São Paulo – Aos 33 anos, Marcelo Negrão tomou uma decisão que só previa daqui a dois anos: deixa as quadras de vôlei nas quais se consagrou na década de 90. Foi para o vôlei de praia. Poucos sabem, mas o veterano, ícone da geração que conquistou o primeiro ouro olímpico com a seleção brasileira em Barcelona/92, está de volta às suas origens.
Negrão começou jogando vôlei nas praias do Recife, dos dez aos 13 anos. Despontou logo cedo para o vôlei de quadra e poucos anos depois foi chamado para a seleção brasileira. Aos 19 virou o ícone da primeira geração de ouro, ao marcar o último ponto da final olímpica, contra a Holanda, em Barcelona.
?Não é uma coisa do outro mundo para mim. Sempre que estava de férias jogava na praia com caras como o Moreira e o Garrido (ex-campeões brasileiros de vôlei de praia). Muitas coisas são diferentes, mas acho que estou no melhor momento para tentar fazer essa mudança?, diz Negrão, que segue na procura por patrocinadores.
Até o momento, o jogador tem dois apoios: o da marca esportiva Rainha e o da Prefeitura do Guarujá, que cedeu espaço para que Negrão treine e realize um trabalho social com crianças na praia. ?Há duas semanas fechei com eles, que estão me dando um apoio incrível. Quero fazer no Guarujá o mesmo que o Banespa faz aqui em São Paulo. Quero que garotos do País todo possam ser revelados lá.?
Treinar como atleta de alto rendimento na praia não está sendo fácil para o experiente jogador.
?Os dedões dos pés estão com bolhas. É engraçado. A minha vida toda acostumei jogar com joelheira, tênis, vestiário, grupo, ginásio, comissão técnica… Agora me vejo jogando só de calção, com boné, óculos, os pés tostando e um monte de gente pelada assistindo e tenho de levar tudo isso a sério!?, conta, bem-humorado.
Na quadra, as portas ainda estavam abertas a Marcelo, que teve propostas do Banespa, Wizard/Campinas e da Turquia. Começou a pensar a mudar para a praia para cuidar da mulher, Ísis, e do filho, Gabriel, de 1,4 ano. ?Na Itália era muito frio. Ele não tinha crianças com quem brincar e não podia sair de casa. Acabou até emagrecendo e eu vi que já não estava fazendo bem para ele. Além disso, se eu deixasse a quadra só com 35 anos seria ainda mais difícil começar uma atividade na praia.?
A saudade do vôlei de quadra ainda não bateu em Negrão. ?Foram 20 anos de viagem e correria. Agora estou curtindo a vida. Nem acompanhar a seleção brasileira eu acompanho, não sei quem são todos os jogadores. Vejo um jogo ou outro.?