Nem ciranda de técnicos salvou o Coxa

Nos últimos anos, o Coritiba se firmou como uma das equipes que melhores condições de trabalho dava para jogadores e técnicos. De 2000 até o início de 2005, apenas sete treinadores passaram pelo Alto da Glória: Jair Pereira, Ivo Wortmann (duas vezes), o interino Paquito, Ricardo Gomes, Joel Santana, Paulo Bonamigo e Antônio Lopes.

De uma hora para outra, entretanto, o clube mudou a filosofia, premido pelos resultados -ou pela falta deles. Esta temporada marcou o recorde de técnicos em um único ano. Foram cinco: Lopes, Cuca, os interinos Antônio Lopes Júnior e Cláudio Marques e, finalmente, Márcio Araújo. Nenhum deles conseguiu dar padrão de jogo ao Coxa, e eles também não conseguiram evitar o rebaixamento da equipe.

Lopes encerrou em maio uma passagem de 17 meses no Alto da Glória. Se em 2004 ele conquistou o título estaddual, nesta temporada ele era alvo de uma ?campanha? de boa parte da torcida alviverde, que queria ele longe do clube desde o ano anterior. A derrota para o Treze, na Copa do Brasil, acabou sendo o último ato do Delegado no clube – ele foi demitido, numa situação que desagradou o presidente Giovani Gionédis, que sempre manifestou a sua admiração pelo técnico. Depois do Coxa, Lopes acabou vice-campeão da Libertadores pelo Atlético e campeão brasileiro com o Corinthians.

Em seu lugar entrou Cuca, que era o nome mais pedido pela torcida. E ele começou bem, mas a derrota no Atletiba para um rival atuando com reservas foi decisiva. Tentando encontrar opções, Cuca usou quase todos os atletas do elenco – e, para alguns dirigentes, ?queimou? vários deles, como Tiago e Alcimar. Este, por sinal, manifestou mágoa com o treinador, que o sacou da equipe. Cuca foi demitido após a derrota para o Paysandu, em Belém, no dia do aniversário do Coritiba.

Para substituí-lo, a diretoria não contratou ninguém e apostou no auxiliar Antônio Lopes Júnior. A primeira ação do ?Delegadinho? no comando coxa foi o afastamento de Renaldo, por pretensos problemas físicos. A forma como a barração foi feita acabou ?rachando? o elenco, e a queda técnica foi inevitável. Três jogos, três derrotas. E Lopes Jr. acabou saindo, dando lugar a Cláudio Marques, que comandou a equipe contra o Inter.

Márcio Araújo então foi chamado para tentar salvar o Coxa – ainda fora da zona de rebaixamento. Com seu estilo professoral e motivador, o técnico recuperou alguns jogadores e melhorou o rendimento dentro de campo. Teve melhor aproveitamento que seus antecessores, mas insuficiente para tirar a equipe da degola. Apesar disto, ele renovou contrato para a temporada 2006, e agora tentar entrar na história do clube pela segunda vez – na primeira, foi pela porta dos fundos, caindo para a Série B. Agora, o desafio é voltar pela porta de frente, subindo para a 1.ª divisão.

Transferências deixaram time órfão de talentos

Uns com tanto, outros com tão pouco. A frase célebre pode servir para resumir a escassez de talentos do Coritiba em 2005. Até a metade do ano, o time ainda tinha bons valores, mas quase todos foram negociados com o exterior. Sobraram poucos – no final das contas, apenas um, Caio, destaque da equipe na temporada. Mas faltou companhia para que ele brilhasse mais, e para que fizesse mais, até tirando o Coxa do rebaixamento.

Num exercício de imaginação, o Coritiba ?dos sonhos? de 2005 teria Fernando; Rafinha, Miranda, Anderson e Adriano; Reginaldo Nascimento, Roberto Brum, Marquinhos e Caio; Alexandre e Renaldo. O problema é que este time nunca jogou junto. Destes 11, cinco encerraram o ano vestindo a camisa coxa – isto se contarmos com Marquinhos, que desde outubro está se recuperando de uma cirurgia no joelho. E somente dois, Anderson e Renaldo, têm contrato para o ano que vem.

Os outros foram embora. Adriano seguiu para o Sevilla e hoje é um dos principais jogadores do Campeonato Espanhol. Na mesma época Roberto Brum foi para a Acadêmica de Coimbra, liderando a recuperação da equipe no Português (inclusive fugindo da degola). No início do Brasileiro, Fernando foi negociado com o União Leiria, onde já é titular. Pouco tempo depois Miranda transferiu-se para o Sochaux, para ser companheiro de Ilan. Fechando o grupo de jogadores que saíram, Alexandre, então destaque ofensivo, foi negociado pelo Iraty – dono dos direitos federativos – para o futebol dos Emirados Árabes.

Caio virou o lutador solitário do Coxa. Os que poderiam ajudá-lo não conseguiram: Marquinhos sofreu com as lesões, Ricardinho com a inconstância e Renaldo com a má fase. Via-se, em algumas partidas, que o pequenino armador não sabia o que fazer para tentar salvar o Coritiba. Ele até tentou, tanto que conseguiu – mesmo com o time rebaixado, Caio foi um dos melhores jogadores do Brasileiro. Só que apenas um craque não conseguiu mudar a história alviverde no ano.

Peruíbe supera marasmo e vira promessa

Depois de uma série de revelações sofrerem com o péssimo momento do Coritiba no ano, um jogador conseguiu se firmar na equipe e virou a grande esperança do clube para 2006. O volante Peruíbe não fugiu da pressão e da responsabilidade que assumiu ao se tornar titular, e hoje o torcedor não vê o Coxa em campo sem o camisa 8 – um dos ?intocáveis? da próxima temporada.

Douglas Peruíbe começou cedo no Coritiba, e foi um dos atletas que recebeu a chance de atuar em outras equipes para ganhar experiência. Emprestado para o Rio Branco de Paranaguá, destacou-se exatamente em um confronto com o Coxa, quando os dirigentes resolveram chamá-lo de volta para o clube. Por conta do excesso de volantes, Antônio Lopes não o utilizou, e o jogador voltou para os júniores.

O primeiro técnico a apostar em Peruíbe foi Cuca, que o colocou em partidas complicadas, como contra o Santos, na Vila Belmiro – e o volante se salvou do marasmo do time, que foi criticado publicamente pelo treinador e pelos dirigentes. Passaram mais três técnicos no Coxa, e todos mantiveram Peruíbe como titular. Márcio Araújo até pensou em escalar Reginaldo Nascimento e Luís Carlos Capixaba como volantes, mas depois efetivou o jovem de 20 anos na equipe.

Para 2006, Peruíbe deve ganhar outros companheiros experientes, que dividam a responsabilidade que em algumas partidas do Brasileiro era só dele e de Caio. E mesmo com as diversas contratações para o meio-campo (os que vieram e os que virão), o volante não precisa provar mais nada para ser confirmado como titular do Coritiba. E 2006 pode ser o ano da confirmação de mais uma revelação coxa.

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