Mais do que um jornalista, Nelson Comel era um apaixonado pelo esporte. Antes de iniciar a carreira, ele foi atleta de basquete e de vôlei, chegando à seleção paranaense. Depois, transformou a paixão em trabalho e conduziu durante mais de cinquenta anos a cobertura do futebol amador do Estado na Tribuna.
A dedicação e vontade mostrada ao longo da carreira serviu como exemplo para muitos. Segundo o jornalista Gil Rocha, Nelson Comel foi uma referência para os jornalistas. “Eu era fã e leitor desde que eu morava no interior e depois tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente. Eu sempe tive admiração pelo trabalho dele, como ele cobria o esporte. Ele foi um ícone, era uma referência de que se pode escolher caminhos diferentes”, declarou Rocha.
Fora da profissão, Comel também era só elogios. Gostava de resmungar e reclamar. Às vezes, até demais. Mesmo assim, o jeito briguento cativava quem estava ao seu redor. “Ele era turrão, brigão, mal criado, mas sempre para o lado do bem. Adorava o jornal que trabalhava e era amigo dos amigos. Todo mundo dizia que ele era um velho chato, mas todo mundo gostava dele”, destacou o ex-diretor da Tribuna, Osvaldo Tavares de Mello, o Vadico.
“Era amigo dos amigos, um filho maravilhoso, um pai perfeito. Viveu para a família, nunca queria nada para ele, tudo para os filhos e para a esposa. O amor que ele tinha pela Tribuna, pelos colegas e pela profissão era enorme. A vida dele era a família e o trabalho e o que ele fez ninguém vai fazer”, afirmou a jornalista Cecília Comel, filha de Nelson.
Para o ex-governador Paulo Pimentel, a perda é imensurável para todos, mas o nome de Nelson Comel está marcado para sempre. “Perde o Paraná, perde o esporte, perde o jornalismo. Foi um dos mais dedicados e eficazes jornalistas da história da Tribuna. Ele inventou o Peladão e foi graças ao esforço dele é que deu certo. Formou uma escola de aprendizes de futebol. A história está retratada nas páginas da Tribuna“, disse ele.
“Ele com certeza deixou um legado. A nova geração que vem por aí com certeza vai saber quem foi Nelson Comel”, acrescentou Gil Rocha.
Peladão
Empreendedor, Nelson Comel foi um visionário ao criar o Peladão. A ideia surgiu em uma viagem ao Rio de Janeiro. Ao ver as pessoas disputarem uma partida na praia de Copacabana, o jornalista resolveu criar algo parecido por aqui. O objetivo deu tão certo que a competição teve 42 edições consecutivas e tinha uma organização impecável, de dar inveja para torneios profissionais. Cada jogador tinha sua carteirinha de inscrição e existia até um tribunal exclusivo para o Peladão.
Atletas profissionais foram revelados ali, como Dirceuzinho, que chegou à seleção brasileira, e Thiago Neves, meia que se destacou no Paraná. Treinadores também iniciaram nos campos de várzea a carreira. Um deles foi Ivo Petri. O técnico foi tetracampeão do Peladão com o Vila Sofia, entre 2000 e 2003. Atualmente, comanda o Internacional de Campo Largo, na Taça Paraná e foi campeão da suburbana com o Trieste no ano passado. “O Peladão abriu as portas para que eu pudesse chegar à suburbana”, disse ele.
Com o passar do tempo, apesar da importância da competição, o número de equipes inscritas diminuiu. Mesmo assim, cerca de 200 times participavam do Peladão. Comel conseguiu superar a urbanização e a falta de campos para manter a tradição. “O crescimento da cidade absorveu os campos de várzea, mas ele sempre manteve vivo o Peladão. A premiação era memorável. Ele dava trofeu para todo mundo, era sensacional. Ele era um apaixonado pelo futebol e deu tudo de si em favor do esporte”, elogiou Paulo Pimentel.
O torneio teve sua última edição em 2012, quando Comel já começou a ter problemas de saúde. “Era um trator para trabalhar, só deixou de fazer o Pelad&at,ilde;o quando a saúde começou a ficar debilitada. E ninguém jamais terá a competência e a força que ele teve para fazer o Peladão. É uma perda irreparável”, lembrou Vadico.
“Ele foi muito importante para o esporte amador. O esporte deve muito ao Comel. Ele sempre incentivou o vôlei e o handebol nas escolas”, afirmou Petri.