São Paulo – A maior surpresa dos últimos anos no mercado de pilotos da Fórmula 1 veio à tona ontem. A McLaren anunciou a contratação de Fernando Alonso para 2007. Atual campeão do mundo, o espanhol disputa, no ano que vem, sua última temporada pela Renault, equipe que defende como titular desde 2003.
É um movimento que mexe drasticamente no tabuleiro da categoria. E que já provocou um ?tsunami? de especulações e teses para o futuro próximo. Afinal, a McLaren tem uma dupla fortíssima, com Kimi Raikkonen e Juan Pablo Montoya, e pelo menos um deles sairá no final do próximo campeonato.
Ou os dois. Para colocar gasolina na fogueira da boataria, um alto dirigente do time disse ontem que Lewis Hamilton, piloto negro que a McLaren sustenta junto com a Mercedes, estará na F-1 em 2007. Hamilton ganhou o europeu de F-3 este ano e contabiliza, na categoria, 15 vitórias em 20 corridas. Em 2006, correrá na GP2. Seu caso, porém, parece mais claro: pelos planos traçados para sua carreira, em 2007 ele seria mesmo piloto de testes.
Uma das teses elaboradas a partir da troca de endereço de Alonso envolve diretamente a Renault. Há quem aposte que no fim do ano que vem a montadora francesa vai anunciar sua retirada da F-1, como fizera em 1997, ainda na condição de fornecedora de motores, depois de seis títulos consecutivos. Por isso Fernando foi liberado sem grandes esforços para mantê-lo.
A outra diz respeito a Michael Schumacher. Alonso ocuparia o lugar de Kimi Raikkonen, que já teria fechado com a Ferrari para 2007, primeiro ano de uma possível aposentadoria do alemão, cujo contrato com Maranello se encerra daqui a 12 meses. Mas Michael teria ainda uma sobrevida, no mínimo, divertida: encerraria a carreira na Red Bull, equipe marqueteira que usa motores Ferrari e que já contratou o projetista Adrian Newey, ex-McLaren. O empresário de Schumacher, Willi Weber, confirmou semana passada que a fábrica de bebidas energéticas andou sondando o piloto.
A McLaren fechara, na semana passada, um longo acordo de patrocínio com a operadora de telefonia celular Vodafone. Também esse contrato passa a vigorar em 2007. A Vodafone é hoje patrocinadora da Ferrari. ?Queremos ser os melhores, e e a única forma de conseguir isso é atraindo os melhores técnicos, os melhores pilotos e os melhores patrocinadores?, discursou Ron Dennis, chefe do time.
O dirigente disse que já está conversando com Raikkonen e Montoya para decidir seus destinos a partir de 2007 e explicou que o anúncio da contratação de Alonso foi feito com grande antecedência para ?evitar especulações e para que todos possam se concentrar em seus objetivos no ano que vem?.
Por fim, Dennis esclareceu os da McLaren: ?Queremos ter dois campeões mundiais correndo em 2007?. Um será Alonso. Portanto, que Kimi e Juan Pablo se engalfinhem pela taça na próxima temporada.
Fernando busca ?novos desafios?
São Paulo – O mais jovem campeão de F-1 de todos os tempos já parece enfadado. Por isso, busca o que chama de ?novos desafios? para a carreira. ?Eu satisfiz todas as minhas ambições na Renault neste ano, tudo que sempre desejei para uma vida inteira. Por isso vou atrás de algo novo, que é tentar fazer a mesma coisa numa outra equipe?, falou o espanhol de 24 anos.
O asturiano garantiu que, embora já tenha assinado com a McLaren, vai se concentrar em defender o título em 2006. ?Farei isso com todas as minhas forças. A Renault me trouxe para a F-1, me deu a primeira pole, a primeira vitória e o primeiro título. Devo muito a ela e vou trabalhar para ser campeão de novo.?
Sobre o novo time, foi só elogios. ?Fazer parte de uma equipe que tem tanto desejo de sucesso e paixão pelo que faz é um sonho para qualquer piloto. Vai ser um novo começo para mim. Fico triste por sair da Renault, mas algumas vezes na vida surgem possibilidades que são simplesmente boas demais para deixar passar.?
?Faz parte da vida?, diz Renault
São Paulo – Foi com certa resignação que a Renault recebeu a notícia de que seu menino prodígio estava mudando de ares. ?Essas situações ?fazem parte da vida?, disse Patrick Faure, que preside as operações da empresa na categoria.
?Ao final de 2006, Fernando terá passado cinco anos conosco. Conseguimos muitas coisas juntos, sucessos históricos. Fico chateado, mas entendo que novos desafios são essenciais para qualquer esportista?, falou o dirigente.
Ninguém na Renault fala abertamente sobre o futuro da equipe a partir de 2007. Carlos Ghosn, presidente brasileiro da montadora (egresso da Nissan, que é de propriedade dos franceses), esteve em Magny-Cours neste ano para ver de perto seu primeiro GP e disse, na ocasião, que enquanto os resultados fossem positivos, a Renault iria ficar na F-1. Não se sabe se a medida dos resultados de que fala Ghosn é traduzida em taças e troféus, ou em euros e dólares da venda de seus carros de rua. O fato é que a Renault já deixou a F-1 uma vez, e por cima da carne seca, quando resolveu sair após seis títulos seguidos fazendo motores para Williams e Benetton. Isso aconteceu no final de 1997.
