poderia fechar o jogo na cobrança de Higuaín. A bola bateu no travessão, na linha, no travessão, e entrou. A vitória veio em batida perfeita de Cáceres.
FICHA TÉCNICA:
Argentina 1 (4) x 1 (5) Uruguai
Argentina – Romero; Zabaleta, Burdisso, Gabriel Millito e Zanetti; Mascherano, Gago (Biglia) e Di Maria (Pastore); Messi, Agüero (Tevez) e Higuaín. Técnico – Sergio Batista.
Uruguai – Muslera; Maxi Pereira, Lugano, Victorino (Scotti) e Cáceres. Diego Pérez, González, Arévalo Ríos e Álvaro Pereira (Gargano). Forlán e Suaréz. Técnico – Oscar Tabárez.
Gols – Diego Pérez, aos 5, e Higuaín, aos 17 minutos do primeiro tempo.
Árbitro – Carlos Amarilla (Paraguai).
Cartões amarelos – Tevez, Gago, Burdisso, Gabriel Millito, Mascherano, Zabaleta, González, Cáceres e Diego Pérez.
Cartões vermelhos – Diego Pérez e Mascherano.
Renda e público – Não disponíveis.
Local – Estádio Brigadier General Estanislao López, em Santa Fé (Argentina).