Era 25 de março passado quando Ministério do Esporte, Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos e Comitê Olímpico do Brasil (COB) se reuniram para discutir a concessão de Bolsa Pódio ao dueto brasileiro do nado sincronizado. Consultado, o COB afirmou que as atletas não têm chance de medalha em 2016 e recomendou que se aguardasse o resultado do Campeonato Mundial, realizado em agosto. O governo, entretanto, acatou a opinião contrária, da CBDA. Uma das beneficiadas é Luisa Nunes Porto Borges, neta do presidente da entidade, Coaracy Nunes.

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A Bolsa Pódio, de até R$ 15 mil, é oferecida ao governo federal aos atletas de provas não-coletivas que tenham chances reais de medalha nos Jogos Olímpicos de 2016. O gatilho para o caso ser considerado é que os atletas em questão estejam entre os 20 primeiros do ranking mundial ou tenham obtido classificação equivalente no Campeonato Mundial anterior. A partir daí, uma comissão formada por Ministério do Esporte, confederação, patrocinador estatal (no caso, os Correios) e o COB avalia, a partir de critérios técnicos, se a medalha é mesmo possível.

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No caso de Luisa Borges (ela não usa o sobrenome do avô no meio esportivo) e Duda Minucci, o resultado obtido para a concessão da Bolsa foi o sétimo lugar na Copa do Mundo do ano passado. A competição, entretanto, não tem caráter de Mundial. A Rússia, campeã mundial seguidamente desde 2001, por exemplo, não participou. Tal informação não consta na ata da reunião.

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“A CBDA acredita que o dueto tem chance de disputar medalhas nos Jogos Olímpicos 2016, desde que atinjam as metas estabelecidas para conquistar medalhas”, diz a ata, disponibilizada pela reportagem via Lei de Acesso à Informação.

Em seguida, o COB argumentou: “O COB sugere que o dueto aguarde o Mundial de Kazan (Rússia) e, ainda, acredita que as atletas não têm chance de medalha nos Jogos Olímpicos 2016”. Valeu a tréplica da CBDA, que afirmou “acreditar na evolução técnica das atletas”.

Em julho, o dueto participou dos Jogos Pan-Americanos e, pela primeira em 20 anos, deixou o Brasil fora do pódio. Depois, no Mundial, ficou em 14.º na rotina técnica em 12.º na rotina livre – na Olimpíada, tais resultados são somados.

No nado sincronizado, entretanto, as classificações se repetem, com pouquíssima variação, competição após competição. O escalonamento é muito claro. Desde o Mundial de 2009 os seis primeiros colocados são os mesmos. Nesse período, a Rússia ganhou quatro ouros, a China três pratas, a Espanha dois bronzes. Nos Jogos Olímpicos, o Brasil foi 12.º em Sydney, 12.º em Atenas, 13.º em Pequim e 13.º em Londres. O degrau entre os dois estágios é enorme.

A real meta do dueto para 2016 é chegar à final, entre as 12 primeiras, como evidenciou Duda Minucci ao fim do Mundial. “O Mundial é a competição que mais se assemelha aos Jogos Olímpicos para o dueto, e encaramos como um treinamento bem pesado para a Olimpíada. Chegar a final nos motiva ainda mais para buscar uma final.” Ela e a neta de Coaracy, entretanto, serão financiadas pelo governo como potenciais medalhistas.

OUTRO LADO – Questionada sobre os motivos que levavam ao entendimento de que o dueto tem chance de medalha no Rio-2016, a CBDA afirmou apenas que “indicou o dueto porque está dentro do que o edital (do Bolsa Pódio) determina”. Já o Ministério do Esporte, quando perguntando se acredita que o dueto tem chance de medalhas, respondeu que “avalia o apoio aos atletas de maneira ampla, com foco no desenvolvimento da modalidade, na equidade entre gêneros e na busca de medalhas.”

Quando o edital que contemplou as atletas do nado sincronizado foi aberto, o Ministério do Esporte escreveu à imprensa: “Estar entre os 20 primeiros do mundo em rankings internacionais é apenas o primeiro dos critérios. Outros aspectos de performance e chances de medalha, de acordo com peculiaridades de cada modalidade, são discutidos a cada caso de indicação”.