O nadador Thiago Pereira, de 18 anos, prefere não falar em medalha na Olimpíada de Atenas. Nem mesmo depois de obter a segunda melhor marca do ano e a quinta melhor de todos os tempos nos 200 metros, medley: 1min59s48. Thiago, que estabeleceu o novo recorde sul-americano na semana passada, no evento teste da piscina olímpica de Atenas, foi também o primeiro brasileiro a nadar a prova abaixo dos 2 minutos, em maio, com 1min59s92. O melhor tempo do ano é do fenômeno norte-americano Michael Phelps (1min55s94). O australiano Rogan Markus tem a terceira melhor marca: 1min59s79.
Thiago não se sente com a responsabilidade de pódio em Atenas. “Quero estar entre os oito finalistas nos 200 m, medley.” O nadador passou o mês de junho na Europa, com a equipe olímpica brasileira. Treinou na altitude de Sierra Nevada (ESP) por três semanas, ganhou os 400 m, medley, no Torneio de Canet (FRA) e obteve a segunda marca do ano e a medalha de ouro nos 200 m, medley, no teste em Atenas.
O técnico de Thiago, o cubano Omar Gonzales, que vive no Brasil há 12 anos, conta que o atleta tem acompanhamento psicológico e vem sendo aconselhado a pensar na carreira sem atropelos e promessas. “É bom nadador, tem talento e, provavelmente, futuro, mas não tem de se cobrar nem pode receber cobranças. Na Olimpíada, o nadador enfrenta eliminatórias, semifinal e final. É um grande desgaste, com enorme pressão psicológica. É uma competição difícil, em que tudo pode ocorrer.” “Vou chegar lá e nadar forte. O que der, deu”, afirma Thiago, um menino de poucas palavras, que se considera tranqüilo, mas não tímido, a respeito de Atenas.
Treinará em Belo Horizonte até a viagem, dia 1.º de agosto, para a aclimatação no centro de treinamento de Rio Maior em Portugal. Os brasileiros chegam a Atenas no dia 8.
Em maio, no Troféu Brasil, Thiago fez história ao quebrar o recorde sul-americano dos 400 m, medley, com 4min17s62. Bateu a marca de Ricardo Prado, mais velha do que ele que completaria 20 anos em julho. O tempo de 4min18s45 deu a Prado a prata na Olimpíada de Los Angeles, em 1984. Thiago nunca viu Prado nadar nem recebeu conselhos do veterano. “Só me desejou boa sorte.”
Thiago, de 1,86 m e 77 quilos, aprendeu a andar e a nadar quase ao mesmo tempo. Com 1 ano e meio, foi matriculado em uma escolinha de natação de Volta Redonda, onde nasceu. Aos 12 anos, passou a treinar no Clube dos Funcionários da Companhia Siderúrgica Nacional e está no Minas Tênis desde 2002. No começo de 2004, com a saída do técnico Mirco Cevales do clube, Thiago pensou em ir treinar nos EUA. No fim, achou que seria complicado mudar de país em temporada olímpica e ficou em Belo Horizonte.