Há 10 meses, a paranaense Natália Falavigna, nascida em Maringá e radicada desde a infância em Londrina, viveu um sonho. A conquista do título mundial até 72 quilos na Espanha, a primeira de um brasileiro na história do tae-kwondo, começou a jogar luzes sobre um esporte de pouquíssima tradição no País.
Mas, aos poucos, a atleta de 21 anos voltou à rotina já conhecida da falta de um calendário regular, patrocínios e a possibilidade de desenvolver a promissora carreira no exterior. Depois que derrotou a inglesa Sarah Stevenson na final em Madri, Natália só subiria novamente no ?dojan? (tatame) em outubro, defendendo Campinas nos Jogos Abertos do Interior, em Botucatu (São Paulo).
A sorte começou a mudar em dezembro. Indicada inicialmente por especialistas e depois eleita pela maioria dos internautas, Natália conquistou de forma surpreendente o Prêmio Brasil Olímpico, uma espécie de Oscar do esporte nacional. Superou as demais finalistas, Daiane dos Santos e Laís Souza, responsáveis pelo crescimento da ginástica olímpica no Brasil. Na noite da consagração, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, acenou com uma oferta de ajuda. ?Se você precisar de qualquer coisa, me procure?, afirmou o dirigente.
Tímida por natureza, Natália ficou alguns dias com a dúvida martelando na cabeça. Mas, antes mesmo dos feriados de Natal e Ano-Novo, se encheu de coragem e ligou para o cartola, propondo uma reunião no Rio de Janeiro. Em janeiro, Natália deixou a sede da entidade, com vista para a Baía da Guanabara, o Aeroporto Santos Dumont e, em dias claros, até as cidades serranas de Petrópolis e Teresópolis, com a certeza de uma temporada movimentada. Nuzman garantiu sua presença no US Open, na Copa do Mundo da Tailândia, no Mundial Universitário e no Campeonato Pan-americano, graças ao aumento das verbas para a Confederação Brasileira de Taekwondo.
A boa-nova transformou a vida de Natália. ?Essa ajuda é fundamental, porque só mesmo lutando lá fora é que conseguirei me preparar adequadamente para os Jogos Pan-americanos de 2007 e as Olimpíadas da China em 2008?, agradeceu. Até então, ela só contava com apoio da Bombril, que a adotou no programa ?Mulheres que fazem o Brasil brilhar?, e mais recentemente da Prefeitura de São Caetano, cidade que passa a representar em competições intermunicipais em São Paulo desde que trocou Campinas por Londrina. ?A Bombril foi a única empresa que me procurou depois do meu quarto lugar nas Olimpíadas de 2004. Sou muito grata a ela. A bolsa que recebo me ajuda nas despesas pessoais, mas é insuficiente para fazer frente aos altos custos das viagens internacionais?, ressalva.
Neste mês, Natália encerrou definitivamente um período de sombras. Na fase mais aguda da incerteza sobre o futuro, chegou a ultrapassar o limite de 72 quilos imposto por sua categoria. Com disposição renovada, mergulhou nos treinamentos, baixou seu peso para 69 quilos e, com a silhueta bem mais esbelta, chegou à decisão do US Open em Dallas. No reencontro com Sarah Ferguson, perdeu pela diferença mínima de 4 a 3. ?Senti a falta de ritmo e não aproveitei os erros que ela cometeu. Mas foi muito bom estar de volta e olhar de perto as adversárias que encontrarei no Rio de Janeiro no ano que vem e em Pequim em 2008.?
Natália regressou dos Estados Unidos com outra boa notícia na bagagem. A possível convocação para a seleção brasileira que disputará os abertos da Holanda e da Bélgica em março. A confirmação veio no fim desta semana, junto com a informação de que terá de se apresentar em Belo Horizonte no dia 5 para uma fase de treinamentos antes da viagem à Europa. ?Pelo que senti em Dallas, esses torneios terão um nível ainda mais elevado que o dos EUA?, comemora.
Com o sorriso agora permanentemente iluminando o belo rosto, Natália sente que está no caminho certo. ?Todas essas competições são válidas, mas não se pode perder o foco. Os resultados agora nem contam muito. O que vale mesmo é chegar bem preparada para o Pan 2007 e as Olimpíadas da China. Não quero e nem gosto de prometer nada, mas sei que posso sonhar com o pódio no Rio e em Pequim.?