Um dos mais tradicionais clubes do Nordeste, o Náutico iniciou a temporada em meio ao cenário de terra arrasada após colecionar fracassos regionais, ser rebaixado à Série C do Campeonato Brasileiro e ganhar fama de mau pagador. O rendimento em 2018, no entanto, tem contrariado qualquer prognóstico. Sob nova direção e com política de contenção de gastos, chegou à final do Campeonato Pernambucano e pode sair de uma fila de 14 anos sem títulos. Pela frente, terá o Central, de Caruaru, que pela primeira vez em 99 anos de história decide um Estadual.
O presidente do Náutico, Edno Melo, assumiu o cargo em janeiro com discurso de “reconstruir” e “pacificar” o clube. Outra bandeira da sua gestão é o retorno ao estádio dos Aflitos, onde planeja voltar a mandar os jogos a partir de maio. Para a temporada, manteve o treinador Roberto Fernandes e promoveu corte de cerca de 80% da folha salarial, para poder pagar em dia. Segundo o técnico, o orçamento girava em torno de R$ 900 mil por mês no primeiro semestre de 2017. Neste ano, o é de R$ 180 mil mensais – seu menor valor histórico.
Entre 2007 e 2013, o Náutico teve presença habitual na Série A, com folhas acima de R$ 1 milhão. Jogando a Série B, bateu na trave duas vezes em 2015 e 2016, quando não subiu por uma vitória apenas. Acabou rebaixado no ano passado. Passou a maior parte do campeonato na lanterna, onde terminou.
“A gente tinha de cair em uma realidade de ajustes. Quando o clube conquista um acesso, nada mais natural que os atletas se valorizem. Então, no descenso, é justo que haja reajuste”, disse Roberto Fernandes ao Estado. Ele também teve de aceitar reduzir o próprio salário para permanecer no comando do time.
A situação financeira trouxe dificuldades para renovar alguns contratos. Parte dos atletas optou por deixar o Náutico e ir para clubes de divisões inferiores, como Cianorte (PR), Madureira (RJ) ou Aparecidense (GO). Dos jogadores que encerraram 2017 e não eram formados pelo clube, ficaram quatro – dois deles em tratamento de lesões graves. Atualmente, há 15 garotos da base sendo aproveitados no elenco. Três são titulares com frequência: o goleiro Bruno, o lateral-esquerdo Kevyn e o atacante Robinho.
Contratar também foi difícil. Inicialmente, a equipe acabou formada por jovens desconhecidos e atletas que já tinham passagem sem grande destaque por Pernambuco. “Com o orçamento muito baixo, tivemos de fugir um pouco do perfil que o torcedor do Náutico estava acostumado a ver”, afirmou Fernandes. “O critério técnico sempre foi a prioridade, mas tivemos de optar por um time mais guerreiro, mais competitivo.”
Em campo, o Náutico tem adotado postura retraída que explora a velocidade dos pontas. Joga no erro do rival, estratégia que vem sendo eficiente. Na Copa do Brasil, conseguiu avançar para a quarta fase e, agora, enfrenta a Ponte Preta.
Com parte dos R$ 4,3 milhões de premiação por ir avançando no torneio nacional (mais de 50% fica com a Justiça do Trabalho), investiu nas duas maiores contratações do ano: o atacante paraguaio Ortigoza, com passagem pelo Palmeiras, e o volante Wendel, que participou da Tríplice Coroa do Cruzeiro em 2003. “São dois jogadores que agregam qualidade técnica, experiência e profissionalismo. O grupo é muito jovem, esses caras ajudam a manter o foco”, comentou o treinador.
O Náutico terminou a primeira fase do Pernambucano na liderança, com o ataque mais eficiente: 17 gols. Perdeu uma vez em dez jogos – justamente para o Central, por 3 a 0. Depois eliminou Afogados (1 a 0) e Salgueiro (3 a 2) até chegar à final.
As partidas decisivas contra o Central serão domingo e em 8 de abril. Primeiro no Lacerdão, em Caruaru, e depois na Arena Pernambuco, na região metropolitana do Recife. O Náutico tem 21 títulos estaduais.