‘Ninguém acreditava no título, só nós’, diz Jayme no Fla

Se algum desavisado entrasse na sala de coletiva do Maracanã no início da madrugada desta quinta-feira e olhasse a expressão de Jayme de Almeida e ouvisse seu tom de voz, certamente suporia que algo de ruim havia acontecido àquele homem. Semblante, sério. Sorrisos, poucos. Palavras, apenas as necessárias. O técnico do Flamengo é assim, homem introvertido, avesso à autopromoção, de declarações curtas e ásperas. Antipático até. E não seria a conquista da Copa do Brasil que o faria mudar.

Havia alguns minutos, Jayme se tornara campeão nacional pelo clube mais popular do País. Depois de assumir um time sem rumo, com um técnico sem prestígio. Da mesma forma como iniciou o trabalho há apenas dois meses, Jayme o encerrou. Discreto, humilde, sem efusividade.

“Estamos em paz. O que fizemos nessa Copa do Brasil… Ninguém acreditava. Só nós acreditamos”, disse o treinador flamenguista, repetindo um discurso proferido a cada obstáculo superado na competição. “Vou guardar esse título no fundo do coração, porque sempre fomos desacreditados. Quando perceberam que esse time era forte, já estávamos na final.”

Jayme tem grande parcela no tricampeonato obtido nesta noite de quarta-feira, após vitória por 2 a 0 sobre o Atlético-PR, mas evitou todas as brechas dadas a ele para exaltar seu comando tranquilo e sua capacidade técnica. Sempre que uma pergunta lhe dava a abertura para o autoelogio ou para se expor emocionalmente, ele não a tomava.

“Não é demagogia porque já fui jogador. Quem decide são eles. Deixa os jogadores fazerem a festa, erguer a taça, dar a volta olímpica. Até porque eles são jovens. Eu não aguento isso mais”, brincou, num dos raros momentos de descontração.

O auxiliar de carreira no clube, efetivado numa emergência, também se mostrou elegante ao evitar críticas aos técnicos que o antecederam. Era hora de celebrar um feito, não de alimentar rancores. Mesmo assim, se deu o direito de fazer uma ressalva a Mano, que abandonou o time justamente após uma derrota para o Atlético-PR no Maracanã, alegando que os jogadores não compreendiam o que ele entendia por futebol.

“Tem uma coisa muito importante que é a confiança. Sem ela não se faz nada. Com todo o respeito ao Mano, ao dizer isso (que o time não conseguia jogar), ele abalou muito a equipe. Fiz como técnico o que fazia como auxiliar. Sempre procurei uma palavra de confiança, de incentivo”, destacou.

A diretoria já disse que Jayme será o comandante na próxima temporada. Nada de buscar um medalhão em virtude da disputa da Copa Libertadores. Ele deverá ter o respaldo de um time mais forte, ou essa é a promessa. O técnico rubro-negro falou o tempo todo, nesta quarta, como o homem que irá conduzir o clube em tal empreitada, mas evitou garantir sua permanência de forma incisiva.

“Vamos sentar e discutir (salário, contrato). Sou funcionário do Flamengo e no futuro não sei o que vai acontecer. O que sei é que o trabalho que me deram para fazer, eu cumpri”, frisou.

De fato, Jayme fez muito mais do que dele foi pedido ao assumir o comando de um time à beira de um desastre. Sua missão era evitar o rebaixamento no Campeonato Brasileiro. Acabou levando para a Gávea mais um troféu de campeão.

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