O Atlético não ia disputar o Campeonato Brasileiro de 1985 e estava liberando jogadores para disputar por outros clubes, por falta de calendário. “Eu estava em casa e o Hélio Alves, o Bruxo, que agora estava no Coritiba me ligou. Minha mulher atendeu. Ele perguntou se eu queria ir para o Coxa. Eu disse que não ia dar certo porque eles tinham quatro goleiros: Jairo, Toinho, Gerson e o Bacon. Eu perguntei o que eu ia fazer lá no Alto da Glória”, conta Rafael. Mas Hélio Alves respondeu: “Eu quero você aqui. E não sou só eu. O Chinês (Evangelino Costa Neves) também quer você aqui. Ele disse para eu conversar com o Valmor Zimmermann, que era presidente do Atlético, dono do meu passe. Que era para dizer para ele que o Coxa me queria”, conta Rafael.
O goleiro foi lá e relatou a conversa que teve e o dirigente atleticano disse que para o Coritiba não tinha empréstimo. “Se eles quiserem que paguem. Eu só vendo”, disse Zimmermann. O dirigente rubro-negro fixou o passe em 6 milhões. “Veja bem! Seis milhões!! O Leão que estava no Corinthians foi vendido por 4 milhões”, conta Rafael. Numa sexta-feira, Rafael estava treinando quando Hélio Alves ligou: “Maluco, vamos te buscar. Pouco tempo depois um Galaxy Branco com estofamento vermelho estacionou na frente da Baixada. O Bocão (Nilson Borges) que viu aquilo e me disse: o Hélio Alves e o Evangelino estão aí”, conta o goleiro. Os dirigentes conversaram. Terminou o treino, Rafael tomou banho e foi chamado na sala do presidente do Atlético. “Eu abri a porta e o Valmor me disse: você está vendido! Você é jogador do Coritiba. Aí, quem chegou foi o João de Oliveira Franco. Ele ficou doido com o negócio. Ele não queria me vender. Mas quando soube, já era tarde”, conta Rafael.
Então começou uma troca de provocações entre os diretores. “O Valmor disse: este aí vai ter o mesmo fim de outros que foram para o outro lado. Vai acabar voltando para cá”, conta Rafael. “Eu ouvi aquilo e disse: estou indo para o Coritiba para ser campeão brasileiro. E provoquei o João de Oliveira Franco. Se eu for campeão brasileiro pelo Coritiba, você me dá um Diplomata preto de quatro portas igual ao que você tem e ainda reforma o Chevrolet 51 quatro portas do meu pai?”, disse ele. O diretor do Atlético riu e respondeu: “Eu vou aceitar a tua aposta porque você não vai ser campeão mesmo”. Rafael foi contratado pelo Coritiba no dia 17 de janeiro de 1985. Quando ele se apresentou, já chegou dizendo: “Eu vim aqui para ser campeão brasileiro”.
O goleiro ficou fora apenas três jogos na competição. A terceira foi no primeiro confronto contra o Atlético-MG pela semifinal, por receber o terceiro cartão amarelo. No entanto, na volta em Belo Horizonte, Rafael fez defesas espetaculares e contribuiu decisivamente para o time alviverde ir para a final contra o Bangu. Quando Gomes converteu a última cobrança de pênalti no Maracanã na noite de 31 de julho de 1985 e garantiu o titulo brasileiro para o Coritiba, Rafael se lembrou de uma velha mágoa e saiu gritando que nem um louco: “Rafael é campeão do Brasil. Cadê a Democracia Corintiana?”.
E não se esqueceu da aposta feita sete meses antes com João de Oliveira Franco. Na madrugada do dia 1 de agosto de 1985, ligou para o dirigente atleticano: “Eu fui campeão brasileiro. E como é que fica o meu Diplomata? Eu quero o meu Opalão”. No outro lado da linha o dirigente rubro-negro não roeu a corda. “Ele disse que trato era trato. Que o Diplomata era meu e que o Chevrolet de meu pai seria reformado”, conta Rafael. Aquele foi o melhor ano da carreira de Rafael. Além de campeão brasileiro, ele foi considerado o melhor de sua posição na temporada e abiscoitou a Bola de Prata, concedido pela revista Placar.